depositaste na pedra
o teu olhar sem sombra
para melhor suportares
o peso desses ombros,
recuperando a cinza
que ficou sobre o oceano.
(assaltam-te vozes
e corpos sem saudade.
tento afastá-los
projectando sombras
nestes muros sem tinta.)
não carregas o mundo.
não sobes ao alto da montanha.
não defendes o tecto desta casa –
que hoje te pertence
na areia do deserto.
regressarias –
não tivesses sobre os ossos
o chumbo do nascimento,
essa armadura que te sepulta
entre fome e fogo,
entre fogo e fortaleza.
Lagos -
“Dom Sebastião”,
escultura em pedra de João Cutileiro (1970)
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