Revista TriploV de Artes, Religiões e Ciências

Direção|Maria Estela Guedes & Floriano Martins

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MARIA DO SAMEIRO BARROSO 

 A ARTE CURATIVA

DOS CELTAS

 

IV

As plantas medicinais entre os celtas

As plantas medicinais entre os celtas

 Os Celtas eram bons conhecedores das plantas medicinais. Quanto à sua actuação, tinham concepções diferentes das nossas. Para além das suas propriedades farmacológicas, para eles, as plantas continham irradiavam também uma irradiação informação e energia. As plantas eram tomadas, não só sob a forma de infusões, mas também usadas como amuletos, actuando de forma protectora, em contacto directo com o corpo. As doenças eram causadas por forças demoníacas hostis para as quais era preciso mobilizar um combate enérgico.

Nas suas viagens xamânicas ao mundo dos espíritos, os druidas tinham descoberto que as plantas, juntamente com as suas propriedades intrínsecas, possuíam um campo de energia que irradiava força que estava em relação com a alma dos espíritos. Actualmente, designa-se estas almas das plantas como Devas.

Este conceito foi enunciado por Dorothy MacLean, fundadora do Jardim mágico de Findhorn, comunidade espiritual, a nordeste da Escócia. Para esta autora, o Devas era uma forma de grande anjo que sustentava a planta. Este conceito estende-se também a pequenos espíritos de plantas que se ocupam do crescimento e saúde da planta. A palavra original provém do sânscrito e significa “ser celestial”. A alma da planta liga-a à Natureza e à aos seres humanos.

Plantas medicinais celtas:

1-      Énula (Inula helenium),
2-      Becabunga (Veronica beccabunga)
3- Licopódio (Lycopodium clavatum)
4 -Valeriana (Valeriana officinalis)
5- Artemísia (Artemisia vulgaris)
6 -Urtiga (Urtica dioica)
7 -Hera (Hedera helix)
8 -Verbena (Verbena officinalis)
9 - Cólquio (Colchicum autumnale)
10 -Hipericão (Hypericum perforatum)
11- Milefólio (Achillea millefolium)

12 -Trovisco (Daphne mezereum)
13 - Visco (Viscum album)
14 -Meimendro-Negro (Hyoscyamus niger)
15 - Agário-das-moscas ou mata-moscas (Amanita muscaria)
16 - Cânhamo (Cannabis sativa)
17 - Cabeça calva (Psilocybe semilanceata)
18 -Papoila dormideira (Papaver somniferum)
19 -Rododendro (Rhododendron tomentosum ou Ledum palustre)
20 - Beladona (
Atropa belladona)

Nas suas práticas mágicas, os druidas falavam das almas dos espíritos das plantas Os escritores romanos anotaram estas práticas, nos seus escritos. Os druidas preparavam-se para a colheita das plantas. Nada comiam. A colheita era sempre feita, em silêncio, de manhã. Esqueciam todo o seu conhecimento e mergulhavam apenas no reino dos espíritos das plantas, para com os quis tinham o maior respeito possível. Vestidos de branco, mostravam aos espíritos que eram sacerdotes e druidas, iniciados nos segredos da Natureza. O povo, quando ia em busca de plantas, não vestia nada ou pintava-se para que os espíritos das plantas reconhecessem que eram eles próprios espíritos. Estes costumes mantiveram-se durante séculos. Cada pessoa que colhe plantas esclarece o espírito das plantas o que procura e qual é o uso que lhes vai dar.

Os druidas observavam também as plantas que os animais procuravam e traziam esse conhecimento para o homem.

Pelo aspecto exterior, conheciam os fins a que se destinavam. A sua actuação partia de um conhecimento preciso. As plantas eram tomadas em infusões, comprimidos.

As plantas mais utilizadas eram:

Énula:

Os Romanos chamavam-lhe “erva britânica”, Inula helenium. Os conquistadores tinham observado que os Celtas colhiam as suas irradiantes corolas douradas nas tempestades, não antes de se ouvir o primeiro trovão. Alguns legionários do exército de César adoeciam depois de beber água imprópria de alguma fonte contaminada, ouviam dizer que esta doença se tratava com a énula.

A planta era utilizada em chá contra todo o tipo de doenças e perturbações, desde o início da civilização celta até ao final da sua utilização pelas bruxas. Protegia contra os maus espíritos.

Desta planta, são utilizadas a raiz e rizoma, que contém um óleo alcoólico que acalma a tosse e se utiliza na bronquite.

Becabunga:

Corresponde ao misterioso Samolus romano, que Plínio refere, nos seus textos. Segundo este autor, a planta cresce em lugares húmidos, na floresta.e só era colhida durante um ritual específico dos druidas. Os etno-botânicos Max Höfler e Wolf-Dieter Storl estudaram esta planta, a Verónica beccabunda, cujo nome popular é conhecida como Samolo ( Samolus), que, em língua celta, significa flor do sol.

A planta era vista como uma ajuda bem-vinda como cura, no início do ano. O suco ara utilizado como anti-hemorrágico e estimulante geral do sistema imunológico.

Licopopo:

Esta planta, o Lycopodium clavotum, é uma das mais importantes dos druidas. O seu nome celta é Selago. Estava ligada ao urso, como animal totémico. O urso era considerado o animal que trazia aos homens o conhecimento das plantas. Plínio observou que os druidas a colhiam pela lua nova, descalços e vestidos de branco. Na sua colheita, era importante que a planta não tivesse contacto com o ferro. Segundo Plínio, era utilizada nas doenças oculares e em fumigações. É usada em amuletos, como protecção contra o mau-olhado. A planta contém um óleo e um alumínio altamente inflamáveis. Não tem flores. Os seus bolbos eram reduzidos a pó que os Celtas chamavam pó dos druidas ou pó de acendalha. Os antigos eram muito susceptíveis a estes efeitos. Por isso, o pó era utilizado nas artes mágicas.

Além do seu efeito ocular, era utilizado como anti-reumático. Da erva, faz-se um chá com propriedades diuréticas que acalma as caimbras e suaviza as dores. Também regula as perturbações menstruais.

Valeriana:

A Valeriana officinalis pertencia a um grupo de plantas medicinais de protecção, tal como um seguro moderno de família. Protegia contra o fogo, a bruxaria, prejuízos causados por granizo ou outros danos causados pelo mau tempo. Quando era relacionada com a grande deusa, protegia o casal.

Actualmente, o extracto da sua raiz é essencialmente utilizado como calmante e indutor do sono.

Na Antiguidade, misturada com vinho, era considerada afrodisíaca. Até ao séc. XVI, considerava-se que aumentava a inclinação para o amor.

Como anti-bruxedo, deu origem a um provérbio muito antigo: Valeriana, orégão e aneto não deixam a bruxa fazer o que quer (Baldruan, Dost und Dill, Kann die Hex’ nicht was sie will.) .

Artemísia:

A Artemisia vulgaris é conhecida pelas mulheres desde a Antiguidade, como emenagogo e regulador da menstruação. O seu caule, muitas vezes avermelhado traria a sua assinatura no combata destas afecções. Plínio notara que os Celtas que atavam um ramo de artemísia ao pé não se cansavam. O sumo da artemísia era utilizado nos ferimentos. Era também utilizada contra a tosse. Dela é utilizada a folha, o caule e o rizoma.

A planta tem efectivamente propriedades anti-anémicas, anti-tússicas, anti-espasmódicas, anti-sépticas, anti-diarreicas, anti-inflamatória, anti-malárica, anti-microbiana, anti-nevrálgica, anti-reumática, anti-convulsivas, regula a menstruação, melhora as contracções do parto, é anti-pirética, depurativa, digestiva, repelente, sedativa, cicatrizante, eupéptica, tónica e vermífuga.

Urtiga:

Para Plínio-o-Velho, a urtiga, Urtica dioica, era a mais odiada das plantas. Mas não para os Celtas. Aparece frequentemente representada em amuletos que protegem do mau-olhado. A urtiga fazia era componente habitual dos diversos filtros de amor, possivelm,ente nos casos em que já havia essa propensão.

Dioscorides, no séc.I, que viajou como médico militar pela Europa celta, registou a planta na sua obra De matéria medica. Indica-a para mordeduras de cão, feridas, epistaxis, doenças pulmonares, alterações da menstruação e tratamento do cancro. Também a indicava como afrodisíaco e diurético. Estas indicações estão correctas, à luz do conhecimento farmacológico actual da planta. Extractos da planta são actualmente utilizados nas afecções prostáticas.

Hera:

Medicamentos com esta planta, Hedera helix, são utilizados das doenças respiratórias, bronquite, doenças crónicas. Possui efeito mucolitico, expectorante e broncodilatador facilitando a expectoração e melhorando a respiração.

Verbena:

A Verbena officinalis pertence às ervas populares dos druidas. Plínio relatara que os druidas escavavam as suas raízes em Agosto. Observara como os druidas, em seguida, traçavam um círculo com um ferro em volta da planta. e que a apanhavam do cão com a mão esquerda. Era utilizada em rituais. A verbena era utilizada pelos ferreiros para afiar as armas. Para os druidas, tinha um efeito protector. Com ela entreteciam coroas que usavam na cabeça para afastar o mau olhado.

O povo usava essas coroas para tratar cefaleias. Quando se usava, como amuleto, pendurado ao pescoço, servia para tratar o bócio. Era utilizada numa pomada para feridas por armas brancas. A planta crescia no Sul da Europa. Quando as regiões dos Celtas foram ocupadas pelos Romanos, a planta passou a ser um símbolo nacional. Era utilizado como diurético e emenagogo.

Cólquico:

Esta planta, o Colchicum autumnale, que floresce em Outubro, é uma das mais importantes plantas das bruxas.

É um anti-inflamatório devido à presença de colchicina, utilizada nas crises de gota. É um veneno poderoso, Cinco sementes desta planta são mortais para um indivíduo adulto.

Hipericão:

Esta planta, o Hypericum perforatum, está intimamente relacionada com as festas de Verão dos Celtas. Nas festas de São João, em vários lugares, há vestígios dedos antigos rituais do culto do sol. Os druidas utilizavam-na nas feridas sangrantes. A planta, com as suas flores amarelas, espelha o sol, como nenhuma outra. Na concepção dos druidas, transporta a luz solar para o nosso corpo. Por isso, é utilizada nas perturbações psicológicas depressivas.

A planta possui, efectivamente, propriedades cicatrizantes, é utilizada para tratar perturbações de insónia e ansiedade e encontra-se comercializada como anti-depressivo. Possui ainda actividade anti-viral e anti-bacteriana.

Milefólio:

A planta, a Achillea millefolium era conhecida das mulheres como emenagoga.

Um ditado antigo diz que Milefólio no corpo a toda a mulher faz gosto (Scharfgarbe im Leib tut wohl jedem Weib), o milefólio Tem também propriedades cicatrizantes, anti-microbianas e hemostáticas, conhecidas pelos Celtas.

A designação grega Achillea millefolium deve-se à lenda, segundo a qual Afrodite teria recomendado a planta para tratar o calcanhar ferido de Aquiles.

A planta tem propriedades adstringentes, analgésicas, anti-microbianas, anti-piréticas, anti-reumáticas, digestivas e diuréticas (1).

Trovisco:

A planta, Daphne mezereum, é um potente abortivo. Possui a dafnetoxina, que é muito venenosa. Dez a quinze bagas são mortais. Era conhecida e utilizada pelas mulheres celtas, perante uma gravidez não desejada.

Visco:

Plínio teve a oportunidade de observar a colheita do visco, a planta preferida dos Celtas, pelos druidas, que descreve na sua obra Historia Naturalis.com grande acuidade. Esta é a única fonte literária que possuímos sobre este assunto. Relaciona a colheita do visco com o sacrifício de dois jovens touros brancos. Geralmente, estas oferendas aos deuses ocorriam aquando da entronização dos novos reis. Plínio refere: Eles encontram-se no sexto dia do ciclo lunar, depois da lua nova, porque, nesse dia, todos já juntaram forças para mas ainda não atingiram a plenitude total. O visco recém cortado não podia, de forma alguma, tocar a terra. Os druidas vestiam-se de linho branco.

Era um objecto sagrado que tinha vivido numa árvore robusta que simbolizava a força divina. Foi-nos enviada por Deus, diziam os druidas, com grande respeito. e a árvore na qual cresceu foi, ela própria escolhida pelos deuses.

O visco crescia no carvalho, arvora que simbolizava sabedoria e poder. Era venerada pelos sacerdotes do carvalho. Em celta, chamava-se Oljo-liagi. Para os sacerdotes celtas, a planta que crescia no carvalho, com as suas bagas amarelas, era a representante maior do seu género. A árvore é o chamado Loranthus europaeus. Ao Norte, na Britânia só existe o Viscum álbum.

O visco era cortado com uma foice de ferro ou de bronze dourado. Uma foice de ouro puro seria demasiado mole para cortar. A foice tinha a forma da lua de que era símbolo.

As suas propriedades eram inúmeras. Plínio referira que os Celtas pensavam que uma bebida, à base de visco, tornaria fértil um animal estéril. Nas receitas antigas, o visco entra sempre para ajudar o decurso de uma boa gravidez.

Na Suíça, onde vivem os descendentes dos Celtas, as noivas levam coroas com flores de visco para assegurar a sua fertilidade. Nas terras junto ao Reno, é um costume antigo pendurar ramos de visco fresco sobre as portas, no Natal e no Ano Novo. Segundo outro costume, um homem e uma mulher que se cruzem debaixo de um visco têm que se beijar.

Para os botânicos, o visco é um parasita que vive de várias árvores, entre as quais o carvalho. Não produz raízes na terra, como as plantas normais, não floresce no Verão e não perde as folhas no Outono. As suas bagas possuem propriedades medicinais. O visco era antigamente usado para combater a epilepsia e as perturbações nervosas. Estudos recentes parecem indicar que alguns componentes do visco activam o sistema imunitário e possui dois componentes, viscotoxina e lectina que têm propriedades anti-carcerígenas.

O visco, tal como nasce em cima do carvalho, paira entre a terra e o céu, entre a vida e a morte, entre o Aquém e o Além, entre as duas metades do ano, entre o cimo e o fundo. É simultaneamente, símbolo da fertilidade e da morte. Para os druidas era a chave que para o contacto com o domínio das forças divinas (2).

O contacto com estas plantas estava reservado aos iniciados. Para entrar em contacto com outras realidades, os druidas utilizavam várias plantas que provocam alterações da consciência. Muitas delas podem ser letais, por isso os druidas sabiam que o seu uso era perigoso. Estas plantas são, essencialmente, alcalóides. É espantoso o conhecimento que os druidas tinham sobre elas.

Uma delas é o meimendro. Esta planta é, como nenhuma outra, relacionada com bruxas e demónios. Para os Druidas, ao contrário, a Belenuntia ou Bilisia eram sagradas. A planta contém um alcalóide com acção psicadélica. Os seus componentes mais importantes são a hioscina e a escopolamina. Os druidas não conheciam as suas propriedades químicas, mas sabiam que, com a sua ajuda, podiam viajar até ao mundo dos espíritos.

As bruxas e mágicos que lhes seguiram, utilizavam o meimendro como ingrediente fundamental para a sua lendária pomada para voar. Cada tradição xamãnica possui as suas drogas rituais. Belenuntia, na qual os Celtas viam a personificação do deus solar Belenos, não era só utilizada pelos druidas. Era bebida com cerveja em determinadas festas rituais, em Maio ou nas festas do Verão ou quando o deus da luz e a deusa da vegetação se aproximavam da terra. Era utilizada para saber as decisões dos deuses.

A planta pertence à família das solanáceas. Contém tropanos. Possui raízes grossas e rugosas que são utilizadas em medicina, devido às suas propriedades narcóticas e sedativas. Do meimendro pode-se extrair atropina.

Um fungo, o agário-das-moscas ou mata-moscas, Amanita muskaria é um cogumelo que aparece nas florestas de pinheiros e coníferas. Diz-se que traz boa sorte, mas é muito perigoso.

            O uso deste tipo de cogumelo de chapéu vermelho, é conhecido pelos xamãs, como meio embriagante, na viagem para o mundo dos espíritos, é conhecido desde tempos imemoriais e utilizado pelos druidas.

Foi utilizado pelos povos primitivos da Sibéria. Alguns autores pensam que os Celtas os secavam e os comiam em pequenas quantidades. Cerca de uma hora mais tarde, começava a fazer efeito: um aumento da capacidade para apreender as cores e os sons. Não sabemos se os druidas, ouviam, através deles, a famosa música das fadas.

O consumo do Amanita muskaria provoca uma certa sensibilidade a sonhos proféticos e visões. Por vezes, as pessoas começam a ver céus cor de púrpura e rios de águas negras e profundas. Estamos já no domínio das alucinações que provoca podem induzir psicoses.

Outra destas plantas é o cânhamo, a Cannabis sativa.

O seu uso provoca uma embriaguês com leve euforia. Pertence actualmente, às chamadas drogas leves.

As flores segregam uma resina que tem propriedades psicoativas. Das flores femininas extrai-se o haxixe, das masculinas a marijuana.

Tal como o agário-das-moscas é uma das plantas com actividade psicotrópica, utilizada desde a mais remota Antiguidade. Foi encontrada no túmulo dos faraós, no II milénio a. C., no Egipto, tendo sido utilizada na embriaguês ritual. Utilizavam-na nas inflamações, doenças oculares, doenças ginecológicas e doenças das unhas dos dedos dos pés. Era tomado em pequenas pílulas embriagantes, muito apreciadas pela euforia que causavam. Era utilizada na mumificação, porque de altas individualidades, porque se pensava que se estava a prestar um bom serviço ao morto. O canabinóide THC, seu principal princípio activo, manteve-se, em elevada concentração nas múmias o que levou ao florescimento do comércio das mesmas. Os saqueadores de túmulos vendiam as múmias para a Europa, onde estas eram reduzidas a pó e comercializadas nas farmácias. O Mumia vera era um pó acastanhado que servia para curar todas as doenças, mas, na verdade, o que as pessoas tomavam era uma droga embriagante.

Fontes literárias referem a utilização xamânica do cânhamo. Heródoto refere que os Gregos utilizavam a sua resina, o haxixe, relacionado com o culto dos templos. Os Romanos apreciavam os bolos de marijuana como sobremesa, após uma refeição opulenta. Diz-se que aumenta a sensibilidade à música, ao paladar e ao amor.

Pensa-se que os Celtas também conheciam e utilizavam a planta. Para os druidas, o cânhamo não seria apenas uma forma de entrar em contacto com o mundo dos espíritos, mas também uma forma de tratamento da alma. Sob o seu efeito, o doente diminui os sentimentos de ansiedade, angústia, medo e depressão, ajudando a tratar estas perturbações.

Efectivamente, tem propriedades analgésicas, antieméticas, antiespasmódicas e é utilizado como narcótico, sedativo e tónico.

A papoila dormideira, Papaver somniferum encontrava-se vastamente distribuída, geograficamente. É uma das plantas mais antigas, utilizadas com efeitos mágicos ou medicamentosos. Contém quarenta e cinco alcalóides. Da polpa das suas cápsulas secas ao sol, extrai-se o ópio. É conhecida na Europa antiga, desde a Grécia até ao espaço ocupado pelos Celtas. Era utilizado como droga embriagante, cujas sementes eram usada como condimento afrodisíaco. Extractos da papoila dormideira foram utilizados pelos druidas.

O Psilocybe semilanceata é um cogumelo europeu que possui um alcalóide, a psilocibina.

Tem a forma de um barrete frígio. O seu nome, em grego, significa psilo (calvo) e cybe (cabeça).

Há alguns anos, os cientistas descobriram que, sob a sua influência, reconstituíam e compreendiam textos indecifrados. É possível que os druidas utilizassem o cogumelo para descodificar as mensagens escondidas do reino da Natureza.

O Rododendro, rosmaninho selvagem, Rhododendron tomentosum, ou Ledum palustre, que existe em todo o Norte da Europa, foi provavelmente utilizado pelos druidas como embriagante, que poderia induzir um transe leve. É utilizado na medicina popular para calmar a tosse, tratar a bronquite e induzir o sono.

Todas as partes da planta contêm terpenos que afectam o sistema nervoso central. O simples cheiro da planta pode causar cefaleias.

A Beladona, Belladonna, ou Atropa belladona encontra-se em solos húmidos, principalmente à beira de rios, lagos e represas. Contém um alcalóide, a atropina. Os druidas iam em busca das suas bagas por causa do seu efeito embriagante. A beladona é altamente tóxica. As crianças confundem-na frequentemente com cerejas. A ingestão de três a quatro bagas pode ser mortal. A planta também um tropano psicoactivo, semelhante à possui hioscina, tal como o meimendro. Provoca aumento da frequência cardíaca, broncodilatação, dilatação pupilar e rubor facial.

Em doses pequenas aumenta a compreensão e facilita o trabalho intelectual. Provoca alterações da consciência. Os druidas consideravam-na uma planta medicinal valiosa e com a qual tentavam influenciar doenças causadas por demónios.

Mais tarde, passou a ser um dos componentes da lendária pomada que fazia voar, utilizada pelas bruxas, nos seus rituais, pois os seus componentes provocam uma sensação de voo.

É uma droga utilizada, nas situações de urgência, no tratamento da bronquite e da asma.

Linnaeus, em 1700, chamou-lhe Atropa belladonna, porque sabia que as mulheres utilizavam os seus extractos, nos olhos, para dilatar as pupilas e ficarem mais belas (belladonna- mulher bela). A esse nome, juntou o de Atropa, uma das três Parcas da mitologia grega, por ser uma droga que podia causar a morte (3).

(1) Cfr. Claus Krämer, Die Heilkunst der Kelten, pp. 134-142.

(2) Cfr. Claus Krämer, Die Heilkunst der Kelten, p. 143- 150.

(3) Cfr. Claus Krämer, Die Heilkunst der Kelten, Verlag Hermann Bauer, Freiburg in Breisgau, 2002 (6.Auflage 2008), Verlag Hermann Bauer, Freiburg in Breisgau, 2002 (6.Auflage 2008), p. 164- 173.

Revista TriploV de Artes, Religiões e Ciências, 4, Março de 2010

Maria do Sameiro Barroso.
Médica, escritora, germanista, investigadora, doutoranda da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa.
Livros de poesia publicados: O Rubro das Papoilas, 1987, 1998, Rósea Litania, 1997, Mnemósine, 1997, Jardins Imperfeitos, 1999, Meandros Translúcidos, 2006, Amantes da Neblina, 2007, As Vindimas da Noite, 2008, Prémio António Patrício, 2008, da SOPEAM, considerado um dos quatro melhores livros do ano pelo Diário de Notícias. Vencedora do Premio Internacional Poesia Palavra Ibérica 2009, com o original Uma Ânfora no Horizonte.
Integra os actuais Corpos Directivos do Pen Club Português.
Contacto: msameirobarroso@gmail.com

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