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ROLANDA MARIA ALBUQUERQUE
José da Silva e Castro
(1842-1928)
Percurso de uma investigação
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Texto da Comunicação
apresentada no II CONGRESSO PORTUGUÊS DE
MALACOLOGIA
Lisboa, 23-24 Novembro 2007 |
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As minhas saudações.
Quando o Dr. Gonçalo Calado, nosso Colega e
organizador desta reunião, me convidou para
tomar parte activa neste Congresso declinei
de imediato o convite. Tinha-me inscrito e
tencionava assistir para tomar conhecimento
dos assuntos que seriam tratados e
cumprimentar e conviver um pouco com
Colegas, alguns conhecidos de há várias
décadas.Numa segunda tentativa do Dr.
Calado, invoquei reais razões pessoais e
falta de tempo para preparar uma
apresentação que tivesse algo de novo que
merecesse ser dado a conhecer, pois entendo
que deve ser essa a finalidade de uma
reunião de pessoas interessadas num mesmo
tema – no nosso caso a Malacologia nas suas
numerosas vertentes.
Foi-me respondido que não seria preciso
apresentar novidades, bastaria falar sobre o
trabalho de que me estava ocupando, o que
seria de interesse pelo menos para os mais
novos.
Depois de esgotar todos os argumentos –
assenti em falar sobre um trabalho que
gostei muito de fazer, se arrastou por
alguns anos e durante os últimos meses me
ocupou longas horas.
Falando, pois, das minhas presentes
actividades no campo da Malacologia, posso
dizer que um projecto antigo, cuja ideia me
surgiu há quase duas décadas continua
lentamente a tomar forma. Esse projecto
consistia – consiste – em preparar um Atlas
actualizado das espécies de moluscos "Testáceos
Não Marinhos de Portugal Continental e Ilhas
Berlengas". É um projecto ambicioso e de
início não fazia ideia dos numerosos
desafios que iria encontrar e que
praticamente surgiam todos os dias. E ainda
precisa de algum tempo para que o considere
pronto para publicação.
Mas foi justamente este Projecto do Atlas
que deu origem ao trabalho que referi e está
em processo de publicação. Julguei que o
podia mostrar, pronto, neste congresso, mas
não foi possível.
Sobre o Atlas.
Em 1998 já tinha uma versão preliminar, que
levei a Washington aquando do Congresso da
Unitas Malacologica. Mostrei, discuti vários
assuntos com colegas de outros países e
colhi, além de sugestões, bastantes
ensinamentos. De regresso, comecei a tratar
de uma nova versão e a procurar orçamentos e
possibilidades de publicação.
Esta última parte foi terrivelmente
frustrante: a publicação era extremamente
dispendiosa e não se adivinhava mercado
suficiente para cobrir as despesas. Não me
desinteressei do assunto. Continuei a
tratá-lo como se fosse um objecto de
estimação, burilando, aperfeiçoando,
acrescentando mais dados e bibliografia,
etc.
Como logicamente se podia dividir o
projecto em três partes, comecei a
considerar cada uma em separado. Até que um
dia, acidentalmente, alguém se interessou
pela publicação da primeira parte, pois os
fundos não davam para mais.
Assim, foi publicada uma primeira parte
em 2004 e seguir-se-ão as outras duas que
estão sendo ultimadas ao mesmo tempo. Na
melhor das hipóteses, começarão a ser
publicadas no próximo ano.
Perdeu-se o ambicioso projecto de um
Atlas num só volume – mas não se perdeu o
propósito inicial. Um Atlas não é uma obra
por onde começar, é uma obra que deve coroar
os esforços de pesquisa, observação e estudo
necessários para a sua realização, e espero
ainda vê-la concluída.
O facto que originou a ideia de um Atlas foi
o trabalho desenvolvido entre 1990 e 1994,
no âmbito de um Projecto financiado pela
JNICT e de que fui responsável científica. O
tema era "Moluscos de interesse
agro-pecuário da região do Alentejo". Este
projecto foi-me sugerido por alunos do curso
de Engenharia Zootécnica da Universidade de
Évora, que ao tempo estavam realizando o seu
trabalho de estágio curricular no Centro de
Genética e Biologia Molecular, onde eu
trabalhava.
O interesse agro-pecuário dizia respeito
não só às espécies terrestres que, embora
possam causar grandes estragos em culturas,
podem ser usados como alimento e ser fonte
de rendimento, mas também às espécies de
água doce que são hospedeiros intermediários
de agentes causadores de doenças graves
tanto em animais como nos humanos.
Os futuros engenheiros zootécnicos
estavam principalmente interessados na
cultura de caracóis, ou melhor do nosso
maior caracol terrestre – o Helix aspersa,
vulgarmente conhecido como caracoleta. Nessa
altura havia uma grande procura desta
espécie para exportação e o negócio
afigurava-se rentável. Durante mais de duas
décadas mantive no Centro de Genética
culturas laboratoriais de Helix aspersa com
fins genéticos. A técnica de cultura usada
provou ser, com alguns ajustes, aplicável a
outras espécies, tanto nacionais como
estrangeiras.
Para realização responsável do projecto da
JNICT tive de me documentar sobre os
caracóis não marinhos portugueses.
Devo dizer que, embora de interesse
económico pelos prejuízos causados à
agricultura, não foram incluídos os
Gastrópodes desnudos – as lesmas. Devido aos
seus hábitos nocturnos e necessidades quanto
a humidade ambiente, são difíceis de colher
e a duração do projecto impedia o seu estudo
em tempo útil, tanto mais quanto se viviam
anos de grande seca.
Sobre Colecções de Gastrópodes terrestres.
Como estava dizendo, para levar a bom fim o
citado projecto, tive que consultar numerosa
bibliografia e estudar as colecções de
Gastrópodes portugueses depositadas nos
Museus de Zoologia das Universidades de
Lisboa, Coimbra e Porto. Nestes Museus estão
representados principalmente Gastrópodes
testáceos; quanto aos desnudos, o maior
número de amostras encontra-se no Museu
Bocage, em Lisboa; há muito poucas em
Coimbra e nenhuma no Porto.
Conquanto as colecções dos Museus de Coimbra
e de Lisboa estivessem organizadas e com
inventários total ou parcialmente
publicados, as colecções do Porto não
constavam de nenhuma publicação nem estavam
inventariadas.
A Colecção de Coimbra é a mais antiga e o
seu inventário consta de três artigos,
publicados entre 1936 e 1945. Depois desta
data pouco material deu entrada no Museu e
actualmente a Colecção encontra-se em
informatização. No fim do ano passado, a
naturalista responsável pelas colecções do
Museu, Dr.ª Isabel Carreira, aposentou-se,
mas não sem deixar a Colecção Portugal, de
moluscos marinhos e não marinhos,
devidamente organizada e acondicionada em
caixas e outros contentores apropriados,
ordenadamente dispostos em armários
metálicos adquiridos para este fim (Figura).
A Colecção de Lisboa é mais recente. Foi
quase totalmente reunida depois do incêndio
que destruiu, em 1978, grande parte do
edifício da Faculdade de Ciências onde está
situado o Museu. Salvaram-se as poucas
amostras que estavam no gabinete da
naturalista Dr.ª Madalena Seixas, que não
foi muito afectado. Foi publicado um
inventário em 1992, e actualmente há mais
algumas dezenas de amostras de caracóis,
ainda não totalmente estudadas.
Finalmente o Museu do Porto. Conheci este
Museu cerca de 1975 como visitante, pois
tinha ido ao Instituto de Zoologia consultar
bibliografia que só existia na sua
Biblioteca.
Quando visitei o Museu, ele estava bem
arrumado e organizado e podia dizer-se que
constava de três secções: a Secção Portugal,
a Colonial e a Exótica (Figura). A sua
responsável, Dr.ª Teresa Madureira,
desaparecida prematuramente devido a grave
acidente, proporcionou-me uma visita guiada,
tendo-me dado a conhecer as raridades e
outras peças de interesse nele guardadas. Os
exemplares expostos, todos devidamente
identificados, ocupavam armários, vitrinas e
outros expositores com portas de vidro.
Muito do restante espaço estava preenchido
com armários fechados e grandes arcas, que
guardavam os exemplares não expostos ao
público.
Mais tarde, na década de 1990, quando os
meus interesses se voltaram para a
Sistemática, passei a frequentar o Museu por
períodos de algumas semanas por ano. Nessa
altura o Museu já não podia ser visitado
como antigamente. Tinham sido dadas ordens
para serem libertadas paredes e janelas a
fim de que pudessem ser efectuadas obras de
beneficiação e, para que as ditas obras
pudessem ter lugar, muito do material
exposto foi mudado de lugar e outro
acondicionado em caixas. Estão a ser feitas
obras no edifício mas ainda não na parte
antiga do Museu.
Durante cerca de duas dezenas de anos o
Museu esteve fechado ao público.
Presentemente apenas uma sala pode ser
visitada – a que foi arranjada como parte de
uma homenagem feita a Augusto Nobre no fim
do ano transacto.
Falando dos Moluscos não marinhos – o grupo
que especialmente me interessa. Existem no
Museu do Porto várias colecções com
exemplares colhidos em Portugal.
A mais antiga é a "Colecção Batalha", em que
predominam as espécies marinhas e que desde
a inauguração do Museu, em 1916, sempre
esteve parcialmente exposta. No total dos
mais de 18.000 exemplares desta colecção,
todos identificados pelo menos até ao
género, apenas cerca de 18% correspondem a
colheitas feitas em Portugal. Embora seja
muito valiosa como exemplo de
biodiversidade, o interesse científico é
menor, porque os locais de colheita são
referidos apenas ao nome de um país, sem uma
localidade específica. Além disso, as
amostras não têm data de colheita, mas é
fácil data-las como anteriores a 1873, data
do falecimento do seu titular. Há um
inventário desta colecção, publicado pelo
filho do titular, com data de 1878.
Entre o material que teve de ser
deslocado por causa das obras, havia um
conjunto de colheitas feitas em Portugal que
não era referido a uma colecção específica;
foi guardado em caixas sob o nome "Colecção
Exposta", porque continha os exemplares que
estiveram em exposição, muitos deles desde a
inauguração do Museu, em 1916.
Esta colecção de conchas já tem mais
interesse científico pois, embora a muitas
falte a data, todas as amostras têm
localidade de colheita e as etiquetas com a
sua identificação estão quase todas
assinadas por Augusto Nobre.
Havia também a designada “Colecção pessoal
de Augusto Nobre”, que tinha sido depositada
no Museu alguns anos depois do seu
falecimento, em 1946.
As conchas desta colecção estiveram durante
décadas tal como Nobre as deixou: em
pequenas caixas de cartão, algumas antigas
caixas de fósforos, tubinhos de vidro e, a
maioria, embrulhadas em papel de jornal.
Quase todas as amostras eram acompanhadas
por pequenas etiquetas manuscritas, algumas
minúsculas.
Foi então que, dado o meu interesse pelos
caracóis terrestres, foi feito o seu
inventário pela Dr.ª Luzia Sousa, tarefa na
qual colaborei activamente. À medida que iam
sendo individualizadas e desembrulhadas, as
amostras eram colocadas em caixas
provisórias, numeradas aleatoriamente.
Mais tarde, depois de ter estudado um a um
os exemplares da colecção, cada amostra foi
acondicionada em caixas de plástico cristal
de tamanho apropriado, juntamente com novas
etiquetas. Estas caixas foram depois
guardadas, por ordem sistemática em vários
tabuleiros.
Como tinha sido Nobre quem identificou e
colheu muitas das conchas que tinham estado
expostas, não havia grandes diferenças entre
o conjunto da “Colecção Exposta” e o da
“Colecção pessoal de Nobre”, pelo que foi
considerado de interesse para o Museu não
haver inventários separados. A colecção
exposta recebeu números de inventário a
seguir aos da colecção pessoal e assim um
total de 903 amostras constituem agora a
"Colecção Nobre". O Inventário desta
Colecção está na fase final de publicação. |
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Chego finalmente ao
tema do meu último trabalho, que tem
o título
“JOSÉ DA SILVA E CASTRO, O
MALACOLOGISTA E A SUA OBRA”.
Enquanto estudava a "Colecção
Nobre", foram-me mostradas duas
caixas de cartão que tinham o nome
"Colecção José de Castro", e
continham amostras de conchas de
caracóis terrestres portugueses. As
conchas estavam dentro de tubos de
vidro e pequenas caixas de cartão,
ou directamente coladas em cartão
grosso. Estas últimas
apresentavam-se em muito mau estado
de conservação, denunciando não só
mau manuseamento mas também longa
permanência à luz e ao pó. Havia a
convicção de que José da Silva e
Castro era natural ou vivera no
Porto, embora ninguém soubesse quem
era, onde nasceu, viveu ou morreu, e
também ninguém sabia quando é que
esta colecção tinha dado entrada no
Museu.
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Numa pequena brochura intitulada Guia do
Museu, com data de 1974, o então director
Amilcar Mateus, menciona a existência da
"Colecção José da Silva e Castro" na galeria
da Colecção Portugal (Figura). Luis Burnay,
na História da Malacologia em Portugal, de
autoria conjunta com A. Monteiro, publicada
em 1988, diz ter visto esta colecção no
Museu Porto enquanto se documentava para a
referida publicação. É muito possível, que a
Dr.ª Teresa Madureira tivesse mencionado
esta colecção quando me mostrou o Museu em
1975, mas não guardei na memória, dado os
meus interesses então se centrarem noutros
assuntos. Claro que o estudo desta
colecção interessava para o meu trabalho e
depois de terminado o estudo da “Colecção
Nobre” passei ao estudo da “Colecção Silva e
Castro”.
Adoptei o nome "Silva e Castro" em vez de
simplesmente "Castro", para evitar confusão
com outro malacologista português de nome
Augusto Luso da Silva. A confusão advém de
autores estrangeiros, como por exemplo
Westerlund, se referirem a Silva e Castro
como “Silva” – certamente por analogia com o
que acontece em Espanha onde o último nome
de uma pessoa é de origem materna, e o
penúltimo de origem paterna. Em Portugal,
"Silva" seria a referência para Luso da
Silva, enquanto "Castro" seria a referência
correcta para Silva e Castro.
Como não havia inventário da “Colecção Silva
e Castro”, foi providenciado um inventário
preliminar com atribuição aleatória de
números de ordem às amostras, agora
cuidadosamente colocadas em caixas.
Estudei, pois, a “Colecção Silva e Castro”,
começando por fazer novas etiquetas. Tarefa
penosa porque muitas das etiquetas originais
estavam escritas numa caligrafia difícil de
decifrar e, noutras, a tinta usada estava
muito desvanecida ou tinha-se mesmo apagado
completamente, tornando umas quantas
ilegíveis. Estas etiquetas originais, além
do nome específico – em latim, como é óbvio
– tinham algumas observações sobre habitat e
nomes de terras (os que se podiam traduzir)
escritos em francês. Aliás, o francês foi a
língua usada por Silva e Castro nas suas
publicações científicas, talvez porque os
seus contactos científicos eram, pode
dizer-se, exclusivamente com estrangeiros.
Tal como para as outras colecções, os
exemplares da "Colecção Silva e Castro"
foram estudados individualmente e, no fim do
estudo, como é lógico, pensei na publicação
do seu inventário.
Mas uma coisa me preocupava – não poder
juntar alguns dados biográficos sobre o seu
titular. Sobre os titulares das outras
colecções algo se sabia e se tinha escrito,
mas sobre José da Silva e Castro, só
encontrei – além de trabalhos publicados –
referências em livros estrangeiros.
John W. Taylor, na sua obra Monography of
the Land and Fresh-Water Mollusca of the
British Isles, de que foram publicados três
volumes entre 1894 e 1914, dedica cada
género e cada espécie que vai descrevendo a
um malacologista, explicitando a razão da
homenagem e dando a sua imagem e assinatura.
Convém notar que a assinatura atribuída a
Silva e Castro é como que desenhada
(Figura). A assinatura real deve ser a que
termina uma dedicatória ao Dr. Eduardo
Burnay, que encontrei na Internet, e sobre a
qual falarei mais adiante (Figura).
E, entre os malacologistas de diversas
nacionalidades e reconhecido valor, que
Taylor menciona, tais como Carl Linnaeus,
Otto Fridrich Müller,
Jacques-Philippe-Raimond Draparnaud, Edward
von Martens, A.Moquin-Tandon, Jules René
Bourguignat, J.E Gray & Mrs. Gray, W.Kobelt,
Stephan Clessin, Henry A. Pilsbury, etc.,
etc. – encontra-se José da Silva e Castro.
Taylor dedica a este malacologista
português a espécie Hyalinia alliaria, com a
seguinte justificação: "The species is here
associated as a token of respect to the
well-known Portuguese conchologist, Senhor
José da Silva e Castro, who independently
recognized the claims of this mollusk to
specific rank "
Como e porquê é que José da Silva e Castro –
o "bem conhecido concologista português",
que merece o respeito de um notável autor
inglês – era praticamente desconhecido em
Portugal, o seu país natal?
Outro autor estrangeiro que presta tributo a
José da Silva e Castro – não só como
naturalista mas também como pessoa de
carácter excepcional – é Arnould Locard no
livro Conchyliologie Portugaise, publicado
em 1899, quase totalmente baseado em
material enviado por Silva e Castro.
Como se pode ler na Introdução deste livro,
Silva e Castro quando entendeu que a sua
saúde não o deixaria completar a tarefa a
que se tinha proposto de fazer um
repositório da fauna malacológica não
marinha de Portugal, enviou a Locard muito
do material que reuniu ao longo dos anos, a
maior parte já devidamente identificada,
acompanhado de todas as suas notas. Locard
agradece a confiança nele depositada e louva
a atitude da pessoa que abdica do seu
trabalho de muitos anos, não se importando
que seja outrem a terminar a sua obra.
Como e porquê é que uma pessoa a quem é
reconhecido tal valor que faz com que outro
conhecido malacologista estrangeiro se sinta
honrado ao aceitar completar a sua obra, é
ignorada e praticamente desconhecida no seu
País?
E onde é que em qualquer parte do mundo se
encontra outra pessoa que não se importa de
abdicar do seu extenso labor, preocupando-se
mais com que o seu trabalho seja completado
do que com o mérito que lhe poderia advir
desse mesmo trabalho?
Eu não podia desistir do meu propósito de
descobrir alguns dados pessoais de José da
Silva e Castro.
E assim começou um longo trabalho de
pesquisa, que passo a relatar. |
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Os trabalhos de Silva e Castro sobre a
malacofauna portuguesa foram quase todos
publicados no Jornal de Ciências físicas,
matemáticas e naturais, revista publicada
sob os auspícios da Academia das Ciências de
Lisboa. Comecei, pois, pelos Arquivos desta
Academia para saber se existiria alguma
correspondência que me fornecesse ao menos
um endereço. Nada foi encontrado além do
manuscrito de um trabalho sobre Anodontas,
de que mostro a primeira página (Figura).
Depois, como uma das publicações dizia que
Silva e Castro era membro da "Société
Malacologique de France" (actualmente
Société Française de Malacologie), pensei
que talvez houvesse na sede desta sociedade,
em Paris, uma ficha de inscrição ou algo
parecido, que me fornecesse alguma
informação.
Pedi ajuda ao nosso colega Manuel António
Malaquias – aqui presente e a quem mais uma
vez agradeço – que, nesse ano de 2000, se
encontrava em Paris reunindo documentação
para o seu trabalho. Na sua resposta, o Dr.
Malaquias dizia-me que procurou informações
junto de Bernard Métivier e de Virginie
Heros – as pessoas indicadas para
esclarecerem a situação – e que estas o
informaram nada haver sobre Silva e Castro
no Museu de História Natural e não existia
ficha de inscrição na Sociedade.
Aconselhavam-me a procurar informações junto
do Museu de Lyon, porque foi aí que Locard
trabalhou e viveu durante algum tempo.
Por essa altura conheci no Instituto de
Antropologia da Universidade de Coimbra
Michel van Praët, professor no Museu de
História Natural de Paris, tal como Bérnard
Métivier. O Prof. van Praët ainda vem
regularmente a Coimbra como consultor para a
organização dos Museus de História Natural.
Falei várias vezes com o Prof. van Praët – a
quem inclusivamente pedi auxílio na
decifração de duas dezenas de etiquetas de
amostras de caracóis franceses existentes na
“Colecção Silva e Castro” e que tinham sido
enviadas pelo malacologista “Drouët” – que
se interessou pessoalmente sobre o meu
propósito, contactando, ele também o Prof.
Métivier de Paris e o Dr. Abel Prieux de
Lyon.
O Professor Métivier respondeu-me dando
informações sobre Drouët, dizendo que no "Laboratoire
de Biologie des Invertébrés Marins et
Malacologie" existem centenas de sintipos de
espécies que Henri Drouët instituiu sobre
exemplares que trocava com outras pessoas.
Estes sintipos ou tinham pertencido à
“Colecção do Journal de Conchyliologie” ou à
“Colecção Crosse”, não havendo qualquer
referência a Silva e Castro. O mais natural
é que se Drouët trocava amostras com Silva e
Castro estas deviam fazer parte da sua
colecção pessoal, cujo destino se ignora.
Ainda cheguei a pensar ir pessoalmente a
Lyon para consultar os arquivos do Museu,
tal como me foi sugerido, mas a longa viagem
e a incerteza de ser bem sucedida fizeram-me
desistir desta fonte de informação. De meu conhecimento, Drouët não criou
qualquer espécie nova sobre material de
Portugal Continental. Outros o fizeram como
Bourguignat, Servain e Locard, o que está
documentado em etiquetas de amostras
existentes nas respectivas colecções.
Podemos ler na já citada História da
Malacologia em Portugal, que o malacologista
francês Philippe Bouchet disse a Luis Burnay,
em conversa particular, que na “Colecção
Locard”, depositada no Museu de História
Natural de Paris, existe cerca de um milhar
de amostras colhidas por José da Silva e
Castro.
Procurei também informação no Journal de
Conchyliologie, onde além de artigos
científicos eram publicadas notas pessoais e
profissionais. Nesta revista encontrei que
Silva e Castro, juntamente com Morelet e
Drouët, era sócio da "Académie des Sciences,
Arts et Belles Lettres de Dijon", cidade
onde viveu Drouët.
Drouët publicou trabalhos sobre Malacofauna
dos Açores, entre 1858 e 1861. No trabalho
de 1861, vem, sob o nome do autor, que era
membro da Real Academia das Ciências de
Lisboa. Drouët, tal como antes Morelet,
foram apoiados por D. Pedro IV e dedicam a
este monarca português os seus trabalhos.
Ao procurar na Biblioteca Nacional qualquer
outra publicação ou informação sobre Silva e
Castro, encontrei um artigo sobre métodos de
preparação de Diatomáceas, publicado no
Boletim da Sociedade Broteriana, de Coimbra.
Este artigo, que está escrito sob forma de
carta dirigida ao Prof. Júlio Henriques, ao
tempo director do Instituto Botânico da
Universidade de Coimbra, viria a ser a chave
que me levou a descobrir muita coisa sobre
Silva e Castro e a poder elaborar uma
biografia bastante completa.
É um artigo muito interessante, com
considerações pessoais sobre como um estudo
sério deve ser feito e instruções
pormenorizadas sobre o processo de fazer
preparações de Diatomáceas. Fiquei a saber
como construiu não só agulhas apropriadas
para o manuseamento dessas algas
microscópicas – usando espinhos de cacto,
sobre os quais colava um só pêlo de
mamífero, mais ou menos fino, conforme a
origem: texugo, porco, marta, etc. – mas
também a técnica que desenvolveu para a sua
transferência dos recipientes de colheita
para as lâminas em que seriam artisticamente
dispostas para observação ao microscópio.
Curiosamente, criticava a preocupação que
havia nessa altura de substituir todo o
difícil processo manual de fazer as
preparações por aparelhos mais ou menos
complicados, que não implicavam destreza de
mãos nem tanta paciência. (Actualmente
chegamos a um ponto em que há aparelhos para
todas as tarefas em detrimento da habilidade
manual.) Fiquei também a saber que Silva e Castro
estava a par de todos os avanços das
técnicas de preparação e trocava informações
e preparações com os principais estudiosos
deste tema, tendo mesmo enviado a um
especialista francês a descrição dos
processos que usava sem nunca os ter
publicado. Mais tarde vim a saber que as
preparações eram acondicionadas em caixas de
madeira, feitas pelo próprio, e que
constituíam pequenas peças de arte, muito
apreciadas. Parece que se dedicava
especialmente ao estudo do género Suridella.
O mesmo artigo deu-me a conhecer que Silva e
Castro tinha montado para o Museu do
Instituto Botânico de Coimbra a colecção de
Diatomáceas portuguesas "dont l'étude serait
publiée depuis longtemps si une cruelle
maladie ne m'avait interdit toute
application, pendant ces dernières années
…." Suponho que esta terrível doença que lhe
dificultaria os movimentos seria uma
qualquer espécie de artrite. Não consegui confirmação da existência desta
colecção de Diatomáceas portuguesas no dito
Museu, onde existe, sim, uma colecção de
preparações de espécies francesas,
produzidas e comercializadas pelo francês J.
A. Tempère, que também editava duas revistas
dedicadas a estas algas: Le Diatomiste e Le
Micrograph Préparateur. Existe no
Departamento de Botânica da Universidade do
Porto, uma colecção de 200 preparações com a
mesma origem. O Prof. Gonçalo Sampaio também
se dedicou ao estudo destas algas.
Foi neste artigo sobre técnica de preparação
de diatomáceas que encontrei a palavra
crucial para chegar ao conhecimento da
pessoa que foi José da Silva e Castro. Como
o artigo está escrito em forma de carta,
termina com as palavras – Cinçães, le 15
août 1899.
Cinçães devia ser o nome da terra onde
vivia. Não consegui encontrar este nome em
nenhum dicionário geográfico nem no
"Reportório Toponímico de Portugal",
publicado pelo Serviço Cartográfico do
Exército em 1967 (onde, em três volumes,
deveriam estar os nomes de todos os
topónimos de Portugal Continental), nem na
Internet.
Tanto eu como várias pessoas com quem falei
éramos da opinião que Cinçães devia ser erro
tipográfico para Cinfães. E como havia a
convicção de que Silva e Castro teria vivido
ou seria natural do Porto, comecei a
investigar as famílias Castro e as famílias
Silva e Castro nortenhas, não só na Internet
como no Arquivo Genealógico de Portugal e
nos Arquivos Paroquiais conservados nas
capitais de distrito.
Antigamente, todos os factos importantes da
vida de uma pessoa – nascimento, baptismo,
casamento, morte – eram registados nas
Igrejas Paroquiais. Depois de 1910, com a
implantação da República, foi criado o
Registo Civil, desligado da Igreja.
Nenhuma das várias famílias Castro e as duas
Silva e Castro, uma de Cinfães e outra de
Fafe, que encontrei me pareceu ser a que
procurava.
(Entre parênteses: é curioso dizer que, numa
das minhas idas ao Porto, no trajecto da
estação para o hotel, vi a tabuleta de uma
casa comercial com o nome "Silva e Castro".
No dia seguinte dirigi-me a essa loja e tive
uma conversa muito interessante com a pessoa
que me atendeu. Era uma firma com dois
sócios, o Sr. Silva e o Sr. Castro, nada
relacionados com a pessoa que me
interessava.)
Encontrei na Enciclopédia Luso-Brasileira um
professor de desenho chamado Angelino da
Cruz da Silva e Castro, que ensinou no
Colégio Militar e na Escola Politécnica, e
faleceu em Lisboa em Julho de 1879, com 53
anos de idade. Pareceu-me que poderia ser
pai ou parente próximo de José da Silva e
Castro, pois por volta de 1870 o
malacologista Silva e Castro frequentou o
então chamado Museu Nacional, ligado à
Escola Politécnica. Esta informação vem nas
palavras introdutórias da sua primeira
publicação, em 1872.
Nesta suposição tentei saber mais sobre o
professor de desenho da Politécnica, para o
que consultei na Torre do Tombo os
microfilmes dos Arquivos Paroquiais da
Cidade de Lisboa, para óbitos ocorridos em
1879. Lisboa estava dividida em 49 paróquias
e só quando cheguei à 43ª, Santos-o-Velho,
encontrei o que procurava. Soube então que
era natural de Lisboa e deixou uma filha e
dois filhos maiores. Um dos filhos poderia
ser o malacologista Silva e Castro, mas não
era patente uma relação com o norte do Pais.
Procurei depois os assentos de baptismo e
encontrei que os progenitores do professor
de desenho eram de Lisboa e de Óbidos. Nenhuma destas informações me parecia ser a
que procurava. Devo dizer que também
procurei obter informações junto do Colégio
Militar, que, de todas as pessoas e
entidades contactadas ao longo desta
pesquisa, foi a única que não deu qualquer
resposta.
Dado o insucesso na obtenção de dados
biográficos de Silva e Castro, achei que era
tempo de desistir e dar ao trabalho a forma
final.
Comecei por verificar o inventário da
"Colecção Silva e Castro" cotejando-o com a
Conchyliologie Portugaise, não só para
verificar os nomes específicos mas também
para corrigir os nomes de localidades que,
em Locard, estão muitas vezes mal escritos e
facilmente induzem em erro.
Quando estava a comparar locais de colheita,
encontrei que Locard indicava como local de
colheita de uma dada espécie a Quinta de
Cinçães. Desta vez não pensei que era gralha
tipográfica; tive logo a certeza que tinha
encontrado o que procurava.
Nas publicações que tinha consultado
anteriormente também não encontrei uma
Quinta de Cinçães, e foi na Internet que
soube que a Quinta de Cinçães ficava nos
arredores de Vila Nova de Famalicão, e que
uma parte dela tinha sido convertida em
Parque Municipal e para a outra parte havia
um Projecto de Urbanização. Sem demora contactei o Departamento de
Urbanização da Câmara de V.N. de Famalicão
pedindo informações sobre um possível
proprietário de nome José da Silva e Castro.
Claro que disse o porquê do meu interesse
nessa informação.
Uma semana depois recebi pelo correio normal
uma detalhada resposta, que ultrapassou
todas as minhas expectativas. Foram-me
enviados não só os dados biográficos de José
da Silva e Castro mas também cópia de dois
artigos publicados no jornal regional
Estrela do Minho: um sobre a pessoa e obra
de Silva e Castro, da autoria de António
Machado, que foi professor e director do
Instituto de Zoologia da Universidade do
Porto a seguir a Augusto Nobre; e outro
noticiando o seu passamento.
Obtive assim não só a informação que
pretendia sobre a pessoa, mas também mais
tópicos para pesquisa sobre a sua actividade
como naturalista.
O artigo de António Machado tornou claro que
Silva e Castro, como naturalista, tinha
contactos principalmente, para não dizer
exclusivamente, com naturalistas
estrangeiros, nomeadamente franceses, com
quem não só se corresponderia assiduamente
mas também trocaria exemplares, como o
provam algumas dezenas de amostras da sua
colecção. Mas o que achei mais interessante foi o
facto de Silva e Castro ter proposto à bem
conhecida firma de instrumentos ópticos Carl
Zeiss, de Jena, Alemanha, uma modificação do
microscópio comum que o tornaria mais
apropriado para a observação das Diatomáceas
– modificação que foi aceite. Pensando que talvez houvesse uma peça ou
mesmo um microscópio especialmente
construído para o estudo de Diatomáceas e
sabendo que Silva e Castro tinha feito
preparações para o Museu do Instituto
Botânico de Coimbra, procurei saber junto
deste Instituto se haveria, entre o material
óptico antigo, um microscópio ou qualquer
acessório com a informação de ser apropriado
para o estudo das Diatomáceas ou que,
eventualmente, tivesse o nome de Castro.
Foi-me dito que de momento não podiam dar a
informação pedida, mas depois de terminada a
informatização do Museu me dariam a resposta
… Outra entidade que consultei, desta vez
pessoalmente, foi o Museu Geológico de
Lisboa, onde sabia haver microscópios e
acessórios antigos expostos. Não havia
nenhum microscópio ou peça com esta
finalidade específica.
Através da Internet, contactei o Museu Carl
Zeiss e, depois da troca de várias
mensagens, consegui saber que afinal não
havia um microscópio ou um acessório com o
nome de Castro, mas havia realmente uma
modificação do condensador normal de um
microscópio, que permitia uma melhor
observação das referidas algas
microscópicas. Não sabiam o nome da pessoa
que propôs essa modificação mas disseram ter
uma carta do Prof. António Machado pedindo
as características desse condensador. A Carl Zeiss construiu, pois, um condensador
especial, que pode ser observado no Museu
Zeiss em Jena, com a designação
“Zentrierbarer achromatischer Kondensor” e o
número de ordem 2950. O nome pode
traduzir-se por "Condensador acromático com
barra de centragem". É um condensador com um
dispositivo que dirige o feixe luminoso da
fonte para o centro da lâmina sem lhe
diminuir a intensidade e sem incomodar os
olhos do observador. É especial para
microfotografia, e devia permitir boa
observação dos detalhes.
No trabalho sobre a técnica de preparação
das Diatomáceas, Silva e Castro diz que "…
l'occasion n'est pas encore arrivée de faire
exécuter quelques modifications au statif
dont je me sers pour préparer, modifications,
dont j'avais autrefois formé le plan et qui
permettraient, j'en suis sûr, un travail
plus facile et plus commode.” (Cabe dizer aqui que a escultura das paredes
siliciosas das Diatomáceas corresponde a um
padrão de perfurações características de
cada espécie. Estas esculturas eram
tradicionalmente usadas pelos microscopistas
para testar o poder de resolução das
lentes.)
Foi-me facultada uma foto deste
condensador e pedido o envio de toda a
informação que eu pudesse obter para que
essa peça de Museu possa vir a ter o nome do
seu proponente, o português José da Silva e
Castro.
Falei sobre a pesquisa efectuada para saber
quem foi José da Silva e Castro.
Devo dizer que foi um trabalho que muito me
agradou fazer, porque me permitiu,
desfazendo mitos, restituir autenticidade e
fazer conhecer a personalidade de uma pessoa
que, além de ter realizado trabalho
meritório como naturalista, era senhor de
excepcionais qualidades nas relações com o
seu semelhante.
E, talvez por isso, era conhecido e
apreciado pelos seus pares estrangeiros,
tanto quanto foi esquecido e ignorado pelos
seus contemporâneos.
Mas, antes de vos dizer quem foi José da
Silva e Castro, gostaria de falar sobre
outro ponto.
Já vos mostrei uma dedicatória de José da
Silva e Castro ao Dr. Eduardo Burnay. Mais
uma vez menciono o colega Luis Burnay, que
contactei para saber se me podia dizer algo
sobre as relações entre o seu familiar e
Silva e Castro. Nada sabia, tendo adiantado
apenas que o seu bisavô tinha sido professor
na Escola Politécnica de Lisboa e lhe
parecia que o nosso naturalista não teria um
curso superior, teria sido, sim, um
interessado naturalista amador. A propósito de ter sido mencionado o termo
"amador", que muitas vezes é referido como
sendo uma categoria inferior à de qualquer
licenciado, não posso deixar de dizer que é
a estes "amadores" que, pela sua grande
dedicação e enorme curiosidade, se devem
muitos dos avanços que tiveram as ciências
naturais durante a segunda metade do século
XIX.
Em França, a posição de "amateur-savant" era
muito considerada e respeitável, pois era
reconhecido que a eles se deviam muitos dos
avanços que estabeleceram as bases
científicas de numerosas aplicações
práticas. Com o desenvolvimento das
técnicas, começaram a surgir os cientistas
profissionais, que agora realizam grandes
progressos em custosos laboratórios com
avantajados orçamentos. E quem nos diz que daqui a algum tempo, com
as dificuldades actuais em obter fundos para
a investigação, não haverá retorno à posição
de amateur-savant, à situação em que uma
pessoa empenhada em obter conhecimentos só
pelo interesse de mais saber, não se importa
de despender, além do seu tempo e trabalho,
muitos dos seus proventos?
Termino, pois, dizendo-vos quem era José da
Silva e Castro, reduzindo ao essencial os
dados que me foram enviados.
José da Silva e Castro nasceu no Porto, na
freguesia de Santo Ildefonso em
Fevereiro/Março de 1842, filho de Silvério
da Silva Castro, juiz desembargador na
cidade do Porto, e de Maria Delfina Barbosa,
natural do Brasil. Viveu algum tempo no
Porto tendo depois ido para a sua Quinta de
Vilar, onde vivia em 1870, já casado com
Mariana Ferreira da Fonseca Gouveia. A
partir de 1878 passou a viver na Quinta de
Sinçães, onde veio a falecer em 28 de
Outubro de 1928, na idade de 86 anos. Não
consta que tivesse deixado descendentes.
Dele dizia o jornal local Estrela do Minho
de 4 de Novembro de 1928:
"Os que morrem Faleceu há dias na sua residência de Sinçães,
o Sr. José da Silva e Castro. Cidadão muito culto, tendo deixado trabalhos
de grande relevo sobre História Natural, foi
um dos famalicenses que muito honrou a sua
terra. Aliava a essa erudição e limpidez de
carácter uma grande bondade. Da sua bolsa e
em casas suas viviam muitos desgraçados,
párias da sorte, cuja falta do seu
benfeitor, há-de ser para eles bem amarga. Morreu aos 86 anos de idade. O seu funeral foi feito para o cemitério de
Agramonte, no Porto, onde tem jazigo de
família. A toda a família do ilustre morto,
enviamos a expressão da nossa mágoa."
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Abril de 2009 Rolanda Maria Albuquerque de Matos |
(As fotografias mencionadas neste texto
estão quase todas publicadas no trabalho
“José da Silva e Castro. O naturalista e a
sua obra”, edição do Instituto Português de
Malacologia, 2009.) |
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ROLANDA MARIA ALBUQUERQUE
DE MATOS (PORTUGAL)
Licenciada em Ciências
Biológicas pela Faculdade de
Ciências da Universidade
de Coimbra. Entre 1949 e 1954 foi,
na mesma Faculdade, responsável
pelas
aulas práticas das cadeiras do 3º
Grupo (Zoologia e Antropologia), ao
mesmo
tempo que prosseguia trabalhos de
investigação iniciados dois anos
antes no
Museu e Laboratório Antropológico.
Depois, já em Lisboa, grande parte
da sua actividade científica foi
desenvolvida no Centro de Genética e
Biologia Molecular, onde efectuou
principalmente estudos sobre
genética de Helicídeos.
Quando estes estudos tiveram que ser
interrompidos, passou a dedicar-se
à sistemática e cartografia dos
Gastrópodes Testáceos terrestres
portugueses, tendo
frequentado por largos períodos os
Museus de Zoologia das Universidades
Clássicas portuguesas: Lisboa,
Coimbra e, mais assiduamente, Porto,
para estudo
das colecções neles depositadas.
Outros temas de estudo foram:
citologia, citoquímica e
diferenciação
celular, tecnologia lanar,
sistemática de Peixes e Anfíbios,
ecologia e protecção da
fauna portuguesa. É autora de mais
de setenta publicações científicas:
trabalhos
de investigação, divulgação,
formação e traduções.
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