KIRIRI : POEMABRIL / TERMIDOR ERRADO, POR JOSÉ GOMES FERREIRA Fotos: Walkyria 10-04-2005 www.triplov.org |
TERMIDOR ERRADO / (25 de Novembro de 1975) |
V (Chama que nenhum vento apaga...) |
A Revolução parece às vezes que pára ou que recua tornando mais funda a escuridão e a noite menos clara - como se qualquer Mágica Mão apagasse o sol dentro da lua. Ma só os medrosos temem que a viagem para a Manhã do Renovo com limpidez de sémen termine? - antes que cheguemos à paisagem sonha para o povo por Lenine. Não. A nossa Revolução ainda não acabou nem tão cedo acaba - como no alto mar não gela nenhuma vaga ao sol de Verão. Não. A nossa Revolução continuará, chama que nenhum vento apaga - enquanto no coração dos ricos-senhores doer a ameaça de os cavadores vermelhos (o tojo inútil, os estevais, o rasto das lebres e dos coelhos) - guiados pelo malogro, o asco e as esperanças da sombra de fogo da Voz do Vasco colérica e doce. |
IX |
E foi para esta farsa que se fez a revolução de Abril, capitães, ao som das canções de Lopes-Graça? Foi para voltar à fúria dos cães, ao suor triste das ceifeiras nas searas, as espingardas que matam os filhos as mães num arder de lágrimas na cara? E, no entanto, no princípio, todos ouvíamos uma Voz a dizer-nos que a nossa terra poderia tornar-se num pomar de misteriosos pomos. E nós, todos nós, chegámos a pensar que éramos maiores do que somos. |
JOSÉ GOMES FERREIRA in: A Poesia Continua, velhas e novas circunstanciais, 1981 |