O Quadro 4 nos permite observar a relação da
distribuição de livrarias com os indicadores
sociais: o menor número de livrarias
associasse aos maiores índices de pobreza,
analfabetismo e desqualificação no ensino
médio (FGV, 2001; PAIXÃO, 2003). A análise
comparada permite concluir que pobreza e
desqualificação cidadã extinguem livrarias e
leitores, e que a extinção de livrarias e
leitores aumenta a pobreza e a
desqualificação cidadã, num ciclo vicioso de
extrema perversão.
No Nordeste os estados do Rio Grande do
Norte e Sergipe destacam-se entre os que
apresentam os melhores índices de livrarias
em relação ao número de habitantes. Sabemos,
apesar de não termos números absolutos, de
que a concentração maior de livrarias na
região Nordeste ainda são as livrarias
mistas que dominantemente trabalham com
livros didáticos.
Para a Organização das Nações Unidas-ONU a
situação ideal para a quantidade de
livrarias em relação à população situa-se na
proporção de uma livraria para cada 10 mil
habitantes (ANL, 2007). Dado este não
observado em nenhum estado brasileiro. O
nosso melhor resultado é três vezes pior que
a expectativa da ONU. O nosso pior resultado
é seis vezes pior que o melhor brasileiro e
dezoito vezes pior que a expectativa da ONU.
Apesar dos esforços da União, dos Estados e
dos Municípios, nos últimos anos, em relação
às campanhas de leitura, o Brasil apresenta
índices muito longe dos recomendados.
O Estado do Ceará, onde atuo, ocupa a 13ª
posição no ranking com 1 livraria
para cada 79.167 habitantes. Numa análise
mais detalhada é percebido que os Estados do
Norte e Nordeste (Quadro 5 comparado ao
quadro 4) apresentam os piores índices,
reforçando o que já foi comentado no quadro
anterior na relação desqualificação do
ensino básico e maior concentração de
pobreza. Dos 10 estados com a relação
habitantes x número de livrarias, 5
encontra-se no Norte, 3 no Nordeste e 2 no
Centro-Oeste.
Além dos dados já apresentados, incluo mais
estes para que o problema não se restrinja a
uma situação pontual, regional.
ü
70% das livrarias brasileiras são de médio e
pequeno porte.
ü
O faturamento mensal fica entre R$ 35 mil e
R$ 45 mil e o ganho líquido é de 5%, o que
explica o fato de cada vez menos empresários
investirem num negócio que exige muito
trabalho, muito esforço pessoal e um ganho
real muito baixo como conseqüência (Vitor
Tavares, O Globo, 2007).
ü
Em 1999, 35,5% dos municípios brasileiros
possuíam livrarias e em 2006 apenas 30%,4,
uma queda de 15,5% dos municípios com
livrarias no país (IBGE, 2007).
Para não ficarmos debruçados no muro das
lamentações e na leitura de dados negativos
já publicados, passo a ler algumas
recomendações resultantes do 1º e do 2º
Fórum da Rede Nordeste do Livro e da
Leitura:
·
Regulamentação das Leis já existentes e
democratização da discussão em torno da Lei
do Fomento do Livro e da Leitura.
·
Criação de linhas de crédito a fundo perdido
para pequenos e médios livreiros e editores.
·
Inserção nas compras governamentais dos
livros produzidos na região. Como resultado
destas discussões e apresentado pelo
Conselho de Secretários de Cultura do
Nordeste a FBN emite ofício FBN/CGSNBP
673/2009 – “... que a aquisição dos
livros para atender a ação de Modernização
das Bibliotecas Públicas, será realizada da
seguinte forma: 50% selecionados pela FBN e
50% por uma Comissão formada pelos estados
que serão contemplados”.
·
Manutenção de Seminários Regionais,
aproveitando as Bienais e/ou Feiras, para
escutar e estabelecer diretrizes regionais
de Políticas Especiais.
·
Modificação da Lei do Simples Nacional em
relação a cobrança do PIS e do COFINS.
·
Realização das compras permanentes das
Bibliotecas Públicas por meio das livrarias,
daí a necessidade de constante previsão
orçamentária para atualização e ampliação de
acervos.
·
Inclusão da presença da produção regional em
Feiras e Bienais regionais, por meio da Lei
Rouanet, e que isto seja ponto de aprovação
do projeto.
·
Regionalização do setor gráfico, por meio
de incentivos, na perspectiva de diminuir o
custo de distribuição do livro no país e
aumentar a indústria gráfica nas diversas
regiões, aumentando, assim, mão de obra
qualificada e empregos.
·
Desenvolvimento de estratégias para a
redução do custo de manutenção de uma
livraria, pois o mesmo, no Norte, no
Centro-Oeste e no Nordeste, é assustador,
pois a rotatividade da venda do livro é
muito pequena e o custo do frete, embutido
no preço do livro, é, na maioria das vezes,
arcado pelo livreiro regional.
·
Desenvolvimento de políticas que permitam
harmonizar as relações comerciais neste
segmento, que são sempre tensas, pois todos
querem fazer tudo, sem identidade, sem foco,
sem percepção da cadeia produtiva como rede
de parcerias.
·
Formatação de Cursos de Profissionalização
de Livreiros e Editores.
Dentro da situação: Como fazer os
distribuidores passarem a distribuir a
produção regional? Consideramos que esta
seja uma questão, também, de demanda
econômica, de falta de rede de livrarias e
de distribuidores na região. Sobre o tema
foi sugerido o que segue:
1
Promoção de campanhas publicitárias.
2
Participação em feiras, bienais e eventos de
forma conjunta;
3
Mapeamento das instituições por segmento;
4
Mapeamentos das editoras, das livrarias e
distribuidoras da região.
5
Mapeamento das feiras, bienais e eventos da
região e fora dela, na tentativa de evitar a
sobreposição;
6
Eventos literários fixos, além de feiras e
bienais, que façam parte do mapa de eventos
das cidades, inclusive com a interiorização
dos mesmos.
Quanto à organização política da cadeia
produtiva, as sugestões foram as seguintes:
7
Criação em todos estados de entidades
representativas dos segmentos em
associações, câmaras ou sindicatos. Estados
que já possuem entidade: Ceará, Maranhão,
Pernambuco e Bahia os outros estão em
processo de formação
8
Criação de uma entidade regional.
9
Que as instituições nacionais (ANL, CBL,
LIBRE, SNELL) tenham perfil federativo
efetivo.
A título de informação o Fórum de Literatura
do Ceará realizará entre os dias 24 e 25 de
setembro um Seminário intitulado Do autor ao
Leitor: caminhos do livro e da leitura no
Ceará. Este Seminário será em audiência
pública, na sua abertura e encerramento, na
Assembléia Legislativa do Ceará em seção
conjunta com a Câmara de Vereadores do
Município de Fortaleza. Para a abertura
teremos a presença de Galeno Amorim e Lira
Neto como convidados.
Finalizo, colocando a necessidade urgente em
transformar esta política em política
pública de Estado, para que não fiquemos à
mercê das mudanças de humor político,
econômico e cultural dos políticos de
plantão.
Estamos cientes que o país vive hoje um
acúmulo de crises, e a maior delas
encontra-se no setor social, no emprego, na
segurança, na saúde e na educação, por isso
é grande a necessidade de se ler e de se
compreender um texto escrito devido à
urgência de mudança no olhar com que
compreendemos nosso país e sua posição no
mundo.
Parabenizo a ANL pela decisão de construir
esta mesa, com a presença de todas as
regiões, iniciativa ímpar num país
continental que ainda pensa sobreviver, como
nação cidadã, com impressão, editoração e
distribuição de livros concentrada em uma
única região. |