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::::::::::::::::::::Pedro Proença::::
O IRRECONHECÍVEL
Soneto X
 

A mentira é uma justiça retórica que torna mais nobres as aparências.

A negação é nele uma praga que adoça as relações àcidas com os excessos.

Tomo o partido da ambivalência porque suspeito da publicidade da clareza.

Debaixo da tenda que alberga a glória há uma contenda de pensamentos ambiciosos.

A disponibilidade da lucidez nasce da disputa.

São-lhe imputados amputados veredictos de importadas culpas.

As metáforas e suas magnificas mazelas...

O alvoroço da visão caçando ilusões.

O nada como um manancial de hipóteses plausíveis?

O escorpião é o peão que prescuta o corpo como presa a não devorar, ao contrário do leão.

Renascemos porque somos famintos de algumas carnes alheias.

Suspiros que se encavalitam para formar ledas figuras.

Todo o retrato é uma suspeição que veste a obscenidade do olhar.

Oferece-me banquetes pintados de forma a que me banqueteie tornando-me pintura.