Monólogo final

MARIA JOSÉ CAMECELHA


Participação no 4º Encontro triploV. Casa das Monjas Dominicanas, Lisboa. Novembro 4 2017


Tão próximos, o Infinitesimal e o Infinito.

E, de súbito, eu soube que ambos eram os dois fins  do mesmo conceito. O  incrivelmente pequeno  e o  incrivelmente grande  encontram-se : são o fecho de um círculo gigantesco. Olhei para cima e, de alguma forma, entendi os céus.  Universo  de incontáveis mundos,  tapeçaria de prata que Deus desenrola  durante a noite.

E  conheci a resposta ao enigma do infinito. Reflecti na  dimensão limitada  do homem,  e na natureza.  A existência começa e acaba na concepção do homem, e não na criação. E senti  o meu corpo a diminuir,  a liquefazer-se , a tornar-se  nada. Os meus medos derreteram-se  e foram  substituídos pela aceitação. Toda  a  majestade da criação tinha de  significar algo. E então eu quis dizer também qualquer coisa. Sim, mais pequeno do que o mínimo, também quis dizer algo.

Para Deus, não há zero. Ainda existo.

 


Maria José Camecelha (Portugal). Atriz. Foi Assessora no Departamento de Prospectiva e Planeamento e Relações Internacionais (DPP) e na Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT). Mestre em História Cultural e Política pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa (FCSH-UNL) desenvolve actividade profissional no âmbito das Políticas Públicas e projectos probono em áreas de ensaio, fotografia, dramaturgia e produção.


© Revista Triplov  .  Série Gótica .  Inverno 2017