“Brasília 5.0 Antologia de Cordel”. Esta publicação
vai marcar um
lugar especial nos cinqüenta anos da fundação de Brasília.
Em primeiro lugar pela apresentação de 50 biografias de figuras
candangas ligadas à literatura e à arte. Em seguida pelo valor
intrínseco da obra de Gustavo Dourado, “o maior dos poetas de cordel
da capital brasileira”, segundo Moacyr Scliar. A intenção original da
publicação da obra é homenagear a arte e o espírito criativo e
empreendedor do poeta e escritor Gustavo Dourado. Foi assim que surgiu
a idéia na cabeça da idealizadora e coordenadora da antologia,
escritora Meireluce Fernandes, ex-Presidente do Sindicato dos
Escritores do Distrito Federal. Meireluce achou justo que fosse feita
uma homenagem ao Gustavo Dourado pela obra que realizou enquanto foi
Presidente do Sindicato dos Escritores do Distrito Federal. A idéia
veio a se concretizar com a produção de textos da autoria do próprio
Gustavo Dourado visando celebrar e homenagear uma cinquentena de
figuras brasilienses dedicadas à arte e à literatura.
A biografia de Gustavo nos relata que ele viveu o
clima do cordel
popular baiano da região de Ibititá/Irecê, onde nasceu, assim como do
sertão setentrional da Chapada Diamantina, Baixo-Médio São Francisco,
terra de Castro Alves. Desde o berço, dizem-no vozes autobiográficas
fidedignas, acalentou-o o aboio dos vaqueiros, a cantilena dos
martelos agalopados, as pelejas e o repente dos cantadores de feira.
Sua infância foi ambientada no cordel popular. Ao entrar na
Universidade essa inspiração popular foi desenvolvida em moldes
próprios.
Gustavo notabilizou-se na composição da arte de
cordel desde o tempo
em que era estudante do curso superior de Letras da Universidade de
Brasília quando aproveitava para declamar suas composições cordelistas
junto de colegas e professores em quem tinha mais confiança. Gustavo
ainda conheceu na UnB o prestígio que o cordel brasileiro ganhou na
universidade da Sorbonne graças ao trabalho de Raymond Cantel, que
chamou a atenção dos franceses e da crítica internacional para a
literatura de folhetos do Brasil, ou “littérature de colportage”.
Interessado na literatura que cantava o mítico rei do cangaço
Virgulino Lampião, e outros heróis, Cantel percorreu o Cariri
cearense, a Paraíba e o Recife, e passou a vir anualmente desde 1950
para conferir no Brasil as novidades das gráficas de cordel e das
feiras com a vontade de encontrar novos textos, novos autores e novas
histórias de cordel.
Com a experiência cordelista da terra baiana, com o
talento que tem e
com as boas oportunidades que lheu a Academia, Gustavo tornou-se um
criador de texto e um especialista em cordel. Com a insistência de
quem conhece a arte pela raiz, tornou-se a figura número um do cordel
erudito em Brasília, com suas produções atingindo o Brasil inteiro e
meios internacionais interessados neste tipo de arte popular. As
biografias que teceu sobre sobre Tropicália, Mulher, Neruda,
Pixinguinha, Alan Kardec, Chico Buarque, Machado de Assis, Fernando
Pessoa e José Saramago alargam o ciclo de seus leitores e do interesse
critico sobre sua obra. Estas biografias mostram um cordel avançado,
detalhista, cuidado, independente, erudito, biográfico, panegírico e
didático ao mesmo tempo. Mantendo como base o ritmo e a sextilha
clássica dos repentistas nordestinos, Gustavo, entretanto empreende
nestes textos a livre tarefa de caracterizar, biografar e narrar. Seu
cordel conta histórias de vida. São currículos em sextilha. Com isso
ele contribui pedagogicamente para que as escolas possam recorrer ao
cordel para conhecer em verso solto e sintético e cadenciado os pontos
mais importantes da biografia de grandes figuras literárias
brasileiras, internacionais e lusófonas. Neste seu livro dá espaço
para notáveis figuras literárias e artísticas candangas e brasilienses
como Santiago Naud, Antonio Miranda, Toninho de Sousa e outros,
legando aos seus biografados a graça da sua interpretação. Entre
muitas coisas que podem ser destacadas neste tipo de cordel somos de
opinião que a dinamização plural da língua portuguesa ocupa o lugar
mais alto. É já uma constante na escrita de Gustavo, desde Phalábora,
a tendência de criar espaços criativos para as palavras. Buscando o
vanguardismo umas vezes e a força maior da expressão, outras vezes,
Gustavo gosta de tentar criações lexicais. Aliás, ele se coloca na
esteira dos melhores mestres brasileiros desde o modernismo de 1922
para cá. São exemplares máximos nesta criatividade lexical, Mário de
Andrade em “Macunaíma”, Monteiro Lobato em “Urupês”, Guimarães Rosa em
“Grandes Sertões: Veredas” e outras obras. Inserindo-se nesta
tendência criativa, Gustavo faz da criação lexicológica sua habilidade
principal. Trata-se de criações inteligentes que valem pela expressão
e pela intencionalidade na medida em que legam à palavra uma estrutura
linguística que diz ao leitor onde a palavra mora. Estão nesta escala
de inventividade: midiocridade, internetional, borboletra, multiverso,
hitlerizar, braileiro, crititicos, midiota ditadura e outros. São
vocábulos que mostram profunda capacidade criativa do autor. Mas a
verdade é que a obra inteira clama a favor de sua qualidade literária
e artística. |