Primeiro,
ficar parado
durante um
momento, de pé
ou
sentado, numa sala ou mesmo
noutra
dependência do lar.
Depois
preparar
os olhos,
as mãos, a memória
e outros
utensílios indispensáveis. A seguir
começar a
reunir
coisas,
por ordem bem do interior
do coração
e do pensamento:
a ternura
dos avós, uma mancheia;
rostos de
primos distantes, uma pitada;
sons de
sinos ao longe, quanto baste;
a
recordação duma rua, uns bocadinhos
um velho
livro de quadradinhos
duas
angústia mais tardias, alguns restos de
azevias,
a
lembrança de vizinhos ainda vivos mas
ausentes
e de uns
já passados.
Quatro
beijos de seres amados ou de parentes
um
cachecol de boa lã cinzenta aos quadrados
e um pouco
de azeite puro e fresco
igual ao
que a mãe usava noutro tempo saudoso.
Mexe-se
bem, leva-se ao forno
e fica
pronto e saboroso
- mesmo
que, nostálgica, se solte uma pequena
lágrima. |