Queda de folhas lúcidas

MARIA DO CÉU COSTA


Medo de não envelhecer

Medo de viver o tempo incoerente da alma

Medo do cansaço que trago

Medo da predestinação que promete novo encontro

Medo do deserto nos dedos

Medo da sombra por dentro do inverno

Medo do tempo que retém o fundo dos dias

Medo da última rosa desfolhada

Medo de correr para ti e não te encontrar

Medo do rumo cativo do pássaro no ar

Medo do curso que percorre as artérias cálidas do coração

Medo dos meus esquecimentos lembrados

Medo de não poder dizer as palavras como sinto

Medo dos formatos fixos

Medo dos sismos a meio da noite

Medo de agarrar o eco e encontrar mais muros

Medo da minha voz de medo nesse mar

Medo dos natais sem hoje

Medo de saber a idade feita

Medo de ter perdido tudo

 

Poema finalista del V Internacional de Poesía Jovellanos,
Ediciones Nobel, Espanha, 2018


Maria do Céu Costa (Portugal, n. 1970). Vice-diretora do Triplov, responsável pelo setor multimédia