A revista Época trouxe reportagem que tem uma face obscura, e até chamada de capa: “Mensalão: As Musas da CPI, agora sem roupa”. O tema pede reflexões. Nos últimos quatro meses, o país viveu a mais profunda e desconcertante crise institucional de sua história. Permeando-a, um festival de neologismos que têm seu lado de deboche e outro tanto de tragédia: atos de ilegalidade, desmoralização e fraudes eleitorais que motivaram renúncias, cassação de mandatos e até desculpas do Presidente da República são identificados com palavras toscas como “mensalão”, “mensalinho” e “mensaleiros”. Diante do país, a devassidão exposta, as vísceras mais odientas da descompostura, abertas pra todo mundo ver.
Homens de suspeita reputação se fizeram, de repente, compungidos, encenando indignação e repúdio. Em meio aos corredores de lodo, autoridades davam urras a testemunhas e depoentes femininas. A primeira delas, imaginando-se um “vendaval Karina”, na verdade Fernanda Karina Somaggio, ex-secretária de Marcos Valério, mais preocupada com a fama e em faturar algum dinheiro, pediu logo dois milhões pra aparecer nua numa revista. Teve as pretensões frustradas por outras “celebridades” das CPIs e, mormente, porque a Folha de S. Paulo mostrou-a em primeira página, ruiva contra o fundo laranja, pálida figura maquilada com mau gosto, vestindo um sutiã de oncinha e sorrindo insinuante cafonice para a câmera. Na certa, uma criatura de Pedro Almodóvar, pensei! A foto teve um mérito: mais que dotes físicos, revelava-lhe o caráter. Viu-se que nem a massa-corrida, tampouco os retoques de computador resolveriam a situação de Karina. Nem com reza brava se confirmaria o que disse estes dias a atriz Christiane Torloni: “uma revista publicou fotos minhas tão retocadas que dariam um processo por propaganda enganosa”.
Sob holofotes, Diana Buani desfilaria em requebros morenos como um furacão. O dono de restaurante, que denunciou severinas falcatruas, defendeu que Claudiana, ou a caçadora Diana, sua cobiçada mulher, seria a verdadeira musa das Comissões Parlamentares de Inquérito. Pouco durou o frisson. Das cortinas dessa comédia surgiria outra ex-secretária, a curvilínea Camilla Amaral. Por 300 mangos “quebrou seu próprio sigilo” e já aparece nos ordinários “ensaios fotográficos” de revista masculina. Em meio à degradação oficial, Camilla entra, em definitivo, para o singular mundo que singulares indivíduos chamam de “artístico”. Independente de senadoras e deputadas guerreiras e que honram o país, eis o retrato do Congresso Nacional e ao que reduzem a dignidade das mulheres. Em meio ao cabritismo escroto, o deboche, a sacanagem, o reality show carnavalizado e machista de um navio chamado Brasília. Que, em ondas, afunda na planície.