As
palavras não caem no vazio
diz no
Zohar
nem dele
chegam até nós
As
palavras crescem umas vezes na amargura
outras na indiferença
outras
ainda no reboliço das horas
as
palavras afeiçoam-se alegremente como um
brinquedo de madeira
como uma
iguaria que tanto tempo se aguardou
sob uma
latada, na manhã ou na noitinha nascente.
As
palavras sabem tudo ou então o que inda é
melhor
nada
sabem e buscam o seu lugar entre os
objectos da casa
num
recanto do contentamento
Uma vez
pensei
em qual
seria a palavra mais bela, a que de repente
criaria
para este
aquele um momento de completa serenidade
um hálito
fortuito de alegria
ou
simplesmente um minuto de angústia
- aquela
que não punge, que é recordação
ou apenas
realidade.
A palavra
roseiral, que em pequeno ouvi
e que
sempre me acalenta
a palavra
horizonte, que nos intriga e que tem por
detrás
tantos
sonhos humanos de aventura e de crime
A palavra
silhueta, a palavra caminho
e essoutra
– madrugada – que abre o nosso coração
e o torna
a fechar depois.
E tantas,
tantas outras que nos rondam os dias que
temos
e tivemos
Por
exemplo a palavra que nos cai em cima como
uma árvore abatida
- pobreza
– essa palavra tão infeliz, tão só. Tão
perturbada.
Palavras
em espanhol, com seu guiso e suas lonjuras,
palavras
em
francês, em romeno com o seu passo
balançado
como uma dança
palavras
em islandês e quíchua, essa improvável
levitação.
Mas a mais
bela palavra sou eu que a tenho
e a trago
sempre comigo: nos ouvidos, na memória,
no coração
e nos pulmões
Entre as
mãos e sobre um joelho, no cotovelo
e num
bolso da camisa
e por ela
serei salvo. Por ela cheguei ao meu país
onde o
mistério se acoita.
Essa
palavra
fui eu que
a descobri. E é inteiramente minha.
Qual foi e
qual será
qual era?
Quem a conhece?
Quem a
descobrir
que ma
diga ou então, não podendo
que me a
escreva, numa folha
amorável
que me mandar
ou numa
pedra
que me
atirar
envolta
num papel com ela escrita
em
qualquer dia que calhe. |