Temos impressão de que os dirigentes do país incorporam um teatro do prazer, invertem códigos, exibem atos relacionados aos instintos, ao riso e à depravação, enfim, carnavalizam as instituições pelas quais têm o dever de zelar. Dos baixos aos elevados escalões, oscilam entre o público e o privado, a lei e a transigência, o oficial e o oficioso.

Ano passado, constrangida, a nação assistiu ao supremo vexame da República. A falta de pejo e impudor galgaram livremente as alturas do poder, refestelaram-se nos sofás mais estofados. Impressionante a avidez com que o partido do governo usou e se lambuzou da baixeza. Vimos, em holofotes, a farsa do gagsterismo político, o Congresso Nacional transformado em picadeiro de obscuras enguias, a mafiosa venalidade gargalhando da nação espoliada. Tudo, no palco do cinismo e impunidade.

Em junho, ao mesmo tempo em que pedia desculpas, nosso mais alto mandatário promovia o “Arraiá do Torto”, festança apetrechada com fantasias de Jeca. Entre negativas de que soubesse do lodo a seu redor, asneiras verbais e gafes públicas, o presidente fechou o ano vestindo uma risonha touca de Papai Noel e se proclamando “o pai dos pobres”. Merry Christmas, indiaiada!

É ou não é danada usurpação, gandaia vil, dionisíaca e melancólica? É ou não é imagem ultrajante de um país que, num lado, descortina o horizonte da miséria; noutro, os pilares da pátria, momos, patéticos e prevaricadores? Enquanto saúvas marcham em seus eitos, saudamos, enternecidos, a entrada do ano bom.