JOÃO BELO
Os Os outra vez
Orlando Sousa nome de homossexual. Osvaldo Silva pederasta. Osvaldo o O. Ambos bissexuais como as gaivotas bissexuais. A noite nos cinco cantos do mundo. Orlando é uma sereia. Orlanda de Sousa uma lésbica. Lesbianíssima. Androginíssima. Masculina. A irmã do Osvaldo. A mulher da prima do Orlando. A mãe dos dois. Nunca foram irmãos. A mãe é o pai. Querem psicanalisar o meu poema. Querem psicocríticos escrever denúncias nos jornais. Querem dizer perverso a minha irmã em coitos desalmados. A estranha sensação do diferente. A estranha satisfação do igual sempre igual ao outro igual. A desigualdade de nascer Osvaldo Orlando. A insatisfação de concreto ser sensação. A indiferença de preparatoriamente viver em perversão. A necessidade de igualmente morrer sensacional. A vontade de reencarnar Orlando Silva. Orlando dos Santos. Osvaldo dos Sousa. Orlando da Silva. Orlando Lopes. Na piscina Lopes e em casa Santos. Nas nuvens ou no laboratório ou no nunca. Em família com as cores trocadas Sousa navegador das invenções. Em família preso por mudar de roupa. Em desgosto aplauso por perverso prestidigitador de almofarizes. Com borbulhas para desenhar. Condignamente feminino. Orlando Sousa professor pai de filhos. Orlando Sousa júnior avô de tios. Dezassete meses juvenis dois namoros três amantes. Uma vez Osvaldo Sintra. Uma vez os números apaixonou-se. Duas vezes à cidade. Orlando e Osvaldo com os braços dados. Femininos masculinos mistos alemãs. Os dois jogadores sorte e azar. Os dois tristeza os dois certeza os dois os dois. Os dois as mulheres perversas. Os dois o corpo aberto. Os dois cada vez mais perto. Os dois homenagem a Joana d’ Arc. Os dois bailado russo na televisão. Os dois sofá. Na mão de ambos etc. No peito das lésbicas etc. Na púbis da estátua. Pelo poema da estrada. O vento mil vezes homossexual. Osvaldo de guarda-chuva mil vezes lagos. Os céus mil vezes chuva mil vezes dança. Os cegos mil vezes esperança mil vezes um dia mil vezes sol. Osvaldo o ânus etc. Orlando os pés. Maria Maria Maria. Desejos etc. Extensão por percorrer os mundos na rua. Os planetas na rua etc. Os mil mundos extensos etc. Maria. Os desejos Osvaldo Orlando na rua. Nas pingas da chuva etc. Nos cochichos da chuva Maria. Na estranheza da noite Osvaldo Silva. Nos reveses da lua mil vezes etc. a lua mil vezes o chão Orlando Maria. Duas vezes os Santos no Japão. O sol acende os pés. Santos Silva. Santos Sintra. Sousa Santos. Sousa os os. Sintra os os. Duas vezes sempre. Duas vezes sol. Duas vezes chão. Mil vezes corpo. Mudos na rua.
 
Nota do Autor: Qualquer semelhança entre os nomes aqui transcritos e as pessoas deste mundo é pura coincidência e portanto por acaso……
 
 
 
João Belo (Portugal, 1959). Publicou «A inacreditável flexibilidade do tempo», 1987; «O culto de Maria», 1999, com a assinatura de João Belo Azenha.