a transparência da pedra
esconde do homem
o tempo e as palavras.
em redor da face
uma narrativa absolve-nos
do esquecimento
difundindo – entre a mão
e a imagem – uma força antiga
que só agora podemos contemplar.
a ilusão do tacto
aproxima-nos dos olhos.
a amêndoa ilumina
esse corpo em silêncio.
a palma recobre o caminho.
(a transparência
da pedra
acolhe-nos.)
nenhum martírio nos consola.
basta-nos o testemunho
de uma mão que não vemos
para acreditarmos na passagem
das lágrimas sobre o rosto.
um rosto (o nosso?) sobrevive
nesta parcela de mundo.
a sua sombra protege-nos
da fome, nesta tarde sem sombra.
que face guardaremos
quando a pele secar
e bebermos do último vinho?
Lisboa –
esculturas em alabastro
(Nothingham, séc. XIV)
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