surgiu, primeiro, como um título breve,
acompanhando a superfície da montanha –
a cor da terra, dentro do sangue,
o suor do nascimento.
ficou, depois, entre faixas e melodias,
sobre o lençol (de água?)
onde permanecia esse rosto
– o grito que revelou o mundo.
longe, o forno. a palavra
acalentava o corpo, sobre as ervas,
debaixo de um castanheiro.
desenhou então nalguns grãos de trigo
a luz que restava sobre o telhado.
a mão afaga o cabelo.
a face procura a face.
a mão procura o barro. recria,
transcreve para sul este poema.
a expressão ilumina as videiras.
o pastor ilumina a face.
rejubila até atingir a altura.
a pedra permanece
como legenda do tempo. transcreve
um movimento de mãos
em direcção à serra.
a mãe acolhe o filho no seu manto.
olha esta criança como se quisesse
reavê-la no seu seio.
um corpo nasce nas mãos do oleiro.
um corpo desce. procura
a raiz, a porta, a lareira.
acenderá o mundo com o seu sopro.
com a sua voz.
Covas de Belém (Portalegre) –
“Nossa Senhora de Belém”,
escultura em barro (séc. XVIII)
|