Nunca tive simpatia pelos Estados Unidos, não fui lá e nem quero estar nesse lugar. As belezas que têm – e não são poucas – desaparecem na fumaça de mágoas que espalham pelo mundo. Vivi e cresci escutando testemunhos sobre essa nação a fomentar discórdias, guerreando e lançando o fogo de leste a oeste, e incrementando com moeda suja o auxílio a atos escabrosos, a golpes de estado e ditaduras, instituindo censuras e perseguições à livre expressão do pensamento em seu país e no país dos outros, escravizando, imolando e aniquilando indígenas, afro-americanos e minorias em geral. No tempo que me foi dado viver, não vi povo que mais atentou contra seus próprios governantes; não vi nação que mais apoiasse a opressão a outros povos do mundo. A democracia que professam é proporcional à tirania que impõem pela força das botas e do dinheiro, nos confins da terra. E, no entanto, ficamos calados.
Essa é a nação que executa seus presos com injeções letais, câmaras de gás e cadeiras elétricas, em desprezo às leis da vida, da ética e civilização. No entanto, os doutores universais do direito e dos valores cristãos, e todos nós, nos omitimos calados. Essa é a nação que, sob o manto da moral, condena crianças a penas brutais, por terem feito o carinho inocente ao colega de escola. Esse é o povo que lançou a covardia em forma de bomba em Hiroshima e Nagasaki, e varreu do mundo centenas de milhares de inocentes, e condenou outro tanto à herança do câncer... E ficamos calados. Esse é o povo que, nos últimos decênios, cometeu a quintessência da maldade, praticou a infâmia e crueldade de todas as guerras, invasões, morticínios, enfim tudo o que se lhe fizesse abrir os portais da indignação e do inferno. Tenho visto a empáfia capitalista dessa gente impondo embargos a governos e condenando populações à inanição pela fome; tenho visto órgãos sob sua indústria incrementando leis tarifárias, ditando normas institucionais, quebrando a soberania dos povos e extorquindo riquezas às custas do padecimento em várias partes do mundo, inclusive em meu país. No entanto, passivos e conformados, subservientes ficamos calados.
Pensava que já tinha visto o pior de um espírito coletivo enfermo e espezinhador, e de governantes de estatura tacanha, ignorante e vil. Assistimos há pouco à mais mórbida das guerras, se é que lançar destruição a um povo desarmado, com mísseis eletrônicos, químicos e nucleares, seja mesmo guerra. Exigiram a deposição de um ditador por julgar que este possuía armas poderosas. E dizimaram cidades com próprias bombas, incomparavelmente mais destrutivas e letais. Arrancaram-no do buraco e expõem-lhe a cabeça, como lampião de feira. Quem é o tirano, Saddam satanizado por Bush, ou esse caubói histrião chamado Bush? Após o apoio financeiro e armado a ditaduras sanguinárias, após o Vietnã, após a semente de ódio e guerras militares e paramilitares ao socialismo, após a Guerra do Golfo, invasões à Somália, Kosovo e Afeganistão, Bush, o eleito, ameaça em forma de declaração que alguns outros países representam “eixos do mal”. Quem se qualifica como “eixos do mal”, tais nações e seus governos, ou o próprio Bush com seus olhos simiescos? Porém, contritos, ficamos calados.
Bush, que antes se elegera por meio da fraude, e agora se reelege, expõe sua ganância de dominar o mundo e “educar” selvagens do planeta. Pratica o terror e o terrorismo, a despeito das conquistas civilizatórias e da ética entre os povos. Informa com todas as espoletas que detém a prerrogativa de subjugar, invadir e legislar sobre o destino do mundo. Submissos, ficamos calados. Esta é a cara temerosa do nazismo moderno, que soergueu e fermentou embriões nos Estados Unidos da América, galopa no coração desse Império e na mentalidade estreita de seu povo. Temerosos e obedientes, ficamos calados.
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