Ele entranha-se pelas paisagens do
sol
pelos olhos das aves em que
adejamos o incomensurável,
aconchega-se às nossas vísceras mais íntimas
e pressentimos que podemos
ser criaturas de Dezembro,
criaturas dos dias de não se ser esquecido
criaturas fervilhando lava pelos dedos
em circunstâncias estranhas,
também nós concebidos e
destruídos sem porquê
por essa sitiada substância
de que é
erigida a adusta boca
das quimeras.
Ele mergulha pelos corpos da terra
pelas frestas dos oceanos em que expurgamos a
cegueira,
acerca-se inevitavelmente do nosso funesto alento
e intuímos ser os guardiões dos salmos da
bem-aventurança,
guardiões que vigiam as infâncias no Inverno
guardiões fascinados pela loucura do mundo
em noite de tamanha abundância,
vínculos em que espargimos e aduzimos a púrpura
numa criança indefesa
de que se constrói uma humanidade que não há.
Ele submerge pelo avesso dos corações
pela estreita extensão das vozes sem tempo nem vento,
encosta-se no reflexo dos sonhos intemporais
e de forma desumana reinventa o natalício choro e
riso
para que não se suspenda a esperança
e vergamo-nos trespassados no órfico cântico do
poeta:
«não cortem o cordão que
liga o corpo à
criança do sonho!»
|
João
Rasteiro (Ameal - Coimbra, 1965), poeta e ensaísta,
traduziu para o português vários poemas de Harold Alvarado Tenorio, Miro
Villar, Juan Carlos Garcia Hoyuelos e Juan Armando Rojas Joo. É
Licenciado em Estudos Portugueses e Lusófonos pela Universidade
de Coimbra. Trabalha actualmente na “Casa da Escrita” – Câmara
Municipal Coimbra. É sócio da Associação Portuguesa de Escritores e
membro dos Conselhos Editoriais das revistas Oficina de Poesia e
Confraria do Vento (Brasil). Possui vários poemas publicados em várias
revistas e antologias em Portugal, Brasil, Itália, Finlândia, Colômbia,
Chile e Espanha e possui vários poemas traduzidos para o
Espanhol, Italiano, Inglês, Francês e Finlandês. Obteve vários
prémios, nomeadamente a “Segnalazione di Merito” do Concurso
Internacional Publio Virgilio Marone, Castiglione de Sicilia,
Itália, 2003, o 1º Prémio no Concurso de Poesia Cinco Povos
Cinco Nações, 2004, o 1º prémio – na categoria de autores
estrangeiros – do Premio Poesia, Prosa e Arti Figurative-Il Convívio
(Verzella, Itália, 2004) e o Prémio Literário Manuel António Pina
(Câmara da Guarda/Assírio & Alvim, 2010). Publicou os seguintes livros:
A Respiração das Vértebras, 2001, No Centro do Arco, 2003,
Os Cílios Maternos, 2005, O Búzio de Istambul, 2008,
Pedro e Inês ou As madrugadas esculpidas, 2009, Diacrítico,
2010, A Divina Pestilência, 2011, Elegias, 2011 e
Tríptico da Súplica (Brasil). Em 2005 integrou a
antologia: “Cânticos da Fronteira/Cánticos de la Frontera (Trilce
Ediciones – Salamanca). Em 2007 integrou a antologia “Transnatural”,
um projecto multidisciplinar sobre o Jardim Botânico de Coimbra. Em 2008
integrou a antologia e exposição internacional de surrealismo O
Reverso do Olhar.
Em 2009 integrou a antologia:
“Portuguesia: Minas entre os povos da mesma língua –
antropologia de uma poética”, organizada pelo poeta brasileiro
Wilmar Silva e que engloba poéticas de Portugal, Brasil, Cabo Verde e
Guiné-Bissau. Em 2009 integrou o livro de ensaios “O que é a poesia?”,
organizado pelo brasileiro Edson Cruz. Em 2010 integrou a antologia
Poesia do Mundo VI, resultante dos VI Encontros Internacionais de
Poetas de Coimbra organizados pelo Grupo de Estudos Anglo-Americanos da
Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. Em 2011 integrou o livro
“Três Poetas Portugueses” (Brasil), organizado pelo poeta
brasileiro Álvaro Alves de Faria Em 2009, organizou para a revista
ARQUITRAVE da Colômbia, uma antologia de poesia portuguesa, intitulada “A
Poesia Portuguesa Hoje”. Mantém em permanente irrupção o sísmico
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