O pai chegava tarde…A mãe e os avós
(que o mano era pequeno) estavam sempre comigo.
Então o pai chegava, perguntava da escola
perguntava das coisas que a mãe lhe sussurrava.
A escola era a Escola onde eu agora andava.
E a mãe pela manhã falava devagar
arranjava-me o lanche, chamava-lhe merenda
e eu ia no autocarro (sem o mano que tinha)
Eu não sabia de anos só sabia de meses
- o que a mãe me ensinara e que na escola aprendia –
(o mano era pequeno!) eu jogava sozinho.
O pai que vinha tarde não jogava comigo.
E o pai que vinha tarde mesmo se era Domingo
chegou perto da porta na manhã daquele dia.
Havia gente na rua e gente que gritava
E na televisão muitos desconhecidos.
E o pai depois daquilo disse-me: anda jogar
Anda jogar meu filho pois já não há fascismo.
E o pai que vinha tarde jogou comigo à bola
na rua da Amoreira a rua pequenina
E a mãe chorou ao ver-nos e eu não a entendia
a mãe que era só minha (e do mano que havia)
Eu sabia de meses mas não sabia de anos
E jogava com o pai pois já não há fascismo
A avó não gritava Levava-me p’la mão
até ao autocarro E para a Escolas eu ia
Sozinho ia p’rá Escola (o mano era pequeno…)
- E eu e o pai jogávamos quando eu de lá vinha
Jogávamos jogávamos – eu e o pai jogávamos
E o mano (era pequeno!) olhava sentadinho
E a mãe também por vezes nos olhava a jogar
Pois já não há fascismo Pois já não há fascismo!
(Publicado em antologia com o nome de F.Frazão. O garoto/personagem obviamente cresceu e é hoje o triplóvico João Garção)
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