a condição exacta de me subir galáctica
Já subi serras desnudas e respirei cardos como rosas saíram-me pelo
nariz os picos onde pendurei cabides coroas amarelas na cabeça onde
pousei betão e fiz jarra do antigo amor-prédio com dois andares de
várias assoalhadas pós-guerra
passeio-me por entre as ruínas, canto
ondulo em pé relembro sentada as noites fogo de artifício onde te
desbastava com sotaque só nosso e até parecia que a solidão não era
viva
eu calo, eu ouço não falarei das carruagens descarriladas
de amor crescente das fronhas magníficas na cama de verão das
discussões tabágicas, das compras de supermercado das bicas matinais de
beijos frescos nas olheiras dos olhos sorridentes capazes de três marés
não viverei nesta avareza de corpos tácitos ascendo-me em
escala, solto um dó a última piedade de um coração toupeira
exijo-me a tenacidade das chuvas torrenciais estender-me na crueza da
vida a galope toc-toc-toc sempre às chicotadas cada vez mais rápido,
sem olhar atrás cada vez mais rápido à estratoesfera ir contra um
asteróide e explodir em astro numa doce eutanásia do amor-risível
a incompreensão dos
dias da corja
olha como é a injustiça que te atira à sarjeta
passam-te três carros e meio por cima e ainda te levantas com um
sorriso aprendeste a coxear em tom sexy só à espera desse instante
depois segues toda mulher, disfarçada em ligaduras de primeiro grau
seguirás em frente com os princípios e os fins
serás
refeita e praticada universalmente, como uma bíblia, nesta cozinha
onde sugas as lágrimas a lavar a loiça com palha de aço
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