O poema como hálito absoluto
um cavalo decapitado de luz
sob uma traqueia transparente frágil.
Como uma palavra sagrada
o poema impõe um pulmão de bronze
falsifica o eco em dádiva.
Na minúcia adornada da cegueira
o silêncio que precede o começo
sarou sobre as folhas mortas.
No poema a pulsação irreparável
sob a matriz concentrada no fôlego
a contorção benévola das vozes.
A palavra é lisa no desejo inclinado
martelada por fluxos e refluxos
artesoando círculos abertos de cio.
O poema como animal adormecido
as veias da garganta rasgando a boca
a ira escorrendo nas virilhas da luz.
O poema como ofício puro silêncio lugar.
|