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LUÍS SERRANO
O escritor
A David Mourão-Ferreira
e Urbano Tavares Rodrigues

Os livros acendem-se
devagar
nas suas mãos

são a memória
da madeira fermentada
sob a chuva

se a escrita
não é mais
que dor dolorosa

sombra estreme

haste arrefecida

ou eco longínquo
de desencontros

espada e gume
de todas as utopias

O escritor
esconde-se nos dédalos
da sua escrita

retoma velhas palavras
para dizer que sim
para dizer que não

O escritor
escreve paciente
e aguarda
que a terra
lhe seja o último grito

a última dor

 
in Nas Colinas do Esquecimento, 2004