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::::::::::::::::::::Pedro Proença::::
O IRRECONHECÍVEL
Soneto XIX

A gargalhada garante a emergência da novidade mesmo na mais podre das républicas.

Hermes é o deus que intoxica as nossas almas com amizades nocturnas que devêm extremas. Temo que nelas desbote a borbulhante criança que torna mais fortes as cores diurnas.

Sentimos que a nossa singularidade é eterna mas dificilmente a concebemos como anterior às nossas atribuladas infâncias.

Há no modo como as coisas nos vislumbram um piscar de olhos que nos recorda que aquilo que não vemos é precisamente o reverso do catastrófico.

A cabra àcida que efervesce em livro antigo... falta o resto do poema?

O mundo envelheceu de tal modo que já não consegue restaurar a sua moldura.

A maravilha consegue emendar a ironia ressentida da história.

Os maus assuntos merecem os seus cultores, que ajudam a tornar límpidos, por contraste, os mais admiráveis assuntos.

Ama a minúcia em cada minuto.

Avença de contendas.

Em vez de acrescentar um grão de sal, acrescentar um grão de luz.

À maturidade sucede uma propensão para rastejar.

Há quem se queixe da falta de tempo, mas este é generoso nas suas gorgetas.

A natureza aprimora a beleza com uma escassez de verdade – e há nisso algo excitante.