Há alguns anos disse em livro (Baptista: 2007) que as questões que
envolvem a Parapsicologia vinham merecendo uma nova ponderação. De fato,
hoje, passado o tempo, continuo com a mesma convicção. Nada mudou de lá
para cá. Principalmente o fato, que já se tornou lugar comum, de
atribuir-se à Parapsicologia ocorrências que nada têm de parapsicológico.
Aqui a imaginação não tem limites.
Também em relação às críticas, nada mudou. Continuam as mesmas; os
mesmos cacoetes, as mesmas incompreensões. A bem da verdade pouco se
fala sobre Parapsicologia. Muito se fala da
Parapsicologia, a começar pelos (ditos) parapsicólogos de plantão,
sempre com um discurso ao sabor do vento. Nesse assunto, muitos têm algo
a dizer. Poucos, contudo, com conhecimento de causa.
Caquéticos termos como anômalo, anomalia, no
singular ou no plural, ressurgem das cinzas como se fossem a última
fornada do conhecimento, para referirem-se, com desvantagem a outros
termos, às mesmas e antigas ocorrências que envolvem a fenomenologia
parapsicológica. Pouco dizem, nada explicam. Diga-se que, em
Parapsicologia, o que não faltam são termos designativos.
Experiências realizadas e desgastadas, que envolvem PES (Percepção
Extrassensorial), são repetidas e alardeadas como investigações de
ponta. Na verdade, por mais atuais e controladas que sejam tais
experiências, a bem da verdade, são repetidas porque não envolvem, ou
envolvem muito pouco, custo. Bastam alguns voluntários e um par de
cadeiras e... pronto. O resto é marcar acertos e erros e aplicar o
cálculo de probabilidades. As mesmas já foram realizadas aos milhares e
milhares de Richet a Rhine e continuam repetindo-se, nos dias atuais,
como podemos constatar através do recente estudo que serviu de chamada
de capa para a revista ISTOÉ (2011), realizado pelo psicólogo Daryl J.
Bem, da Universidade de Cornell e que mostra, na verdade apenas reafirma
o que já foi dito na primeira metade do século XX por J.B.Rhine,
inclusive, diga-se, com uma amostragem infinitamente superior de casos
estudados. Isso para ficarmos restritos às pesquisas acadêmicas. Qual a
novidade?
Ora, sejamos francos, não precisamos mais de evidências. Já as temos.
Precisamos explicar como o(s) fenômeno(s) ocorre(m). Esse é
o grande enfrentamento. De nada adianta criticar os estudiosos de serem
desatualizados em relação às novas descobertas. Quais? Qual o fenômeno,
subjetivo ou objetivo, do universo parapsicológico, que não tenha sido
estudado pelos anteriores investigadores? E mais, qual a mais recente
pesquisa que tenha chegado a uma "conclusão" diferente daquelas já
conhecidas? Ora, os estudiosos são tão
desatualizados como os fenômenos de natureza parapsicológica. Estes são
sempre os mesmos. Fenômenos de conhecimento, ou de ação sobre a matéria,
sempre se apresentaram e continuam se apresentando da mesma maneira. Uns
e outros são, sempre, "variações sobre o mesmo tema". O que mudou,
objetivamente, foi o número de médiuns poderosos, como Home, Paladino,
entre outros, que já nos tempos da Metapsíquica eram raros, como nos
adverte Richet (sd) e que hoje, se ainda existirem, precisaremos de
grandes lentes de aumento para encontrá-los. Não houve ao longo dos
anos, em relação aos fenômenos, mutação, variação ou resistência.
Continuam os mesmos. Estão aí para serem estudados, descritos,
explicados. Nem mesmo a postura da ciência, em relação a eles, mudou. Um
ou outro pesquisador, isoladamente, arrisca-se nessa seara. Isso também
não mudou. A ciência oficial nunca deu a devida atenção aos fenômenos
parapsicológicos. Rhine (1966), entre outros pesquisadores, já observou
isso na primeira metade do século XX. E os poucos investigadores sérios
envolvidos com tal fenomenologia correm hoje, assim como no passado, um
grande risco de serem marginalizados por seus pares. As desculpas
continuam as mesmas: falta de rigor metodológico, fraude etc. etc. etc.
e, o fato, é que fenômenos parapsicológicos, singulares, cuja natureza
precisa ser explicada, continuam presentes no nosso dia a dia. Não são
contraditórios às leis da ciência. São novos.
Isso já dizia Richet (op.cit.). Portanto, cabe à ciência explicá-los.
Ela é soberana.
Muitos dizem que não acreditam em fenômenos parapsicológicos por que são
cientistas e, enquanto cientistas pesquisam. Colocam-se, assim, através
de frases de impacto, que muito agradam aos seus pares, acima de tudo o
que já foi feito. Como se todo o conhecimento acumulado em
parapsicologia tivesse surgido de mãos inábeis e pouco confiáveis. Em
poucas palavras, nada do que foi feito até hoje deve ser considerado. É
o eterno recomeçar. Contudo, já passou do tempo admitirmos que os
fenômenos de natureza parapsicológica precisem mais do que um equipado
laboratório para serem estudados e explicados. Inclusive, é
distanciar-se de toda a fenomenologia parapsicológica desconsiderar-se
que tais fenômenos, quando puros, são espontâneos e, por essa simples
razão, não se submetem, com hora marcada, à vontade deste ou daquele
pesquisador. Ora, essa é a grande dificuldade, desde o início das
primeiras investigações, para estudá-los. Mas, mesmo perdendo grande
brilho, lógico e desnecessário dizer-se que podem e, até mesmo, devem
ser estudados em condições laboratoriais controladas. Mas isso é, foi e
sempre será, uma aproximação. Embora necessária, e de grande ajuda, uma
aproximação.
Da mesma forma, de nada serve dizer-se que, se os fenômenos não podem
ser testados em laboratório, a parapsicologia não é ciência. Isso é de
grande insensatez. Afinal, os fenômenos de natureza parapsicológica,
como todo e qualquer fenômeno, sejam da natureza que forem, precedem a
experimentação. Isso não faz deles uma mentira. O fato é que temos que
assumir nossa incapacidade em criar meios de testá-los em vez de
simplesmente rejeitá-los por não se submeterem a experimentações
desejáveis dentro de um determinado corpus metodológico.
Está em teste aqui a nossa capacidade de criar mecanismos suficientes
para tal. Contudo, em vez disso, atribui-se ao fenômeno a culpa por não
poder ser testado. Ou, ainda, o mais comum, já que somos incapazes de
explicá-lo, atribuímos tais ocorrências ao acaso, falhas de observação
etc. etc. etc, como já observamos anteriormente. Contudo, o fato
inconteste é que os fenômenos de natureza parapsicológica continuam
presentes. Negá-los por décadas, ridicularizá-los, não foi suficiente
para eliminá-los. |