O amor ferve de uma ferida exangue
de foles de corpos frescos
de caminhos e sonhos dilatados
de vertigem de ser só sede
de espaços que se tornam pele
de palavras de gume branco,
o rumor azul.
Há amor carregado de sol e águas cegas
e há amores como lágrimas fulgurantes
como um eco de um princípio inacessível.
O amor vem de corações fragmentários
de um sabor para além de tudo
de uma disseminação de vozes
de bocas e fogo unido à terra
de uma força feroz nos pulmões
de torres de sílex negro,
animais insólitos.
Há amor aberto de imensas pedras cruas
e há amores entre a parede e o silêncio
como linhas paralelas de pequenos círculos.
O amor forma cúpulas diáfanas
de livros ilegíveis na sombra
de arcos sob gargantas ocultas
de um corpo côncavo em luz
de um tempo concreto no respirar
de profunda ausência nas raízes,
a chama da terra.
O amor dilata-se e dilata-nos de veias
invoca e insufla a pele de sal aceso na água,
é serpente que morde a própria cauda diurna
dilacera palavras nuas por outras palavras desnudadas,
mas não se pode adiar mais o amor indivisível
que rasga o mundo feérico na dobra do corpo.
Não se pode adiar mais o amor inicial
que acende o tempo no lume sagrado das pirâmides,
essa nudez de memória álgida que nos aflora a boca.
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