Senhora vossa
excelência madame chegue aqui ao pé de mim
quando tu me olhas o
meu ouvido que há tantos anos esqueci
o meu ouvido esquerdo
se assim o digo o do meio aquele mesmo do
fundo
o que amei mais do que
posso pensar o tal que me fazia tanta falta
ou é dos meus olhos já
agora o outro do outro lado
aquele meio assombrado
um lábio ou talvez o nariz
uma espécie de abalo de
terra um braço um dedo mindinho mais que não
fôsse
a estranha combinação
entre um ponto cardeal e uma frase
assombrada.
Então como é que vai
ser?
Mas como dizia madame
minha senhora sua relambona de firmes
convicções
Quero eu dizer há por
perto uma estrela um caco de barro um
encantamento
Pois não será assim ó
tu a quem julguei como Job na primeira
aparição
Senhora aqui entre nós
por entre os ramos sentem-se figuras um
pouco sumidas
E o teu contentamento o
teu digamos medo admiração digamos mesmo
surpresa
Calada senhora
caladinha é que tu devias estar
E mesmo que fôsse
frente ao mar e então e isso que é que
tinha
As coisas negras madame
não se acoitam em folhas em trejeitos em
limites menores
Já devias sabê-lo desde
que Hefestos passou para o lado onde tudo se
reconvertia.
Fatalmente senhora isto
teria de acabar mal bem mal
Como madame você
talvez saiba os destinos ora fecham ora
acabam
Ora abrem e se
suspendem no ar como uma lamentação
intempestiva
E eles sabem
compreendem concebem mesmo disfarçadamente
Que um pedaço de carne
um bocado de sangue um rasgo de veias
vibrantes
Ouvem-se ao crepúsculo.
Como se ouvem, essas palpitações!
Um impulso vem de cima,
dizem-me algures
Outro impulso vem de
baixo, se é que não se enganaram
Segue-se o norte
E depois o sudoeste e
provavelmente o ainda mais ao lado
E – quereis acreditar –
a solução é fingir que se não vê
Que nem há estrela, nem
nada que se pareça com madeira, nem sequer
Palavras que um
qualquer esqueceu e que procura esconder
atrás das costas.
Madame senhora ó
linda virgem das vestes arrepanhadas
O melhor é esquecermos
tudo e passarmos brandamente para o lugar
vazio
O melhor é
verdadeiramente colocar a mão sobre as
palavras amadas
Palavras isso sim
postas num papel, espalhando-se sobre a
nossa língua
A língua das palavras
dos gritos a língua língua dos mitos e dos
medos
Pois e agora como é
que eu o vou encontrar?
Disso não há em parte
alguma
Disso não se conhece
senão a silhueta
Disso não há nem menção
nem perfil
E muito menos um gesto
a esperança um arrepio.
Senhora querida madame
ó vulto que desenho em mim em ti com emoção
com fúria
Com pequenos amuos com
prováveis excelentes intenções
Veias minhas traços
meus de sangue sem que o soubesse mais
estranhos que o sol. |