As
mulheres do vento parado como um planeta
extinto
as
mulheres doentes as mulheres que cantam
com surpresa
o seu
vestido estranho como uma renda como uma
absurda mancha
as
mulheres do meu dia como um peso de cores
distintas
entre mim
e o céu
Entram
pela minha boca e censuram-me docemente
Aqui, diz
uma, puseste o horror de um velho instante
ali, diz
outra, não deixaste repousar os devaneios
Há uma que
paira, como se me fitasse a direito, com as
mãos
junto da
testa, perto dos olhos, os lábios palpitando
estremecendo como uma pétala sobre a água
Mulheres
de negro, afagando pastas de couro em lojas
improváveis
escrevendo
em papéis antigos fórmulas de gentileza
Mulheres
que a diabetes assolou como praga medieval
mulheres
de pernas como lírios rosados
andando ao
longo duma estrada francesa
as árvores
coloridas formando uma cortina imprecisa
Job de
rosto erguido amargo senhor das angústias
a sua face
trémula tão igual à do Senhor na noite de
suor e remorsos
a sua
mulher por detrás, arrepanhando as vestes
Dizei-me
mulheres onde com que luz a vossa
fotografia se encarquilhou
na madeira
queimada das velhas casas onde medrava a
guerra
Vós sois o
sustento dos pontos cardeais
Lembro-me
de ti, Marion, o rosto rodando como um
guindaste
e o fumo
que soltavas com um meneio elegante da mão
esquerda
o fumo
espalhado no parque abandonado
os olhos
tranquilos frios
A rua
solitariamente sob a noite de Junho
e o cão o
velho cão dos bosques que trotava muito
devagar
A vossa
figura palpitante, mulheres, irisada obscura
à luz
frouxa da manhã e o frio subindo até às
portas como um animal a morrer.
(Bruxelas, 1999) |