“Sou teen, véio, e daí? Arrimo de família, bolsa escola? Ninguém merece, fala sério!” Na frase, nada que alembre a legião de jovens que campeia ao deus-dará, sujeita à seleção natural entre os sem-tênis e os paupérrimos. Falo é dos teenagers que vivem no oásis fora de série, o recanto em arco-íris, hiato que separa o planeta em dois mundos, e o Brasil em dois brasis.
“Como tem teen?” nas baladas e points – perguntaria o grupo Língua de Trapo numa cantiga de escárnio que, refletidamente, é tributo à nossa culpa. Talvez pelo afã de propiciar o que nunca tivemos, submetemos os teens a um processo de banalização dos valores (implica idiotização), e que pouco se relaciona com os embates e sonhos que tivemos. As indústrias de mercadorias, do ócio e do entretenimento sabem disso, e se mobilizaram pra fisgar o seu quinhão de lucro.
A comédia “Juno”, de Jason Reitman, com vernizes de lirismo, é a história de uma menina que engravida dum colega de classe. Pensa em aborto, põe anúncio no jornal e, de leve, encontra um casal disposto a adotar a criança. Que lindo! Ante a bizarra fábula, escolas bem pagas levam os alunos em excursões aos cinemas, decerto pra que vejam, como num espelho, o estado de risco em que se encontram. Nesse ponto, fecha-se o círculo que entrelaça a indústria cultural, o ensino formal brasileiro e, no fim da picada, pais e filhos. Precisa dizer mais?
É desse modo que se entorpecem os teens. Seus computadores, muito além dos que nos suprem, são incrementados com mais núcleos de memórias, potentes placas de vídeo, telas de LCD e processadores velozes para os jogos eletrônicos e aventuras na web. Propiciamos-lhes incríveis itens de consumo: MP3, 4, iPod, play station e aparelhos celulares que servem até como telefones. Simbolizam o virtual e fictício pós-moderno que instituem como essenciais virtudes do ser o “parecer” e “possuir”.
Sedentários, tem-se a impressão de que os rechonchudos teenagers crescem mais para os lados que na vertical. Refestelam-se com melequentos Mc-lanches-felizes e batatas fritas, petiscos com gorduras saturadas e embalados em sacos alegres com edificantes brindes: bichinhos, cards, decalques, figurinhas e pingentes. Nada que, no futuro, o analista, a academia de ginástica e uma lipo não possam dar um jeito. Sim. Ou, infelizmente, não?
A revista “Pesquisa” 139, da FAPESP, traz interessante artigo sobre o assunto. Informa que a crescente obesidade infanto-juvenil não se relaciona ao estresse, mas à falta de orientação familiar. Expostos a estímulos de marketing, 40% dos teens preferem presentes em dinheiro e eles próprios vão às compras. E concordamos com isso como em compensação à nossa ausência.
Aldo Pontes, em “Infância, cultura e mídia” destaca que os teens são programados para atrelar a aquisição de produtos às sensações de bem-estar como felicidade, gozo, realização pessoal e paz interior. Sucumbidos ao consumo, compram pra que sejam aceitos e escapem da exclusão que vitima os que não podem comprar.
Ser ou não ser, eis a questão do que será – exclamaria um desvairado Hamlet pós-moderno: nós mesmos. |