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Das virtudes
Tupinambá
Camilo Prado
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Dentre as diversas nações aborígines que se encontravam em
terras “brasileiras” na época do
“descobrimento”, a nação Tupinambá está
entre as mais conhecidas, visto habitarem o
litoral. São dedicados aos Tupinambá grande
parte dos documentos escritos durante o
século XVI e XVII sobre os costumes dos
“selvagens” da América. É deles, na verdade,
a primeira imagem dos “selvagens
brasileiros” vislumbrada pelo mundo.
Evidentemente os Tupinambá, hoje nação
extinta, não representavam todos os costumes
e modos de vida aborígine existentes no
Brasil, mas, como habitavam a costa, onde os
primeiros exploradores chegaram, acabaram se
tornando os representantes da terra dos
“brasileiros”, e também aqueles que mais
duramente sofreram a bárbara invasão
européia, chegando até a extinção, não
antes, no entanto, de granjearem a fama de
serem o extremo oposto do civilizado homem
europeu. Eram povos guerreiros, que viviam
nus, não tinham reis, nem leis, nem deuses –
e eram canibais.
Os Tupinambá faziam parte de um conjunto de
nações que falavam a mesma língua e tinham
os mesmos costumes: os Tupi. Ocupavam
o litoral brasileiro desde a região hoje
denominada Maranhão até São Paulo. Daí poder
se falar dos Tupinambá do Rio de Janeiro,
dos da Bahia e dos do Maranhão, distantes e
inimigos, mas tendo os mesmos hábitos e
organização social. Aqueles que ocupavam a
região do Rio de Janeiro também eram
chamados Tamoios. Por outro lado, alguns
chamam de Tupinambá os Caeté, que habitavam
o que hoje é a região de Natal e Recife até
próximo ao rio São Francisco, pois estes
falavam a mesma língua e tinham os mesmos
costumes dos demais Tupi. Também os
Tupiniquim pertenciam aos Tupi, e tinham os
mesmos costumes que os Tupinambá. Essa
confusa diversidade Tupi deve-se a facções
ocorridas entre os aborígines antes da
chegada dos europeus. Contudo, como disse,
todos acabam pertencendo ao mesmo grupo
étnico, e, como diz Florestan Fernandes,
“revelando em seu sistema sócio-cultural os
mesmos traços fundamentais”.
Por isso uso aqui o termo Tupinambá
para generalizar povos aborígines de origem
comum, tal como o faz Florestan Fernandes e
tal como está nas fontes antigas, já
consagradas pelo uso.
No geral, aqui me detenho apenas em alguns
aspectos da cultura dos Tupinambá que
considero como “virtuosos”. Não me
expandindo, portanto, em diversos outros
pontos de sua cultura, como seus ritos de
passagem, suas cerimônias de sacrifício,
fúnebres e de nascimento, suas movimentações
guerreiras, etc., procurei apresentar
somente alguns dos valores morais desses que
foram, sem dúvida, os mais instigantes
“selvagens brasileiros”. Penso que este
texto nada mais é do que um mero esboço do
que poderia vir a ser um estudo sobre as
virtudes dos Tupinambá. Portanto, apesar
do título, este texto é meramente
introdutório, sem grandes pretensões de
dizer uma “verdade”. – O que não significa
que eu o tenha escrito sem algum estudo e
reflexão.
Se o levo a público, não é por crer que aqui
exista alguma pretensa contribuição
histórica ou algo do gênero, mas pura e
simplesmente por uma tentativa de instigar o
eventual leitor, quiçá de uma maneira
“estética”, a voltar seus olhos para um
período extremamente interessante de nossa
história e, por extensão, para si mesmo.
Ainda que me pareça impossível, hoje, ler
sobre os Tupinambá sem sentir-se um pouco...
ridículo. |
Do Físico (caça, pesca e...
guerra) |
É de se notar que já na carta de Pero Vaz de
Caminha, um dos primeiros relatos sobre os
aborígines desta terra, há boas referências
a bem feitura de seus corpos: “A feição
deles é parda, algo avermelhada; de bons
rostos e bons narizes. Em geral são bem
feitos.”
(...) “Também andavam entre eles quatro ou
cinco mulheres moças, nuas como os homens,
que não se apresentavam mal”.
Tais considerações foram depois largamente
repetidas: Jean de Léry nos informa que os
Tupinambá de Guanabara (Rio de Janeiro), com
os quais conviveu no ano de 1557, “não são
maiores nem mais gordos do que os europeus;
são porém mais fortes, mais robustos, mais
entroncados, mais bem dispostos e menos
sujeitos a moléstias”;
Gandavo narra na sua História da
província Santa Cruz, obra de 1576, que
“pela maior parte sam bem dispostos, rijos e
de bôa estatura; gente mui esforçada, e que
estima pouco morrer”,
e isso ainda após sete décadas de contato
com os europeus; Gabriel Soares, em escrito
de 1587, diz mais ou menos o mesmo: “Os
Tupinambá são homens de meã estatura, de cor
muito baça, bem feitos e bem dispostos,
muito alegres do rosto, e bem assombrados;
todos têm bons dentes, alvos, miúdos, sem
lhes nunca apodrecerem; têm as pernas bem
feitas, os pés pequenos... são homens de
grandes forças e de muito trabalho”.
De fato, desde cedo se iniciavam nos
trabalhos comunitários: as meninas, antes
dos sete anos eram já iniciadas na tecelagem
e no amasso do barro e, dos sete aos quinze,
aprendiam “a fazer tudo o que uma mulher
deve saber”,
ou seja, do plantio à colheita, até a
manufatura dos utensílios domésticos e o
preparo do alimento da família; os meninos:
dedicavam-se à pesca, à coleta de ostras e
mariscos, bem como à caça de aves e, a
partir dos quinze, “participavam das
derrubadas e do arroteamento das terras”,
“fabricavam arcos, flechas, caçavam com cães
e na pesca flechavam peixes de grande porte”,
e também remavam nas expedições de guerra.
Daí serem eles “mui ligeiros para saltar e
trepar, grandes corredores e extremados
marinheiros”.
Também tinham bons ouvidos, visão e olfato,
conforme dá notas Gabriel Soares ao falar de
suas habilidades em andar nas florestas.
Provinha dessas atividades físicas
provavelmente a boa disposição dos seus
corpos, comumente relatada pelos europeus.
Além disso, eram nações guerreiras, cuja
própria boa ordem social dependia em grande
parte da guerra. O que significa que além de
caçadores e pescadores, eram também
guerreiros, e enquanto tais precisavam estar
sempre aptos à luta. Podemos supor ainda que
era isso, aliado a uma boa alimentação de
raízes, frutas, carnes e peixes, que
mantinha seus corpos “bem feitos”, para usar
a expressão de Pero Vaz, e que os levava à
longevidade. Pois Jean de Léry fala que
muitos chegavam “a 120 anos”,
e Abbeville, citado por Fernandes, fala em
Tupinambá com 160 a 170 anos de idade.
Além da força física tinham muita agilidade
e coragem; e essas virtudes tinham entre si
em alta consideração, tanto que na caça,
aquele que matava uma onça recebia as mesmas
honras do que aquele que matava um inimigo
em combate.
Na verdade, tais distinções entre o caçador,
o pescador e o guerreiro, somos nós quem a
fazemos, já que, como bem observa Florestan
Fernandes: “O pescador, o caçador e o
guerreiro coexistiam na mesma pessoa”.
Assim, sendo bem feitos de corpo,
caçadores-guerreiros, e estando tais
atividades ligadas ao prestígio
pessoal-social, ser um grande caçador ou
guerreiro era também ser um indivíduo
considerado dentro da aldeia, de onde a
honra dupla: na guerra e na sociedade.
Não era, no entanto, simplesmente pela boa
constituição física que os Tupinambá
granjeavam a fama de “mui belicosos”;
em seu longo estudo Organização social
dos Tupinambá, Florestan Fernandes
sustenta que a guerra era vital para a
manutenção da ordem social das tribos:
Em conexão com ela realizavam-se muitas
coisas importantes, do ponto de vista da
preservação da eunomia tribal. Entre elas,
deve-se mencionar a sua relação com a
determinação do status no sistema de
relação intragrupal e tribal; o papel do
adestramento guerreiro das novas gerações na
continuidade do sistema de categorias de
idade; a atualização dos valores tribais
associados ao complexo guerreiro; a
perpetuação e intensificação dos laços de
solidariedade intragrupal e tribal; e, por
fim, a própria conservação de um estado de
equilíbrio intragrupal, intercomunitário e
intertribal, considerado ideal ou eunômico
pelos Tupinambá.
O que significa que a sociedade Tupinambá
girava em torno da guerra constante: “andão
sempre nella exercitados”. Sua estrutura
“hierárquica” estava relacionada à guerra. O
mborubichá, ou seja, o principal de
uma aldeia, tinha esse “posto” justamente
por ser um grande guerreiro, matador de
muitos inimigos; por isso sempre mais velho,
com muitas incisões pelo corpo que “indica o
número de vítimas sacrificadas e lhes
aumenta a consideração dos companheiros”.
*
Era por volta dos 25 a 30 anos que um
tupinambá tornava-se guerreiro e
participante dos combates; ao capturar um
inimigo na batalha, este era trazido para a
aldeia, mantido prisioneiro, engordado e
sacrificado. Aquele que o sacrificava
ganhava novo nome e incisões no corpo,
normalmente feitas pelo principal da aldeia.
E somente depois desse ritual de sacrifício,
incisão e troca de nome, é que um tupinambá
contraía núpcias; isso porque “ao homem só
era permitido o casamento dois ou três anos
depois de ter sacrificado ritualmente um
inimigo aprisionado por ele próprio”.
Sobre esse prestígio, daquele que matava um
inimigo em combate, ou o capturava e o
trazia para a aldeia onde seria morto e
comido segundo um longo ritual, Florestan
Fernandes dedicou algumas páginas em seu
estudo,
sobre o qual não pretendo me deter. Basta,
no entanto, repetir que na interpretação de
Fernandes esse ritual de sacrifício e
canibalismo contribuía para a eunomia da
tribo. A vendetta, bastante referida
pelos cronistas da época, segundo Fernandes
era “uma forma de compensação – substituição
de uma pessoa por outra no sistema de
relações sociais”;
vingando a morte de um parente morto por uma
nação inimiga restabelecia-se o equilíbrio
social, honrava-se a tribo. Daí todo um
ritual para o sacrifício, com participantes
inclusive de aldeias muito distantes, que
vinham somente para participar da “festa” e
ganhar sua parte do inimigo morto. Isso se
relacionava também com a reverência aos
antepassados, que os Tupinambá cultuavam.
Eduardo Viveiros de Castro, em A
inconstância da alma selvagem, tem, no
entanto, uma interpretação distinta, mas
concorda com a tradição dos cronistas. Para
ele o motivo era mesmo a vingança, e vê no
ritual de sacrifício uma “afirmação do
tempo”, um liame entre o passado e o futuro:
“o rito era o grande Presente”.
Não nega, no entanto, a guerra como base da
estrutura da sociedade Tupinambá, já que
“sem a vingança, isto é, sem inimigos, não
haveria mortos, mas tampouco filhos, e
nomes, e festas. Assim, não era o resgate da
memória dos finados do grupo que estava em
jogo, mas a persistência de uma relação com
os inimigos. Estes eram os guardiões da
memória coletiva, pois a memória do grupo –
nomes, tatuagens, discursos, cantos – era a
memória dos inimigos”.
*
A coragem dos prisioneiros Tupinambá chamou
muito a atenção dos cronistas e até mesmo do
filósofo Michel de Montaigne, que nos seus
Ensaios dedicou algumas páginas aos
canibais brasileiros: “Não se vê nenhum que
não prefira ser matado e comido a pedir
mercê”.
Isso porque era honroso morrer nas mãos
inimigas, capturado numa batalha, e era a
essa honra que estava aliado o tão referido
sentimento de “vingança” dos Tupinambá.
Honra e coragem que eram uma das bases
morais de sua organização social. Como narra
Léry, o prisioneiro, “apesar de não ignorar
que a assembléia se reúne para seu
sacrifício dentro de poucas horas, longe de
mostrar-se pesaroso enfeita-se todo de penas
e salta e bebe como um dos mais alegres
convivas”.
Os principais de cada aldeia eram justamente
aqueles mais honrados e corajosos porque
eram os que mais inimigos haviam matado, e
que, diferente dos “chefes” europeus, ao
irem para a guerra faziam o papel de
“capitão da dianteira, que eles têm por
grande honra, o qual vai mostrando o
caminho”,
e dando o exemplo de coragem. Uma exacerbada
confiança em si mesmo que transparece também
na crônica de Gandavo, “quando vão á guerra
sempre lhes parece que têm certa a victoria
e que nenhum de sua companhia hade morrer. E
quando partem dizem, vamos matar: sem mais
consideração, e não cuidão que tambem podem
ser vencidos”.
Quando quebrada então a harmonia da tribo,
com a morte de um membro ocorrida em
confronto com inimigos, alvoroçavam-se em
busca de vingança. Era preciso matar
o inimigo para “compensar” – na
interpretação de Fernandes – a perda do
companheiro morto e recompor o equilíbrio
social. Deste modo, preparavam-se para a
guerra; que era, aliás, a maior causa
mortis entre os Tupinambá – e um
eficiente e inconsciente controle
populacional, biologicamente natural,
sobretudo porque a tribo inimiga atacada,
viria, numa hora ou outra, revidar o ataque
recebido e seus guerreiros mortos; “e assi
vai crescendo o odio cada vez mais e ficão
inimigos verdadeiros perpetuamente”,
como diz Gandavo.
Florestan Fernandes afirma que esse estado
belicoso constante dos Tupinambá tinha na
verdade um amplo aspecto, e mesmo que
“ninguém pode dizer com exatidão atualmente
até onde se estendia a guerra ao inimigo”,
o fato de uma série de atividades estarem
interligadas mostra “um todo orgânico
indecomponível”. “A guerra, a atribuição de
um status ao prisioneiro, o
sacrifício ritual, a antropofagia cerimonial
e as cerimônias de renomação constituíam
variáveis de uma mesma função”.
Na perspectiva de Viveiros de Castro, que
não nega este todo “indecomponível”, o “que
a vingança guerreira tupinambá exprimia, ao
se constituir como valor cardinal dessa
sociedade, era uma radical incompletude –
uma incompletude radicalmente positiva”.
Tal incompletude buscava no outro, no
inimigo, a sua completude.
De qualquer modo, a belicosidade dos
Tupinambá nos leva a sua ordem social, já
que, como dito acima, a guerra lhe garantia
a unidade e mantinha os laços de “irmandade”
da tribo. |
Da sociedade (sem lei) |
Uma tribo Tupinambá era composta por uma
confederação de aldeias, tendo cada aldeia
vários casarões, chamados malocas,
onde viviam numerosas famílias, em torno de
até 300 ou 500 pessoas. Essas pessoas
adquiriam status conforme a idade.
Pessoas da mesma idade eram iguais e se
consideravam entre si como irmãos,
diferenciando-se apenas em graus de
qualidades de caráter e esforço. Segundo o
quadro apresentado por Florestan Fernandes,
as idades eram divididas da seguinte forma:
Peitan, crianças recém-nascidas, de
ambos os sexos; Kunumy-miry e
Kugnatin-miry, respectivamente, menino e
menina, depois que começavam a andar;
Kunumy e Kugnatin, rapaz e
rapariga, entre 7 e 8 anos até os 15;
Kunumy-uaçu e Kugnammuçu, moço e moça,
entre 15 e 25 anos; Aua e Kugnam,
homem e mulher, entre 25 e 40 anos;
Thuyuae e Uainuy, homem e mulher
com mais de 40 anos.
Tanto os Thuyuae quanto as Uainuy
tinham o respeito de todos os mais jovens,
bem como se respeitavam mutuamente. Aliás, o
respeito pelos mais velhos era uma das
principais virtudes dos Tupinambá, para nós
hoje inacreditável, visto o tratamento
dispensado às crianças: “Não dão os
tupinambás a seus filhos nenhum castigo, nem
os doutrinam, nem os repreendem por coisa
que façam”,
e no entanto: “Em pequenos, escreve Cardim,
são obedientíssimos a seus pais e mães, e
todos muito amáveis e aprazíveis”.
Cada família, composta por um homem, um
Aua ou Thuyaue, e uma ou mais
esposas e filhos, ocupava um espaço dentro
da maloca, onde cada pessoa tinha sua
própria rede. Nas plantações (que eram
comuns, mas divididas em trechos
pertencentes a cada família e com partes
para as hortas pertencentes a cada esposa)
somente as mulheres trabalhavam, com exceção
da derrubada da mata e preparo da terra, que
era de feitoria dos homens. Pai e filhos
caçavam, pescavam, cortavam lenha e
guerreavam, obedecendo a categoria de
idades. Tudo o que um homem caçava ou
pescava entregava a sua mulher, ou a sua
mãe, no caso de solteiros.
Não ficava para as mulheres a parte mais
pesada dos trabalhos, como se convencionou
considerar, pois na realidade se
equilibravam as tarefas, tanto quanto o seu
peso, entre elas e os homens. E o mais
importante: ambos os sexos dependiam um do
trabalho do outro.
São essas, ao menos, as conclusões do estudo
de Florestan Fernandes, que contraria a
visão generalizada de que o homem aborígine
brasileiro trabalhava menos do que a mulher.
Incide sobre essa generalização até mesmo o
monumental Gilberto Freyre: “Os indígenas do
Brasil estavam, pela época da descoberta,
ainda na situação de relativo parasitismo do
homem e sobrecarga da mulher”.
A propósito, vale aqui mencionar uma
observação de Mesgravis e Bassanezi Pinsky
sobre outro mito, a “preguiça” dos
aborígines brasileiros: “É interessante
ressaltar que (...) nenhum dos cronistas dos
séculos XVI e XVII consideram-nos indolentes
ou preguiçosos. Essa imagem foi elaborada no
século XIX, quando se quis explicar as
razões de empregar o negro no trabalho
escravo”.
Em corroboração com isso, caberia
acrescentar algo sobre a educação dos jovens
Tupinambá. Enquanto as mães ensinavam as
meninas, os pais ensinavam os meninos; tal
ensino se dava através do exemplo, nunca
através da autoridade ou da força. Ives d’Evreux
presenciou um fato interessante a esse
respeito, computado por Fernandes, que
mostra que a preguiça do homem
aborígine não passa de uma invenção
histórica:
Thion, um grande cacique do grupo local do
Mearim, fabricava rêdes de algodão. Evreux
perguntou-lhe por que se dedicava a tal
trabalho e obteve a seguinte resposta:
porque os rapazes observam minhas ações e
praticam o que eu faço; se eu ficasse
deitado na rêde e a fumar, eles não
quereriam fazer outra coisa: quando me vêem
ir para o campo com o machado no ombro e a
foice na mão, ou tecer rêdes, eles se
envergonham de nada fazer
.
Para finalizar esse assunto cito a conclusão
de Florestan Fernandes:
Em
resumo, o sistema de divisão do trabalho
Tupinambá põe ênfase especial na dicotomia
sexual e, em segundo lugar, no princípio da
diferenciação por idade. A dependência dos
homens em relação à mulher era muito grande,
acontecendo o mesmo no lado inverso. As
ocupações apresentam-se à análise como
reciprocamente complementares, altamente
interdependentes e bastante integradas
quanto à exploração dos recursos naturais.
*
Os frutos do trabalho, coletivo ou
individual, eram sempre divididos. “Brandão
informa que as plantações eram coletivas,
mas não ocorriam conflitos na apropriação
dos produtos agrícolas. Porque, explica,
cada um consome de acordo com suas
necessidades”.
E apesar de terem tido animais domesticados,
deles comumente não se alimentavam. Jean de
Léry fala das galinhas portuguesas criadas
somente para se tirarem as penas,
e acrescenta que “só muito raramente se
alimentam com animais domésticos”.
Gabriel Soares diz que “Este gentio não come
carne de porco, dos que se criam em casa”,
comiam apenas dos porcos selvagens que
caçavam. Ou seja, como bem o resume Gilberto
Freyre: “Os animais domesticados entre os
indígenas quase eram simplesmente para fazer
companhia à pessoa e não para servi-la nem
fornecer-lhe alimento”.
Uma exceção seriam os cachorros,
domesticados pelas mulheres e que auxiliavam
os homens em algumas caçadas.
Dentro das malocas, bem como nas aldeias de
modo geral, reinava uma grande e admirável
paz entre os Tupinambá. “Em cada casa destas
vivem todos muito conformes, sem haver nunca
entre elles nenhumas differenças: antes sam
tam amigos huns dos outros, que o que he de
hum he de todos”,
diz Gandavo. E Jean de Léry, que no período
de quase um ano conviveu com os Tamoios de
Guanabara, afirma que só presenciou duas
brigas, e que isso era coisa “rara” entre
eles;
e não esqueçamos: isso já com meio-século de
contato com os brancos. De modo geral as
fontes dão testemunho dessa vivência
pacífica,
apreciada e comentada por Florestan
Fernandes no seu estudo. Para ele, a paz
reinante nas tribos Tupinambá devia-se a sua
organização, cujas “relações sociais
assumiam o caráter de relações amistosas,
estabelecendo-se, como ideal, o autodomínio
dos sentimentos e emoções; como norma
fundamental de conduta, o respeito
recíproco, a moderação e a docilidade”.
Essa “docilidade” aliada a igualdade, que
eles vivenciavam diariamente, torna-se aos
nossos olhos atuais uma utopia. “E
sempre de qualquer cousa que hum coma por
pequena que seja, todos os circunstantes hão
de participar della”,
diz Gandavo. Fernandes cita um testemunho de
Ives d’Evreux que fala de uma aldeia em que
só havia farinha para se comer e um rapaz
apareceu trazendo uma perdiz, entregou-a
para sua mãe, que a preparou: “cozinhou-a,
deitou-a num pilão, reduziu-a a pó, e
juntando-lhe folhas de mandioca, fez ferver
tudo, e depois de bem picado ou cortado em
pedaços, desta mistura fez pequenos bolos,
do tamanho de uma bala, e mandou
distribuí-los pela aldeia para cada
choupana”. |
Da sociedade (sem rei) |
Cada aldeia, por sua vez, tinha um ou dois
principais, que era um Thuyaue mais
carismático e grande guerreiro, os chamados
morubixabas e caciques, que formavam junto
com os demais velhos um “conselho” de
anciões, entre os quais normalmente havia
também um pajé, ou karaiba. Os
representantes da tribo, como um todo, eram
os caciques, morubixabas e pajés de cada
aldeia, bem como os mais conceituados
guerreiros, que formavam o “conselho” de
anciões onde, teoricamente: “todos os velhos
equivaliam-se e dispunham da mesma
autoridade”.
Isso fez com que os Tupinambá que compunham
a comitiva levada ao rei Carlos IX, em Ruão,
segundo narra Montaigne, tenham achado
estranho que “tão grande número de homens de
alta estatura e barba na cara, robustos e
armados e que se achavam junto do rei se
sujeitassem em obedecer a uma criança”.
Dentre esses principais, por vezes, um
granjeava mais admiração que os demais, daí
a fama histórica de alguns, como Cunhambebe,
Japi-açu, Thion ou Arraia-Grande, este
último da tribo Caeté. Entretanto, a
autoridade que esses, e todos os demais
principais, exerciam sobre os membros da
tribo era bastante limitada. No dizer de
Gandavo: “tem um principal que he como
capitão, ao que obedecem por vontade e não
por força”;
que segundo Gabriel Soares: “a que seguem
somente na guerra onde lhe dão alguma
obediência, pela confiança que têm em seu
esforço e experiência, que no tempo de paz
cada um faz o que o obriga seu apetite”;
e no testemunho de Jean de Léry: “Embora não
tenham reis nem príncipes, e sejam iguais
entre si, a natureza lhes ensinou o mesmo
que os lacedemônios, isto é, que os velhos a
quem chamam peorerupiché, em virtude
da experiência, devem ser respeitados e
obedecidos nas aldeias quando se oferece
ocasião”.
Um principal, cacique ou morubixaba,
conquistava seu “posto” por merecimento e
simpatia, já que não havia escolha ou, menos
ainda, eleição. A posição de principal numa
aldeia era adquirida de várias maneiras.
Antes de tudo um principal havia de ser um
grande guerreiro, freqüentemente descendia
de uma família de grandes guerreiros,
portanto havia o peso do parentesco, mas que
nada valia se o indivíduo não mostrasse
valor nas batalhas; também normalmente
possuía muitas mulheres e muitos filhos,
sobretudo esses últimos aumentavam o
prestígio de um homem. Aliado a isso, havia
também de ser um grande orador, capaz de se
fazer convencer nas assembléias dos anciões.
Segundo alguns cronistas,
os Tupinambá eram muito amigos da oratória,
e aquele que possuía tal dom era chamado
senhor da fala. E um orador podia passar
até uma noite inteira falando que teria quem
o ouvisse. Faziam até uma espécie de
“seleção de oradores” que podia durar dois
ou três dias, durante a qual “formavam
grupos de discussão, cujos membros
procuravam derrotar os pretendentes”.
Também contribuía para o status de
principal trazer junto ao pescoço, em forma
de colar, os dentes de seus inimigos
sacrificados, belas pedras polidas enfiadas
no rosto, penas de aves raras na região, e
tudo o mais que provasse ser fruto de
esforço e conquista pessoal. “Dificilmente
um indivíduo poderia aumentar o seu
prestígio sem que possuísse realmente grande
capacidade de trabalho”,
constata Florestan Fernandes.
O “posto” de principal, no entanto, nem
sempre era garantido, visto que o morubixaba
que cometesse algum erro caía
automaticamente no desprezo e
desconsideração da aldeia, perdendo o seu
status dentro da sociedade aborígine. O
que significa que o mesmo “sistema” que
incentivava e favorecia o status
social, também o retirava quando o indivíduo
não o merecia.
Após anos como morubixaba, alguns se
tornavam pajés, os mediadores entre os
antepassados mortos e os descendentes vivos,
entre o mundo sobrenatural e o natural. Os
Tupinambá atingiam idades muito avançadas,
120 a 160 anos, como foi dito. Alguns iam se
aperfeiçoando em sua sabedoria, em sua
oratória, em seus conhecimentos de cura e
nos mistérios da “magia”; na medida em que
fossem sendo convincentes e preservassem o
carisma da tribo adquiriam o prestígio de
pajé, o que só era alcançado, portanto,
gradativamente. “Encarada de uma perspectiva
vertical, a carreira do pajé consistia no
desfecho da existência de um indivíduo
singularmente capaz e bem sucedido”.
Eram considerados os melhores e os mais
respeitados entre todos. Alguns pajés
permaneciam como morubixaba, no mais das
vezes, no entanto, já não guerreavam, apenas
incitavam à guerra como participantes do
conselho dos anciões, ou como visitantes
esporádicos das aldeias, o que significa,
nesse caso, que viviam sozinhos, mesmo que
próximo das aldeias.
Dado importante a se notar aqui é que um
pajé também poderia deixar a existência de
um modo nada honroso. Tornar-se pajé era
atingir o máximo em consideração entre os
Tupinambá, mas, se o pajé falhasse, era
considerado indigno do título e morto.
“Por isso não se revê jamais quem uma vez
errou”,
sentenciará Montaigne.
Considerando um indivíduo que se tornasse
guerreiro aos 30 anos e alcançasse ser pajé
aos 100, teria vivido pelo menos 70 anos de
guerra, e sair vivo de mais de 70 batalhas é
coisa para poucos; e para menos ainda era
aliar à sua sorte nas batalhas o
conhecimento medicinal e os mistérios do
invisível, tudo isso que poderia ser perdido
por um simples vaticínio que não se
cumprisse. Prova inquestionável de uma
sociedade baseada num rigoroso sistema de
valores e que não tolerava nenhuma falha,
mesmo por parte daqueles que eram os mais
honrados, e que ocupavam o “posto” mais alto
entre eles; o que faz desses “bárbaros”
realmente uma nação de iguais, onde aquele
que pretendia ser o melhor tinha de ser de
fato, caso contrário era morto, ou no melhor
dos casos, desprezado. |
Da sociedade (sem deus) |
Sabe-se que os Tupinambá cultuavam os
antepassados, que acreditavam estarem em um
lugar além dos Andes, numa espécie de
paraíso, a Terra sem mal. Mas não
lhes faziam nenhum culto, nenhuma oferenda,
nenhuma reza. Apenas guardavam, de pai para
filho, a memória de seus avós, sua bravura e
coragem, seus combates e vitórias, e para
honrá-los buscavam viver “dentro das normas
consideradas certas, que são as de matarem e
comerem muitos inimigos”, porque um dia
iriam também “para além das altas montanhas
dançar em lindos jardins com as almas de
seus avós”.
Não tinham para isso nenhuma representação
que lembrasse divindades, pois não as
tinham, e nenhum templo para orações, pois
não oravam. Daí as constantes afirmações de
espanto sobre o seu ateísmo; e que
por isso os consideraram “mais bárbaros que
quantas criaturas deus criou”.
E se tinham muitas superstições, se temiam a
escuridão da noite, e se asseguravam com o
pajé para se protegerem do Ainhan,
espírito maligno que lhes poderia atormentar
e que lhes aparecia em forma de bichos do
mato ou aves do céu, não significa que
tivessem divindades. “Embora seja aceita
universalmente a sentença de Cícero, de que
não há povo, por mais bruto, bárbaro ou
selvagem que não tenha idéia da existência
de Deus”, diz Léry, “quando considero os
nossos tupinambás vejo-me algo embaraçado em
lhe dar razão”.
Isso justamente porque Léry não encontrou
nada entre eles que fosse motivo de
adoração. E quando tentava convencer os
aborígines da existência de seu deus,
apelando para o ruído dos trovões, e
afirmando-lhes “que era deus quem assim
fazia tremer o céu e a terra a fim de
mostrar sua grandeza e seu poder, logo
respondiam que se precisava intimidar-nos
não valia nada”.
Mas, sendo muito receptivos e amigos dos
discursos, ouviam com prazer e muita atenção
as pregações dos jesuítas, para em seguida
ignorá-las absolutamente. Encontravam-se num
estado “psicológico” em que, ao contrário
dos ateístas que negam deus, os Tupinambá
simplesmente não tinham a menor noção do que
seria isso. “Não crêem nem deixam de crer:
os índios, pelo jeito, não conseguiam
acreditar nem em Deus, nem no terceiro
excluído. Ou, como diria mais tarde Vieira:
‘ainda depois de crer, são incrédulos’”.
Os historiadores, antropólogos e
“indianistas” em geral, chamam a atenção
para este fato: os europeus conheciam
diferentes povos e indivíduos que, por
crerem em outros deuses ou ídolos, negavam o
deus cristão e a fé da “santa religião”, mas
nunca na sua história haviam se deparado com
um povo que, não só não tinha fé,
lei e rei, como também não fazia
o menor caso disso.
Irritaram – deveras – os Anchietas e
Nóbregas o fato de que muitos aborígines
aceitavam o batismo pela manhã, iam a guerra
a tarde e comiam assado o prisioneiro a
noite. Essa “inconstância da alma selvagem”,
segundo Viveiros de Castro, é algo que ainda
hoje está por ser entendido: “penso que esse
enigma continua a nos incomodar, a nós
antropólogos, mesmo que por motivos outros
que os dos velhos jesuítas”, diz ele. E
conclui: “Por fim, e sobretudo, ela [a
inconstância] constitui um desafio cabal às
concepções correntes de cultura,
antropológicas ou leigas, e aos temas
conexos da aculturação ou da mudança social,
que dependem profundamente de um paradigma
derivado das noções de crença e de
conversão”.
A sentença de Cícero, de que não há povo sem
deus – “noções de crença e de conversão” no
dizer de Viveiros de Castro – perde aqui sua
universalidade. E, é interessante ressaltar,
apesar da ausência de deus, lei
e rei, cada tribo vivia harmoniosa e
saudavelmente bem e seus indivíduos muito
mais livres do que os europeus. |
Da sexualidade |
Esse caráter ateísta dos Tupinambá,
de início, foi mera constatação positiva:
“por onde parecer a todos que nenhuma
idolatria nem adoração têm. E bem creio que,
se Vossa Alteza aqui mandar quem entre eles
mais devagar ande, que todos serão tornados
e convertidos ao desejo de Vossa Alteza”,
diz a otimista carta de Pero Vaz ao rei de
Portugal. Constatação essa que
posteriormente trouxe para cá os jesuítas e
os calvinistas – a estes últimos pertencia o
grupo de Villegagnon, que se instalou na
baía de Guanabara, na época sob o domínio
dos franceses e do qual fazia parte Jean de
Léry.
Esses evangelistas, mesmo que inseridos num
contexto mais amplo, declaradamente
colonizadores, não deixavam de crer na
possibilidade de converterem os “selvagens”
à “santa igreja”. Contudo o que conseguiram
foi apenas “amansar” alguns grupos, na
verdade, a maioria crianças, que se tornaram
pupilos-escravos dos jesuítas; já que os
mais velhos, “que sam aquelles em que menos
fruitifica a semente de sua doctrina”,
fugiam “para o sertão”.
Essa primeira crença de que os “selvagens
brasileiros” por viverem sem fé, deveriam e
poderiam se cristianizar, aliado à visão
paradisíaca que os primeiros exploradores
tiveram sobre a vida dos aborígines da
costa, ou seja, dos Tupinambá, caiu logo por
terra quando percebeu-se a dificuldade de
fazê-los crer, que deixassem de ser
bárbaros, principalmente, a
barbárie da guerra e do canibalismo.
Mas isso não era tudo. Devido à divisão por
idades, o que possibilitava o casamento dos
homens em média por volta dos 30 anos – das
mulheres logo depois da primeira menstruação
– levava os jovens a soluções nada européias
para a satisfação sexual. Narra Gabriel
Soares que as velhas, desprezadas pelos
maridos que tomavam novas esposas, acabavam
satisfazendo as necessidades dos jovens:
“porque as velhas, já desestimadas dos que
são homens, granjeiam estes meninos,
fazendo-lhes mimos e regalos, e ensinam-lhes
a fazer o que eles não sabem”.
Além disso, tinham eles uma espécie de
“escola matrimonial”: a família, ao perceber
a puberdade no filho, presenteava-lhe alguma
mulher que se dispusesse a servir de
parceira sexual. E tinham também um
casamento de prova – para os guerreiros que
ainda não haviam sacrificado inimigos e não
tinham mudado de nome – em que os noivos
faziam um teste para saber se se
adaptariam um ao outro, casando-se
provisoriamente, com consentimento dos pais
e do conselho dos anciões; mais tarde o
casal decidia se permaneceriam juntos ou não.
Os Tupinambá não tinham, portanto, a menor
preocupação com castidade, apenas as
meninas, ao perderem a virgindade, casadas
ou não, deviam retirar os fios de algodão
amarrados na cintura e nos braços – que eram
a prova de sua virgindade –. Retirando-os,
deixavam ver que já haviam mantido relações.
Isso, no entanto, não as denegria em nada,
“porque não falta quem lha peça por mulher
com essa falta”.
Também entre os moços era bastante comum o
homossexualismo, “entre os quais se não têm
por afronta”, segundo a pena cristã de
Gabriel Soares, “e o que se serve de macho,
se tem por valente, e contam esta
bestialidade por proeza; e nas suas aldeias
pelo sertão há alguns que têm tenda pública
a quantos os querem como mulheres públicas”.
E não bastasse isso, para completar a
afronta aos medievos cristãos europeus:
Algumas indias se achão nestas partes que
jurão e prometem castidade, e assi não casão
nem conhecem homem algum de nenhuma
qualidade, nem no consentirão ainda que por
isso as matem. Estas deixão todo o exercicio
de mulheres e imitão os homens e seguem seus
officios como se não fossem mulheres, e
cortão seus cabellos da mesma maneira que os
machos trazem, e vão á guerra com seu arco e
frechas e á caça: emfim que andão sempre na
companhia dos homens, e cada huma tem mulher
que a serve e que lhe faz de comer como se
fossem casados.
Também Pero Correia testemunha a existência
dessas guerreiras Tupinambá: “há cá muitas
mulheres que assim nas armas como em todas
as outras coisas seguem ofício de homens e
têm outras mulheres com quem são casadas”.
Essas guerreiras lésbicas – que não
eram as Icamiabas responsáveis pelo
nome feminino de um grande rio, o
Amazonas – participavam também dos
rituais de cauinagem, próprio dos
homens, é ao menos o que se pode inferir de
um trecho de Gabriel Soares: “às vezes anda
um par de moças cantando entre eles [os
homens], entre as quais há também mui
grandes músicas, e por isso mui estimadas”.
É plausível supor ainda que tais guerreiras
também passassem pelos rituais de sacrifício
e renomação, quando eventualmente capturavam
um inimigo, visto que, segundo Pero Correia,
“a maior injúria que lhes podem fazer é
chamá-las mulheres”.
Tal liberdade nas relações sexuais,
compreensivelmente chocante para os
europeus, foi um dos motivos para
classificá-los como luxuriosos, “tão
luxuriosos que não há pecado de luxúria que
não cometam”,
e conseqüentemente, ateus.
A aceitação desses costumes – segundo os
cristãos, “anti-naturais” – até mesmo para
um intelectual do século XX como Florestan
Fernandes parece incômodo. Fernandes
considera que as mulheres guerreiras
“constituíam desvios psicológicos do tipo
ideal de personalidades-status femininas”
(sic). E interpreta a prática da sodomia
entre os Tupinambá como tendo motivo nas
“dificuldades na obtenção de parceiras
sexuais”.
Se ele está correto nessa conclusão, ou não,
talvez somente um estudo aprofundado sobre o
tema pudesse provar. No entanto é curioso
que opte por uma explicação clássica sobre a
homossexualidade, a falta de mulheres, numa
obra de 1946, quando tal explicação já
perdia seu valor científico. Aliás,
Gilberto Freyre, escrevendo em 1933, não
tinha essa mesma percepção clássica
de Fernandes: “a verdade é que entre os
ameríndios se praticava a pederastia sem ser
por escassez ou privação de mulher”;
e sendo eles “muito afeiçoados ao pecado
nefando”,
é bem provável que o praticassem mesmo por
prazer – como o praticavam e praticam o
resto da humanidade.
Em suma, tal postura dos Tupinambá em
relação à sexualidade, é de se imaginar,
bateu de frente com os ensinamentos dos
evangelistas europeus. Como não tinham a
menor consciência do que viria a ser
continência sexual: “Os
missionários assombraram os aborígines por
causa disso, servindo-lhes, mesmo, como
motivo de mofa”.
Isso, claro, antes que a coisa se
invertesse, pois logo seriam os missionários
a mofar dos aborígines: “Por crime de
sodomia aparecem, no fim do século XVI,
perante o visitador do Santo Ofício, vários
indígenas e mamelucos: homens ainda mal
cristianizados, católicos ainda meio crus”.
O próprio termo “bugre”, segundo Gilberto
Freyre, talvez viesse a designar os
aborígines brasileiros por conta da prática
sodomítica, “talvez exprimisse o horror
teológico de cristãos mal saídos da Idade
Média ao pecado nefando, por eles associado
sempre ao grande, ao máximo, de
incredulidade ou heresia”, pois, para o
cristão medieval, o termo bugre tinha
impregnado em si a “idéia pegajosa de pecado
imundo”.
De qualquer modo, vale notar que não viviam
licenciosamente os nossos Tupinambá, “que,
ao contrário do que se imagina, os homens
conservam sua honestidade natural e nunca
copulam com suas mulheres em público”,
diz Léry. Gabriel Soares ao se referir aos
sodomitas fala em “alguns que têm tenda
pública a quantos os querem como mulheres”;
o que indica que também esses não mantinham
relações em qualquer lugar. E Florestan
Fernandes, quanto a esse ponto, acata o
testemunho de Léry e de outros, concluindo
que seria um equívoco pensar que a liberdade
sexual alcançada pelos Tupinambá “se
confundia com qualquer espécie de
licenciosidade sexual”.
Com o que também Gilberto Freyre concorda,
afirmando que, se “o ambiente em que começou
a vida brasileira foi de quase intoxicação
sexual”, pois “o europeu saltava em terra
escorregando em índia nua”,
isso se deveu sobretudo ao português, pois
foi ele, dos três elementos étnicos que
formaram o Brasil, “o mais libidinoso”. |
De outras virtudes |
Os Tupinambá costumavam estar a par de tudo
o que se passava com cada um de seus
companheiros. Além da cordialidade nos
cumprimentos de bom-dia, boa-tarde, etc.,
cuja resposta era “para vós também”, e que
comumente todos usavam, “encontrando-se nos
caminhos, perguntavam ao companheiro de onde
vinha, o que fora fazer etc. O outro
respondia com minúcias, relatando o que
fizera, de onde vinha etc.”. Também “se
vissem algum companheiro pensativo,
indagavam logo os motivos de suas
preocupações”,
e este lhes contava. Do mesmo modo agiam
“quando viam dois companheiros conversando”,
logo se inteiravam do assunto. E desse modo
sempre a “curiosidade era satisfeita com
cortesia e prontidão”,
o que mostra a força dos laços afetivos e,
sobretudo, a ausência de sentimentos ou
saberes segredados. Evidenciando por outro
lado a ausência de dissimulação e de
mentiras.
“Quando um Tupinambá desejava alguma coisa
pertencente a um companheiro, pedia-a
francamente. O pedido era sempre satisfeito,
dependendo a presteza do grau de valor
atribuído pelo dono à coisa possuída”.
Suas posses – ou, como disse Hans Staden,
“seus tesouros – são penas... e cristais”,
mas também armas, ferramentas, instrumentos
musicais e outros objetos pessoais. No caso
então de serem pedidos alguns desses objetos,
o proprietário lhes dava, ficando o
beneficiado na dívida de também lhe dar algo
que o outro lhe pedisse. O que significa,
segundo a interpretação de Fernandes, que
havia “um princípio de compensação que
tornava estes objetos: a) facilmente
acessíveis a outras pessoas, aparentadas ou
amigas; b) facilmente transmissíveis a estas
mesmas pessoas”.
A cortesia e igualdade estavam presentes
também nas reuniões do “conselho” de
anciões, onde primeiramente “o cacique
expunha publicamente as razões da convocação
dos companheiros” e “a seguir, os velhos
opinavam sobre o assunto. As regras de
polidez obrigavam os gerontes a expor seus
pontos de vista sem tumulto e cada um por
sua vez”, de modo que alguém só se propunha
a falar “quando o antecessor desse por
terminada sua intervenção”.
E os demais membros da tribo, se querem
ouvir o que se passa, “também se chegam” e
“se assentam todos em cócoras”, “porque
entre eles não há segredo”.
Montaigne, que “durante muito tempo” teve ao
seu lado “um homem que permanecera dez ou
doze anos nessa parte do Novo Mundo”,
escreve no seu ensaio Dos canibais,
que entre esse povo “As próprias palavras
que exprimem a mentira, a traição, a
dissimulação, a avareza, a inveja, a
calúnia, o perdão, só excepcionalmente se
ouvem”.
Disso os portugueses muito se valeram, pois
ainda que lhes pesasse um bom número de
vantagens no que diz respeito aos conflitos
com os Tupinambá – armas de fogo, armaduras
e homens sem família – parece-me que o fato
de não estarem nossos aborígines habituados
com a mentira, foi para os lusitanos
uma vantagem especial, e de muito peso. A
mentira foi o meio mais utilizado para
causar conflito entre tribos e incentivar as
guerras que os autodestruiram. Ou seja, o
que para Montaigne é motivo de elogios, e
que ainda hoje poderíamos considerar como
uma das maiores virtudes, tornou-se, diante
dos ardis dos cristãos portugueses, uma
grande fraqueza dos Tupinambá. |
Conclusão |
Na carta de Pero Vaz há uma passagem
interessante, entre muitas, que chama a
atenção para o desconhecimento que possuíam
os aborígines Tupinambá da hierarquia. Para
que o capitão os visse, antes de pôr os pés
em terra, alguns deles foram trazidos a
bordo de uma das naus da frota:
...o Capitão estava sentado em uma cadeira,
bem vestido, com um colar muito grande no
pescoço, e tendo aos pés, por estrado, um
tapete. Sancho de Tovar, Simão Miranda,
Nicolau Coelho, Aires Correa e todos nós
outros que nesta mesma nau vamos com ele,
ficamos sentados no chão pelo grande tapete.
Acenderam-se tochas. E eles [os índios]
entraram sem qualquer sinal de cortesia ou
desejo de dirigir-se ao Capitão ou a
qualquer outra pessoa presente, em especial.
Esse comportamento de indiferença às
diferenças entre os portugueses é
significativo, acrescentado ao já dito nas
páginas anteriores. Mas em relação ao grupo
de Cabral, que visava aqui encontrar ouro,
“porque esse era o nosso maior desejo”,
a tolerância na observação do comportamento
dos que foram a bordo tinha objetivo
preciso, já que estavam de acordo em não
“tomar ninguém aqui à força, nem de fazer
escândalos, mas sim, para que desta maneira
fosse possível amansá-los e apaziguá-los,
somente deixar aqui os dois degredados”,
quando daqui partissem. No entanto, o
sentimento de despeito, para não
dizer, desrespeito, parece ter tocado
os portugueses: “chegaram-se a ele [Capitão]
alguns daqueles [índios], não porque
o conhecessem por Senhor, pois me parece que
de uma tal posição não tenham entendimento,
nem disso tomavam conhecimento...”.
E conclui, por fim, Pero Vaz: “se trata de
gente bestial e de pouco saber” (...) “são
como aves ou animais montesinhos, aos quais
faz o ar melhor pena e melhor cabelo que aos
mansos”.
Posteriormente, os dois degredados deixados
pela frota de Cabral foram resgatados e seus
depoimentos registrados na Ata Notarial
de Valentim Fernandes, de 1503, e apresentam
confirmação da ausência de “sujeições a
leis”, além de ausência de “fé”, “religião”
e “idolatria”, bem como a existência da
“antropofagia”.
Isso mostra que Portugal teve conhecimento
imediato da índole dos aborígines do
Brasil, mas, por questões de desinteresses
momentâneos pelo novo continente, seria
somente mais tarde que esse conhecimento se
tornaria um grande problema, ao mesmo tempo
econômico e teológico.
*
Os historiadores, de modo geral, estão de
acordo de que somente a partir da década de
30, do século XVI, é que começa, de fato, o
processo de colonização portuguesa no
Brasil. Quando se inicia o violento choque
entre as culturas, a “adiantada” européia,
com a “atrasada” aborígine. Esse choque,
todavia, verteu sangue por mais de um
século, pois não parece que a resistência
aborígine tenha sido apenas “vegetal na
agressão”
como afirma Gilberto Freyre. Os cronistas,
por mais lusófilos que pudessem ser, não
deviam mentir quando afirmavam a bravura e
belicosidade deles. Além disso, houve
resistências significativas, com muitas
mortes entre os portugueses, cujo repasto
com o bispo Sardinha, comido em 1556 – ato
bastante simbólico –, foi mero detalhe das
inúmeras reações dos Tupinambá.
Será portanto a partir da década de 30 que
se começará a enfatizar o caráter “bestial”
dos Tupianambá, já inferido por Pero Vaz, e
também a se perceber a força dos
“selvagens”. Gandavo chama a atenção para o
fato no seu Tratado, informando que
“huma das cousas que desbaratou muitos
portuguezes foi a pouca estima em que tinhão
a guerra dos indios, e o pouco caso que
fazião delles”,
e que por isso muitos acabaram sendo
comidos.
Aliás, Gandavo é um dos que mais contribuiu
para a má imagem dos Tupinambá no reino de
Portugal, pois suas obras, que tinham
caráter informativo e propagandístico, foram
pouco amigáveis para com os aborígines,
transformando em vícios medonhos as suas
principais virtudes: “vivem bestialmente sem
ter conta, nem peso, nem medida”,
ou seja, sem comércio; “vivem como brutos
animaes sem ordem nem concerto de homens,
são mui deshonestos e dados à sensualidade”;
“vivem mui descançados, não têm cuidado de
cousa alguma se não de comer e beber e matar
gente”;
e a língua deles “carece de tres letras,
convem a saber, nam se acha nella F, nem L,
nem R, cousa digna despanto porque assi nam
têm Fé, nem Lei, nem Rei, e desta maneira
vivem desordenadamente”.
Coisa digna de espanto é que tal inferência,
que poderíamos acrescentar entre as pérolas
da clássica burrice portuguesa,
é, digamos, uma inferência sofística que
fora muito repetida Entre outros, pelo
grande senhor de um engenho de açúcar da
Bahia: Gabriel Soares: “coisa muito para se
notar; porque, se não tem F, é porque não
têm fé em nenhuma coisa que adorem (...) E
se não têm L, é porque não têm lei alguma
que guardar (...) E se não têm esta letra R
na sua pronunciação, é porque não têm rei
que os reja”.
Se não têm fé, nem lei, nem rei, e ainda por
cima comem gente, não restam dúvidas, são
como animais, “mais bárbaros que quantas
criaturas deus criou”,
diz Gabriel Soares; “excedem aos brutos
animaes que nam tem uso de razam nem foram
nascidos pera obrar clemencia”,
escreve Gandavo; “e só se distinguem em
serem uns mais bárbaros que outros (posto
que todos o são assaz)”,
escreve Frei Vicente de Salvador. Por fim,
diz o jesuíta Simão de Vasconcelos:
Todas estas nações de gentes, falando em
geral, e enquanto habitam seus sertões: e
seguem sua gentilidade, são feras,
selvagens, montanhesas, e desumanas: vivem
ao som da natureza, nem seguem fé, nem lei,
nem Rei (freio comum de todo o homem
racional). E em sinal desta singularidade
lhes negou também o Autor da natureza as
letras, F. L. R. Seu Deus é seu ventre,
segundo a frase de S. Paulo: sua lei, e seu
Rei, são seu apetite, e gosto. Andam em
manadas pelos campos de todo nus, assim
homens, como mulheres, sem empacho algum da
natureza. Vive neles tão apagada a luz da
razão, quase como nas mesmas feras. Parecem
mais brutos em pé, que racionais humanados:
uns semicapros, uns faunos, uns sátiros dos
antigos poetas.
Eis a conclusiva do sofisma, eis aí todas as
justificativas para o extermínio, que se
processou aceleradamente a partir de 1532.
*
Para concluir, não resisto a tentação de
fazer uma longa citação de uma das mais
conhecidas passagens do livro Viagem à
terra do Brasil, de Jean de Léry, que
complementa o caráter – a meu ver – virtuoso
do homem Tupinambá e nos deixa o que
refletir sobre estes “sátiros” que aqui
habitavam, dos quais, segundo Gilberto
Freyre, salvou-se apenas “a parte por assim
dizer feminina de sua cultura”,
o que é de se lamentar. “Sátiros”, cuja
existência – mesmo que sombriamente
repousada no passado brasileiro – ainda nos
intriga e guarda segredos que já não podemos
alcançar...
Uma vez um velho perguntou-me: Por que
vindes vós outros, maírs e perôs
(franceses e portugueses) buscar lenha de
tão longe para vos aquecer? Não tendes
madeira em vossa terra? Respondi que
tínhamos muita mas não daquela qualidade, e
que não a queimávamos, como ele o supunha,
mas dela extraíamos tinta para tingir, tal
qual o faziam eles com os seus cordões de
algodão e suas plumas.
Retrucou o velho imediatamente: e porventura
precisais de muito? – Sim, respondi-lhe,
pois no nosso país existem negociantes que
possuem mais panos, facas, tesouras,
espelhos e outras mercadorias do que podeis
imaginar e um só deles compra todo o
pau-brasil com que muitos navios voltam
carregados. – Ah! retrucou o selvagem, tu me
contas maravilhas, acrescentando depois de
bem compreender o que eu lhe dissera: Mas
esse homem tão rico de que me falas não
morre? – Sim, disse eu, morre como os
outros.
Mas os selvagens são grandes discursadores e
costumam ir em qualquer assunto até o fim,
por isso perguntou-me de novo: e quando
morrem para quem fica o que deixam? – Para
seus filhos se os têm, respondi; na falta
destes para os irmãos ou parentes mais
próximos. – Na verdade, continuou o velho,
que, como vereis, não era nenhum tolo, agora
vejo que vós outros maírs sois
grandes loucos, pois atravessais o mar e
sofreis grandes incômodos, como dizeis
quando aqui chegais, e trabalhais tanto para
amontoar riquezas para vossos filhos ou para
aqueles que vos sobrevivem! Não será a terra
que vos nutriu suficiente para alimentá-los
também? temos pais, mães e filhos a quem
amamos; mas estamos certos de que depois da
nossa morte a terra que nos nutriu também os
nutrirá, por isso descansamos sem maiores
cuidados. |
Referência bibliográfica: |
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GANDAVO,
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[2a. edição] São Paulo: Contexto,
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VIVEIROS DE CASTRO, Eduardo, A
inconstância da alma selvagem – e
outros ensaios de antropologia. São
Paulo: Cosac & Naify, 2002. |
Notas |
[1]
Florestan Fernandes, Organização social
dos Tupinambá, [Introdução], p.16.
[2]
Pero Vaz de Caminha, A carta..., p.78.
[4]
Jean de Léry, Viagem à terra do Brasil,
[cap.VIII], p.97.
[5]
Gandavo, História da província Santa
Cruz, [cap.X], p.122.
[6]
Gabriel Soares, Tratado descritivo do
Brasil em 1587, [cap.CXLVIII], p.300.
[7]
Florestan Fernandes, Opus cit., p.135.
[9]
Gabriel Soares, Opus cit., [cap.CLX],
p.313.
[10]
Conf. Gabriel Soares, Opus cit., [cap.CLXVI],
p.319.
[11]
Jean de Léry, Opus cit., [cap.VIII],
p.97.
[12]
Florestan Fernandes, Opus cit., p.328.
[13]
Conf. Florestan Fernandes, Opus cit.,
p.112.
[14]
Florestan Fernandes, Opus cit., p.112.
[15]
Gandavo, Tratado da terra do Brasil,
[Cap. sét.], p.54; conf. também Gabriel
Soares, Opus cit., [cap.CXLVIII], p.300;
e Jean de Léry, Opus cit., [cap.XIV],
p.157.
[16]
Florestan Fernandes, Opus cit., [Cap.II],
p.125.
[17]
Gandavo, Tratado da terra do Brasil,
[Cap. sét.], p.54.
[18]
Jean de Léry, Opus cit., [cap.XV],
p.170.
[19]
Florestan Fernandes, Opus cit., [Cap.III],
p.233.
[20]
Conf. Florestan Fernandes, Opus cit., [Cap.II].
[21]
Florestan Fernandes, Opus cit., [Cap.II],
p.124.
[22]
Eduardo Viveiros de Castro, “O mármore e
a murta: sobre inconstância da alma
selvagem”, in A inconstância da alma
selvagem, p.238.
[24]
Ensaios – I, [Cap.XXXI, Dos canibais],
p.104.
[25]
Jean de Léry, Opus cit., [cap.XV],
p.165.
[26]
Gabriel Soares, Opus cit., [CLXVII],
p.321.
[27]
Gandavo, Tratado da terra do Brasil,
[Cap. sét.], p.54.
[28]
Florestan Fernandes alude ao tema, mas
não o desenvolve. “A guerra constituía,
a julgar por certas fontes, o mais
importante fator de mortalidade, antes
da chegada dos portugueses”; Opus cit.,
[Cap.II], p.115.
[29]
Gandavo, Tratado da terra do Brasil, [Cap.sét.],
p.54.
[30]
Florestan Fernandes, Opus cit., [Cap.II],
p.125.
[31]
Eduardo Viveiros de Castro, Opus cit.,
p.241.
[32]
Conf. Florestan Fernandes, Opus cit., [Cap.IV],
p.263 e seguintes.
[33]
Gabriel Soares, Opus cit., [cap.CLIV]
p.307.
[34]
Citado por Florestan Fernandes, Opus
cit., [Cap.III], p.257.
[35]
Conf. Florestan Fernandes, Opus cit., [Cap.II],
p.130 e seguintes, onde há longa
explanação sobre a divisão do trabalho
nas aldeias.
[36]
Gilberto Freyre, Casa-grande & senzala,
p.186.
[37]
Laima Mesgravis e Carla Bassanezi Pinsky,
O Brasil que os europeus encontraram,
p.43.
[38]
Florestan Fernandes, Opus cit., [Cap.III],
p.256.
[39]
Idem., [Cap.II], p.138.
[40]
Idem., [Cap.II], p.136.
[41]
Conf. Jean de Léry, Opus cit., [cap.VIII],
p.100.
[42]
Jean de Léry, Opus cit., [Cap.X], p.
119.
[43]
Gabriel Soares, Opus cit., [cap.CLVIII],
p.310.
[44]
Gilberto Freyre, Opus cit., p.166.
[45]
Gandavo, História da província Santa
Cruz, [Cap.X], p.126.
[46]
Conf. Jean de Léry, Opus cit.,
[cap.XVIII], p.195.
[47]
Abbeville, Anchieta, Evreux, Thevet,
Cardim, etc., computados por Florestan
Fernandes, Opus cit., [Cap.IV], p.299 e
seguintes.
[48]
Florestan Fernandes, Opus cit.,
[Cap.IV], p.300.
[49]
Gandavo, História da província Santa
Cruz, [Cap. X], p.126; conf. também
Tratado da terra do Brasil, [Cap. sét.],
p.57.
[50]
Florestan Fernandes, Opus cit.,
[Cap.II], p.95/6.
[51]
Idem., [Cap.V], p.331.
[52]
Montaigne, Ensaios – I, p.105; o rei
Carlos IX, por essa época, não passava
de um adolescente.
[53]
Gandavo, Tratado da terra do Brasil,
[Cap. sét.], p.52.
[54]
Gabriel Soares, Opus cit., [cap.CLI]
p.303.
[55]
Jean de Léry, Opus cit., [cap.XIV],
p.158; o termo peorerupiché é na verdade
mborubichá, morubixaba, ou seja,
principal, chefe, grande.
[56]
Os cronistas são Cardim e Anchieta,
obras dos quais não consegui encontrar;
uso aqui da informação via Florestan
Fernandes, Opus cit., [Cap.V], p.317.
Conf. também Eduardo Viveiros de Castro,
Opus cit..
[57]
Florestan Fernandes, Opus cit., [Cap.V],
p.317.
[60]
Conf. Florestan Fernandes, Opus cit.,
[Cap.V], p.340.
[61]
Montaigne, Opus cit., p.103.
[62]
Na interpretação de Montaigne:
“Adivinhar é dom de deus, enganar é uma
impostura merecedora de castigo”.
Opus cit., p.103.
[63]
Jean de Léry, Opus cit., [cap.XVI],
p.177.
[64]
Gabriel Soares, Opus cit., [cap.CL]
p.302.
[65]
Jean de Léry, Opus cit., [cap.XVI],
p.175.
[67]
Eduardo Viveiros de Castro, Opus cit.,
p.214.
[68]
Eduardo Viveiro de Castro, Opus cit.,
p.191.
[69]
Pero Vaz de Caminha, A carta..., p.96.
[70]
Gandavo, História da província Santa
Cruz, [Cap.XIII], p.142.
[71]
Gabriel Soares, Opus cit., [Cap.CLVI],
p.308.
[72]
Conf. Florestan Fernandes, Opus cit.,
[Cap.III], p.153 e seguintes [item: 1)
Sistema de parentescos e ordenação das
relações sexuais].
[73]
Gabriel Soares, Opus cit., [Cap.CLII],
p.305.
[74]
Idem., [Cap.CLVI], p.308.
[75]
Gandavo, Tratado da terra do Brasil, [Cap.sét.],
p.57.
[76]
Citado por Florestan Fernandes, Opus
cit., [Cap.III], p.160.
[77]
Gabriel Soares, Opus cit., [Cap.CLXII],
p.316.
[78]
Citado por Florestan Fernandes, Opus
cit., [Cap.III], p.160.
[79]
Gabriel Soares, Opus cit., [Cap.CLVI],
p.308.
[80]
Florestan Fernandes, Opus cit., [Cap.III],
p.161.
[82]
Gilberto Freyre, Opus cit., p.188.
[83]
Gabriel Soares, Opus cit., [Cap.CLVI],
p.308.
[84]
Florestan Fernandes, Opus cit., [Cap.III],
p.159.
[85]
Gilberto Freyre, Opus cit., p.189.
[87]
Jean de Léry, Opus cit., [Cap.XVII],
p.193.
[88]
Gabriel Soares, Opus cit., [Cap.CLVI],
p.308.
[89]
Florestan Fernandes, Opus cit., [Cap.III],
p.168.
[90]
Gilberto Freyre, Opus cit., p.161.
[92]
Florestan Fernandes, Opus cit., [Cap.IV],
p.300.
[94]
Idem., [Cap.II], p.145.
[95]
Citado por Florestan Fernandes, Opus
cit., [Cap.II], p.143.
[96]
Florestan Fernandes, Opus cit.,
[Cap.II], p.145/6.
[97]
Idem., [Cap.V], p.332.
[98]
Gabriel Soares, Opus cit., [Cap.CLXIV],
p.317.
[99]
Montaigne, Opus cit., p.100.
[101]
Pero Vaz de Caminha, A carta..., p.79.
[106]
Guillermo Giucci, Sem fé, lei ou rei:
Brasil 1500-1532, p.206.
[107]
Gilberto Freyre, Opus cit., p.158.
[108]
Gandavo, Tratado da terra do Brasil, [Cap.sét.],
p.54.
[111]
Idem., História da província Santa Cruz,
[Cap.X], p.124.
[112]
Gabriel Soares, Opus cit., [Cap.CL],
p.302.
[114]
Gandavo, História da província Santa
Cruz, [Cap.XII], p.136.
[115]
Citado por Guillermo Giucci, Opus cit.,
p.209.
[116]
Citado por Guillermo Giucci, Opus cit.,
p.213.
[117]
Gilberto Freyre, Opus cit., p.230.
[118]
Jean de Léry, Opus cit., [Cap.
XIII], p.147.
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