Poemas árticos

VICENTE HUIDOBRO
Poemas árticos
Trad. de Nina Rizzi


 NADADOR 

Esta noite

            O céu tão negro

Que os cabelos são só fumo

 

Há em meus dedos segredos de alquimia

 

Apertando um botão

Todos os astros se iluminam

 

E você

            que se afasta cantando entre delfins

 

E planetas vivos

 

                        Nadador pensativo

                        De todos os jardins

 

Uma tarde trazia em suas mãos

Centenas de astros anões

 

                        Nadador pensativo

                        Entre a névoa vespertina

 

À noite

            A lua enferma morreu no hospital

Ω

NADADOR

Esa noche

El cielo tan obscuro

Que los cabellos eran sólo humo

 

En mis dedos hay secretos de alquimia

 

Apretando un botón

Todos los astros se iluminan

 

Y tú

que te alejas cantando entre delfines

 

Y planetas vivos

Nadador pensativo

De todos los jardines

 

Una tarde traías en tus manos

Cientos de astros enanos

 

Nadador pensativo

Entre la niebla vesperal

 

Anoche

La luna enferma murió en el hospital


CIGARRO 

            Aquilo que cai das árvores

                        É a noite

 

O mar em mim copo de cachaça

E sobre o mar

                        teu chapéu vertical

 

            PARA ONDE VAI ETERNAMENTE

 

Alguém morreu em teu jardim

 

A andorinha indiferente

Dorme sobre uma corda de violino

 

Eu tive em minhas mãos

                        tudo o que partia

 

E esta lua tão ferida

Indecisa entre o mar e os jardins

 

Perfumando os anos

Uma nuvem montava em meus lábios

 

E meu cigarro

            É a única luz dos confins

Ω

CIGARRO

Aquello que cae de los árboles

Es la noche

 

El mar en mi vaso de aguardiente

Y sobre el mar

tu sombrero vertical

 

A DÓNDE VAS ETERNAMENTE

 

Alguien ha muerto en tu jardín

 

La golondrina indiferente

Duerme sobre una cuerda del violín

 

Yo he tenido en mis manos

todo lo que se iba

 

Y esta luna malherida

Indecisa entre el mar y los jardines

 

Perfumando los años

Una nube montaba de mis labios

 

Y mi cigarro

Es la única luz de los confines


ETERNIDADE 

Palavras pontiagudas no azul do vento

E o enxame que brilha e que não canta

 

            A NOITE EM TUA GARGANTA

 

Será que Deus morre

                        Entre almofadões brancos

Sob a água gasta em suas pálpebras

 

O ar triangular

                        para pegar estrelas

 

E sobre a vegetação nativa daquele mar

 

Buscar tuas pegadas

                        Sem olhar pra trás

Ω

ETERNIDAD

Palabras puntiagudas en el azul del viento

Y el enjambre que brilla y que no canta

 

LA NOCHE EN TU GARGANTA

 

Acaso Dios se muere

Entre almohadones blancos

Bajo el agua gastada de sus párpados

 

El aire triangular

para colgar estrellas

 

Y sobre la verdura nativa de aquel mar

 

Ir buscando tus huellas

Sin mirar hacia atrás


EM MARCHA

 

Cantando se afastavam

                                   sobre o meridiano

 

            EM CADA MÃO UM NINHO

 

O vagabundo cotidiano

percorreu todo o século

 

Dos anos passados

                        Fizeram seus colares

Tão compridos que cruzavam os mares

 

            Iam buscar o primeiro dia

 

A sombra daquela que ficou perdida

Sobre a estrada a encontrei dormindo

 

ADEUS                                              ADEUS

 

Outro planeta ocupa o lugar do sol

Ω

EN MARCHA

Cantando se alejaban

sobre el meridiano

 

EN CADA MANO UN NIDO

 

El vagabundo cuotidiano

Recorrió todo el siglo

 

De los años pasados

Hicieron sus collares

Tan largos que cruzaban los mares

 

Iban buscando el primer día

 

La sombra de aquel que se quedó perdida

Sobre la ruta la encontré dormida

 

ADIÓS                                           ADIÓS

 

Otro planeta ocupa el sitio del sol


BAY RUM 

Em teus cabelos dormiu

Aquela cotovia que voou cantando

 

            QUAL ERA MEU CAMINHO

 

                        Nunca poderei encontrá-lo

 

As cascatas

            Pequenas cabeleiras na costa

 

Suas estrelas resvalam e não brilham

 

O céu despovoado

 

Somente sua cabeleira sideral

Solta sobre a tarde

 

            Aquelas chamas que ardem

                        Oração ou canto

 

Me dá sua mão

 

Vamos                        Vamos

 

Tem um pouco de música no musgo

 

Fugir

            para o último bosque

                                               E à noite

 

Despejar tua cabeleira sobre o mundo

Ω

BAY RUM

En tus cabellos se ha dormido

Aquella alondra que voló cantando

 

CUÁL ERA MI CAMINO

 

Nunca podré encontrarlo

 

La cascadas

Pequeñas cabelleras en la orilla

 

Sus estrellas resbalan y no brillan

 

En el cielo despoblado

 

Tan sólo tu cabellera sideral

Suelta sobre la tarde

 

Aquellas llamas que arden

Oración o cantar

 

Dame tu mano

 

Vamos                                    Vamos

 

Hay un poco de música en el musgo

 

Huir

hacia el último bosque

Y en la noche

 

Vaciar tu cabellera sobre el mundo


WAGON-LIT

 

Caminho de outras constelações

O trem que se desprende dos astros

                        Vai cortando a noite

 

Meus segredos a beira da almofada

 

Esta cela errante

                        atravessa os anos

E contra os muros se romperam minhas asas

 

                                   No ar das mãos

 

Você e eu

 

Nunca mais haverá sol

 

Mas seguiremos a jornada

 

Vales

                        Selvas

                                               Montanhas

 

O inverno

Vem daquele cemitério

Ω

WAGON-LIT

Camino de otras constelaciones

El tren que se desprende de los astros

Va cortando la noche

 

Mis secretos al borde de la almohada

 

Esta celda errante

atraviesa los años

Y contra los muros se rompieron mis alas

 

En el aire dos manos

 

Tú y yo

 

Nunca más habrá sol

 

Mas seguiremos la jornada

 

Valles

Selvas

Montañas

 

El invierno

Viene de aquel cementerio


N.T.: Os poemas acima integram o livro POEMAS ÁRTICOS, escrito em Paris entre 1917 e abril 1918 e publicado em agosto do mesmo ano pela Pueyo de Madrid; este ano será publicada pela Martelo Editorial a tradução integral do volume, juntamente com ECUATORIAL/ EQUATORIAL, em comemoração aos 100 anos das obras.


Vicente Huidobro (Chile, 1893 – 1948). Pai do Criacionismo e um dos autores mais relevantes da poesia hispanoamericana do século XX. Ainda jovem viajou para Paris, onde entrou em contato com as vanguardas artísticas. Estabeleceu amizade com artista como Pablo Picasso, Juan Gris, Pierre Reverdy, entre outros. De seus livros de poemas destacamos: Adán (1916), El espejo de agua (1916), Horizonte cuadrado (1917), Ecuatorial (1918), Poemas árticos (1918), Altazor (1931), Temblor de cielo (1931), Ver y palpar (1941), El ciudadano del olvido (1941) y Últimos poemas (1948).

 

Nina Rizzi. Poeta, tradutora e historiadora. Coedita a revista escamando – poesia tradução crítica [https://escamandro.wordpress.com/], e escreve no quandos [http://ninaarizzi.blogspot.com.br]


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