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OS "JARDINS" DA POESIA PORTUGUESA |
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Poemas Portugueses.
Antologia da Poesia Portuguesa do Séc. XIII ao Séc. XXI |
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No final de 2009 foi editada a antologia «Poemas
Portugueses. Antologia da Poesia Portuguesa do Séc. XIII ao Séc. XXI»,
organizada por Rui Lage e Jorge Reis-Sá. Apesar de na última década
terem sido editadas as antologias, Anos 90 e Agora, organizada por Jorge
Reis-Sá; Desfocados Pelo Vento. A Poesia dos Anos 80, Agora, organizada
por valter hugo mãe; Poetas Sem Qualidades e A Perspectiva da Morte,
ambas de responsabilidade de Manuel de Freitas, tendo inclusive saído
recentemente, uma pequena antologia (10 poetas portugueses
contemporâneos) na Colômbia, que organizei a pedido da revista
ARQUITRAVE e intitulada A Poesia Portuguesa Hoje, foi, contudo, a
antologia Século de Ouro. Antologia Crítica da Poesia Portuguesa do
Século XX, organizada por Osvaldo Manuel Silvestre e Pedro Serra, que
verdadeiramente ainda criou alguma polémica. Realmente, cada vez mais se
aceita o que aparentemente nos é "entregue de mão beijada" pelos
"entendidos" e pelo cânone, daí, os poetas sem reconhecimento ou ainda
em luta pelo seu espaço, pouco ou nada reagirem, no âmbito crítico, e
para além disso, os membros de cadeira do cânone, não ousam por
princípio, criticar os seus comparsas. Se é verdade, que não precisamos
sempre de voltar a 2002, quando "os deputados do círculo de Coimbra na
Assembleia da República, mais Helena Roseta, apresentaram protesto
formal junto da estrutura dirigente de Coimbra 2003 (Capital Nacional da
Cultura), sponsor da edição, pelo facto de Afonso Duarte, Miguel Torga e
Manuel Alegre... não terem sido seleccionados. E que, em extenso artigo
no Diário de Notícias, Ana Marques Gastão tenha feito a lista das
ausências “intoleráveis” (o adjectivo é meu): Intelligentsia deixa de
fora mais de 30 autores" (Eduardo Pitta - "Da Literatura"), seria
altamente recomendável que, tal como nos portamos hoje, de forma geral,
na sociedade, na política, nos valores que nos regem, etc, ou seja, de
um modo absurdamente indiferente, apático e desapaixonado, tal não o
fizéssemos em relação à poesia e à literatura em geral. Assim, voltando à
antologia Poemas Portugueses. Antologia da Poesia Portuguesa do Séc. XIII ao Séc. XXI, e mencionando antecipadamente, de que
apesar de tudo, e até tendo em conta a falta de antologias do
género, a antologia passou a ser um dos meus livros de poesia de
cabeceira, terei forçosamente de referir o seguinte: |
A antologia reúne num só e gigantesco (até
talvez assustador) volume de mais de 2000 mil páginas, 267
poetas portugueses, que vão de Pai Soares de Taveirós (início de
séc. XIII) até Pedro Mexia (nascido em 1972). Os responsáveis (sobretudo no que concerne ao séc. XX,
o grande paradigma desta antologia) vacilam entre não deixar fora das
margens, nenhum autor "suficientemente" canónico e a tentação inversa de
deixar a marca do seu gosto pessoal, qualquer que seja a origem desse
gosto (aliás, perfeitamente válida, se não se caísse por vezes no
absurdo, para não dizer escândalo de algumas escolhas, quer seja pelos
nomes, pelo conteúdo ou pelo espaço, atribuído neste “jardim” da poesia
portuguesa). |
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Pode-se discordar um pouco do número de páginas (quer
devessem ser mais ou menos) atribuídas a poetas como, Camões (82
páginas); Bernardim Ribeiro (19 páginas); Bocage (12 páginas); Almeida
Garrett (20 páginas); João de Deus (2 páginas); Florbela Espanca (3
páginas); Teixeira de Pascoais (12 páginas); Mário de Sá-Carneiro (22
páginas); Fernando Pessoa (159 páginas); José Régio (7 páginas); Jorge
de Sena (24 páginas); E. M. de Melo E Castro (6 páginas); Carlos
Oliveira (19 páginas); Manuel Alegre (6 páginas); Luísa Neto Jorge (11
páginas) ou Vasco Graça Moura (16 páginas), para dar alguns exemplos
(sempre sem esquecer o agradecimento que Manuel Gusmão deveria dar aos
organizadores por lhe ter sido incluído um poema nesta casta de poetas).
Mas, alguns "atentados" são efectuados à poesia e aos poetas,
particularmente do século XX, realmente o espaço privilegiado definido
pelos organizadores (isto, sem deixar de realçar uma excelente selecção,
sem dúvida inatacável, que foi a efectuada relativamente aos
cancioneiros dos séculos XIII e XIV).
Assim, passo a apontar alguns casos que causam
bastante perplexidade. Como entender uma antologia onde são incluídos 14
poemas de Eduarda Chiote, 27 de Jorge de Sousa Braga e apenas 1 (!!!),
repito, um, de Manuel Gusmão (já para não referir os 2(!) poemas de
Natália Correia)? Aliás, Eduarda Chiote, com 14 poemas, possui mais do
que António Maria Lisboa, António José Forte, Armando da Silva Carvalho,
Fátima Maldonado e Manuel Gusmão em conjunto (é obra - de quem?). Se
aceitamos as 39 páginas de Ruy Belo, como explicar as escassas páginas,
tendo em conta as simetrias atrás expostas, de Herberto Helder e Mário
Cesariny? Mas, guardado estava o bocado – então não é que afinal, o
grande poeta das últimas décadas em Portugal se chama Daniel Maia-Pinto
Rodrigues (!!!)?
Daniel Maia-Pinto Rodrigues que alguns querem à força
comparar a Adília Lopes (também há quem compare a noite ao dia sem
qualquer problema), com as suas vinte e tal páginas, é sem dúvida, uma,
senão a maior (ao nível de Manuel Gusmão - 1 poema), das extravagâncias
desta antologia (Luís Miguel Queirós, afirma que ele «escreve na arejada
ignorância de toda a tradição literária»), porque parece que nesta
antologia (de que apesar de tudo teremos que entender determinados
critérios e metodologias, tendo em vista a editora e seus intuitos e de
alguma forma, existir perfeitamente delineada uma intenção pedagógica,
uma vez que a antologia deveria, ou deverá, funcionar como um largo
manual poético-escolar da poesia portuguesa) por vezes, ficamos sem
saber se os responsáveis colocam ou não colocam autores, tendo em conta
apenas os seus gostos pessoais, ou até se conhecerão minimamente,
determinados poetas e sua respectiva poesia (e falo especialmente de
poetas do séc. XX, talvez até da segunda metade do séc. XX), uma vez que
é o grande campo de incidência da antologia.
Isto, já para não falar na exclusão de poetas desta
antologia (até tendo em conta a inclusão de outros) como, António Feijó,
José Blanc de Portugal, Guilherme de Faria, Saúl Dias, António Salvado,
Edgar Carneiro, Ernesto Sampaio, António Barahona, Vergílio Alberto
Vieira, José Sebag, Manuel da Silva Ramos, Nuno de Figueiredo ou Carlos
Bessa, só para citar nomes (poderia ainda referir mais alguns) que
encarnam o número do azar (13) e que poderiam perfeitamente ter sido
incluídos na antologia.
Concluindo (apesar de ser sempre mais cómodo, estar no exterior, do que
no centro, de uma tarefa como esta), estamos perante uma antologia em
que aos organizadores terá que ser atribuído o mérito, algo
considerável, de terem conseguido juntar mais de dois mil poemas (ou
fragmentos deles) de 267 poetas, num arco temporal de oito séculos, mas
que até devido a tal facto, deveriam em determinadas situações, por um
lado, ter sido mais exigentes consigo próprio e por outro, não acharem
que este jardim (pequeno jardim) da poesia portuguesa, aceita ou
aceitará qualquer planta, só porque é regada em abundância (aliás, "água
de mais mata a planta").
P.S. – Se a antologia terminou com Pedro Mexia que nasceu em 1972 e que
publicou pela primeira vez em 1999 – ficamos sem ter a certeza, se não
ter terminado com um poeta nascido em 1974, o mais lógico (uma vez que
seria terminar um ciclo temporal numa data importante, não só da
sociedade, mas também, da literatura portuguesa) ou publicado pela
primeira vez em 2000, se deveu ao facto de ter sido assumido o objectivo
de não incluir Manuel de Freitas?
Dois poemas de Manuel Gusmão (1 poema na antologia) e Daniel Maia-Pinto
Rodrigues (23 páginas na antologia – como disse numa carta que me
escreveu em 2006, Herberto Helder: “E eu que ainda não li todos os
gregos”):
A velocidade da luz
Há, houve uma rotação do teu corpo
e há qualquer coisa de irreparável
que me fizeste quando rodaste no mundo –
o quase homem aposta tudo em que voltará.
Joga tudo em que o mundo regressará
a essa forma de uma onda suspensa na música
a essa rotação fora dos eixos.
Porque é que dizes então «irreparável»?
Irreparável aponta para onde?
Irreparável é o mesmo que antiquíssima
e não idêntica?
A cicatriz é irreparável porque a ferida é perpétua,
esquecida e perpetua?
Tocas-lhe a milímetros de distância,
como quem não quer
a coisa,
e tu devias dar e não dar por isso.
Dir-se-ia que o ar se moveu, que uma coluna
do tempo se deslocou, dançou como a luz por entre nuvens
na parede verde de um canavial.
M.G.
Um Pequeno Poema de Amor
Nos tempos primitivos
o australopiteco dizia para a mulher:
"ó minha macaquinha, sorria
olhe ali um mamute!"
Nos tempos de hoje em dia
o homem diz para a mulher:
"ó minha dama de companhia, mamo-te."
Prefiro o setentão sinfónico dos Camel
que dizia:
ó minha dama de fantasia, amo-te.
D.M.P.R. |
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João Rasteiro
Fevereiro – 2010 |
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JOÃO RASTEIRO (Coimbra - Portugal, 1965). Poeta e ensaísta. É sócio da Associação Portuguesa de Escritores, membro do Conselho Editorial da Revista Oficina de Poesia e do Conselho Editorial da revista brasileira Confraria do Vento (versão impressa). É delegado em Portugal da Revista Italiana “Il Convivio” e colaborador da revista colombiana de poesia, “Arquitrave”(em 2008 deverá sair de sua responsabilidade, um número especial dedicado à nova poesia portuguesa). Tem poemas publicados em várias Revistas e Antologias em Portugal, Brasil, Colômbia, Itália e Espanha e possui poemas traduzidos para o Espanhol, Italiano, Inglês, Francês e Finlandês. Publicou os livros de poesia, A Respiração das Vértebras (Sagesse, 2001), No Centro do Arco (Palimage, 2003) e Os Cílios Maternos (Palimage, 2005) e O Búzio de Istambul (Palimage, 2008). Obteve vários prémios, nomeadamente uma “Menção Honrosa” no Concurso Internacional “Poesie Sulle Piastrelle”(Zacem – Itália,2001), a Segnalazione di Merito no Concurso Internacionale de Poesia: Publio Virgilio Marone (Itália,2003) e o 1º prémio no Concurso de Poesia e Conto: Cinco Povos Cinco Nações, 2004. Em 2005 integrou a antologia: “Cânticos da Fronteira/Cánticos de la Frontera (Trilce Ediciones – Salamanca). Em 2007 f oi convidado a participar no III Festival Internacional de poesia de Granada – Nicarágua e integrou a antologia: “Transnatural”(projecto multidisciplinar que tem como tema o Jardim Botânico da Universidade de Coimbra) – Editora Artez. Em Maio de 2007, f oi um dos poetas participantes nos VI Encontros Internacionais de Poetas de Coimbra, F.L.U.C. - Universidade de Coimbra. Mantém em dia o fulgor insane do Blogue: http://www.nocentrodoarco.blogspot.com/ E-mail: jjrasteiro@sapo.pt |
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