obras em processo
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Alguns dos
poemas deste livro foram publicados em
revistas e jornais tais como: TriploV,
Decires (Argentina), Jornal de Poesia
(Brasil) Velocipédica Fundação, Botella del
Náufrago (Chile), El Establo de Pégaso
(Espanha), DiVersos, Carré Rouge (França),
Saudade, De Puta Madre (Espanha), Sibila
(Brasil), Abril em Maio, La Otra (México),
António Miranda (Brasil).
(Casa da
Muralha, Arronches, Dezembro de 2009) |
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POEMAS DESENHADOS
1.
MAYTE BAYON
2. GIORGIO MORANDI
3. CARBAJAL
4. HUNDERTWASSER |
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1. MAYTE BAYON |
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Segredos quem
os tem
Se fosse só
a toalha aos quadrados, o gato na soleira
o pão torrado, o peixe frito
era caso para lançar ao vento
muitos quilos de infinito
músicas de outrora, terrores
e uma que outra solidão pintada
Mas desta forma
não é preciso:
há sempre o mar, o frio, essências
e outros jogos eternos e inocentes. |
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2. GIORGIO MORANDI |
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Ondas de sangue adormecem
solitárias, nocturnas, imprecisas
As veias são assim, na tela clara
das naturezas mortas
As tuas mãos, pausadamente
contam o tempo
da gestação dos frutos
e desvendam-nos coisas nos sentidos
Uma aqui, outra ali
E depois nós olhamos
a árvore, a catedral, o rio imóvel
O copo e a maçã erguem melhor
o firmamento, a luz sobre as cadeiras
- são o retrato
das diferentes imagens invisíveis
animais, vegetais e minerais
Um ruído lá fora
Um pequeno barulho pouco a pouco desfeito. |
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3. CARBAJAL |
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A gente podia
combinar isto de antemão. Eu dizia:
coloca neste ponto uma pedra. E tu punhas
o sinal azul de um enorme jardim.
Depois eu dizia: aqui faz falta
o som de um apito. E tu desenhavas
três crianças desesperadas. A seguir
eu adormecia. E quando acordava
tudo estava terrivelmente silencioso
Na porta, que se tornara transparente
estava pregado um papel amarfanhado.
Nele, estranhos riscos como feitos por
garras.
Então aparecia de repente um anjo maneta
- que desatava a rir e de súbito se
esfumava.
E sem sabermos como, era de novo manhã. |
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4. HUNDERTWASSER |
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Podes prestar-te a equívocos
no quarto da mansão inatingível.
Há sempre uma pergunta
uma resposta a outra coisa
um sentimento que se tornou em símbolo
Alguém que não está nessa paisagem
que nem sequer conhece os seus contornos
que é linha isso sim mas não por dentro
que é pele mas só na outra geometria
do que o pincel procura atormentado.
E às vezes nós olhamos um reflexo
de sol que cai onde as figuras existiram
e ilumina o seu perfeito contrário. |
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Revista TriploV de Artes, Religiões e
Ciências, 5, Abril de 2010 |
NICOLAU
SAIÃO [FRANCISCO GARÇÃO]
[Monforte do
Alentejo,1949, Portugal]
Poeta,
publicista, actor-declamador e
artista plástico. Efectuou palestras
e participou em mostras de Mail Art
e exposições em diversos países.
Livros: “Os objectos inquietantes”,
“Flauta de Pan”, “Os olhares
perdidos”, “Passagem de nível”, “O
armário de Midas”, “Escrita e o seu
contrário” (a publicar). Tem
colaboração dispersa por jornais e
revistas nacionais e estrangeiros
(Brasil, França, E.U.A. Argentina,
Cabo Verde...).
CONTATO: nicolau49@yahoo.com |
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