CONCEIÇÃO RAMOS LOPES - POEMAS VÁRIOS









Apetece-me chamar-te Estrangeiro
mas não te sigo
é madrugada agora
e diluo-me de te não ter
Das janelas dos teus olhos
nasceu uma vela branca
e a tua língua
escorreu uma gaivota
Os teus braços
desfraldaram mares de espuma
e um medo azul
ancorou-me a este cais
onde acenas sem partir

Amanheceu e eu já não sou

A António Lobo Antunes

DesApontamento

Anticiclone
húmido da cinza
de nuvens púdicas
e veladas
sibilinas gaivotas
em presságios
volantes
volatilizando
exíguas almas
em exaustão
à Bélgica
pelo Atlântico
chega
britânico
brumoso
penetrante e perverso
constante
na instabilidade
anticiclone
de sol ausente
de pardo céu
remissível
desamparado
em cérula reminiscência

Sensações Nebulosas

Quando o céu se eleva
em Bruxelas
esquecemos
esse outro céu baixo
tão baixo
que nos traz de rastos
prostrados
e perdoamos-lhe
a cor humilhante
de cinza rasa
e esse canal
enforcado
em dia
de um céu
tangente
no país plano
tão plano
de Brel

E o mês de Abril

e o pasmo sobre as flores
finadas já do meu porvir
antes do maio do que me resta
é em abril que um olhar glauco
meu
se pousa em mim e nas coisas
e um pasmo ressentido me devolve
ao maio de flores finadas
de flores por vir
a um abril de verdes aflorados
pressentidos só
de um maio já chegado
pasmado agora
de sensações verdes nos meus sentidos
é abril e eu resto
de presentes entremeados
ou espaços de mordaça
em maios que se me escapam