powered by FreeFind







::::::::::::::::::::Pedro Proença::::
O IRRECONHECÍVEL
Soneto VII
 

Que é dela é ele todo aflição – como uma flor que quer rebentar como uma bomba.

Penteu é premeditado. Dionisios dá-lhe a oportunidade do desconhecido. A mais radical fragmentação. O báquico desbragamento.

Oferecem-me ofensas, desamadas avenças.

Ao me pedir que pense o amor, com a desculpa grave de que é especiosa filosofia, o amor, suculento, se inicia.

O devedor ama-a, porque o conhecimento se tornou um dever e um fervor erótico. Substituis a criatura suculenta e carnal por demandas irónicas de um luto do absoluto, ou nem isso.

Há quem chame ao sofrimento «meu amigo», como se este fosse uma batalha ganha.

Suspeito que o amor é perda e que toda a conquista é desamor. Recordarás os arrepiados momentos em que ficaste entregue às tuas vulnerabilidades mais reconditas como um achamento de continentes por desbravar. Foram esses padecimentos que te determinaram a vida como o prazer da despossessão, como uma alegria sem causa. Tornaste-te receptivo a perdas futuras, apaixonadamente.

A doce presunção do enamoramento...

A Acropole pisca-nos os olhos dizendo: o sagrado é persuasão. A persuasão redobra esse género de verdades.

A diurnidade abre-nos o peito. As coisas tornam-se despeitadas quando dormimos. Há algo de degradante no sonhado.

Os sonhos olham-te melhor, não sei se os meus se os dos outros...

Brilhas como se alguém te encenasse para a obscuridade.

Então és o regaço que me quer adocicar com aleivosas doçarias...

Sombras de sombras em vez de evidências semânticas – a linguagem pede para ser indeterminada de forma a tornar mais fortes e eficazes as suas intenções mágicas.

A máscara inibe o irrepresentável no seu original improvável.