RUY VENTURA
HABITAÇÃO DO TEMPO
iluminação
 

que mão avança
no negrume dessa tinta
quando a carne brilha,
mesmo oculta nessa sombra?

a tinta não interrompe
a luz intensa
que do olhar
dirige esta viagem.

nem mar, nem vento
- nem essa brancura
que recorta os alicerces
e as paredes -
conseguem melhor voo
nesta tarde.

apenas essa mão,
velha - e perfeita -,
segurando-nos
no ouro e na madeira,

esses olhos vigiando
a fortaleza
(pedra e sangue,
carne e tempestade) -

e o segredo de um nome
(o nosso nome)
escorando

nosso fogo
e nossa sede.

 

Carrapateira –
Virgem com Menino,
escultura em madeira policromada (séc.XV/XVI)