A MÃO SOBRE O MÁRMORE / A MÃO SOBRE O MÁRMORE
José António Gonçalves
04-04-2005 www.triplov.org

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A mão caía sobre o mármore

da mesa do café quase vazio

como se lá dentro estivesse mais frio

do que nos paralelepípedos da cidade.

 

Por debaixo da mão uma folha

de papel gasta de gatafunhos

ainda com a marca antiga dos punhos

que sobre ela procuram pela poesia.

 

Entre os dedos uma caneta velha

pronta para de vez deitar fora

se não fosse o que pode agora

acontecer com o atear da palavra

 

como um incêndio na floresta

devastando as árvores e o mato

umas casas uns muros o facto

de precisar das chamas no poema.

 

E a mão no mármore pede água

o cachimbo talvez para fazer fumo

e logo vem o fogo em brasa rumo

ao papel ocupado por riscalhada.

 

Aí - sem o revelar às musas - penso

(nunca o poderia mesmo ter dito):

ou fica este que já está escrito

ou então não se aproveita nada.

 

José António Gonçalves
(inédito.10.09.04)