Jamais poderemos voltar a reconhecer o arbusto enorme que nós somos, nem as sagas tentaculares que nos rodeiam, se é que alguma vez reconhecmos algo para além da teia das dissemelhanças amorosas com que tentamos restaurar os fragmentos canibalmente vividos.
Temo-nos tornado afins de nenhuns fins.
Somos afinal bípedes nos enunciados mais concisos.
Caminhamos no interior de uma baleia sabendo que esta interioridade nos protege do apocalipse que já há muito aconteceu – habituamo-nos ao strip-tease do demiurgo, ou demiurga, como a um talk-show inenarrável.
Falta-nos a antiga culpa, como um caramelo que se opõe à ordem pública. A culpa far-nos-ia mais privadas e dóceis, mas não sei se mais felizes.
As desculpas não redimem para lá da relativa eficácia retórica.
A vergastada vergonha do tema...
Sentimo-nos tímidas perante a honra.
Amo o tremor que me abana e me expõe ao acaso, às àcidas chuvas da tal sorte.
Irreconhecível é o amor porque é nele que o absoluto se disfarça.
A singularidade da amada não se deixa ver com uma lanterna por mais que exponha à luz do dia.
Sou o que tu és no mais íntimo. E no que tens de acessório comungo a inequivoca pluralidade que se opõe à indistinção ainda mais comum.
Beijos que se incrustam num punhal para uma meiga facada.
O pai decrépito faz aos filhos o exame dos enxames de prazer, como se não abdicasse das possibilidades que resignou de uma forma excessivamente voluntária.
A criança é ingenuamente (ou genuinamente) epicurista?
A inocência retorce-nos mas nem por isso nos simplifica – só amplifica.
Feitas de barro gostamos de ser barradas no mesmo sentido com que barramos as torradas – somos manteiga destinada a sacrifício.
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