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JOSÉ DO CARMO
FRANCISCO |
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Vinte Linhas (523)
Isto é «Para acabar de vez com a cultura» |
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Quando alguém está metido numa embrulhada muito difícil de
explicar diz-se que a situação é kafkiana de Franz Kafka (1883-1924),
autor de vários livros (p.e. «A metamorfose», «O processo») nos quais o
absurdo se passeia de situação em situação.
Desta vez, e para ir
directo ao assunto, escolho não Franz Kafka mas o título de um livro de
Woody Allen – «Para acabar de vez com a cultura».
De facto há Associações
Culturais e Câmaras Municipais cujo objectivo mais parece ser acabar de
vez com a cultura em vez de, como seria lógico, divulgar, promover e dar
às pessoas das suas localidades a possibilidade de dialogar em directo
com os agentes culturais. Participei há meses num Festival de Poesia e
Artes Plásticas e ainda não recebi os valores em euros que paguei para a
minha deslocação de comboio. Muito menos o valor dos outros recibos já
entregues e, muito menos ainda, o valor do recibo verde respeitante às
ajudas de custo da participação no dito cujo Festival.
Tenho fotocópias dos
diversos documentos e cópia do recibo verde mas não tenho o dinheiro.
Nem é o dinheiro que me mais interessa embora seja importante o
reembolso do que já paguei à CP. O maior problema é a atitude negligente
de quem me convidou.
Porque no fundo o que
eu receber (se receber…) passados tantos meses só servirá para compensar
o que gastei em licores, bolos e outras recordações regionais. Acabar de
vez com a cultura é isso mesmo – convidar e depois afugentar aos poucos
os agentes culturais, as pessoas que, com todas as boas intenções do
Mundo, não recebem sequer o dinheiro gasto nas duas viagens de comboio a
partir de Santa Apolónia.
José do Carmo Francisco
Nota final – seria cómico
se não fosse triste. Recebi em Setembro, 4 meses depois, o valor de 100
euros mas como gastei 34 sobejam 66. Passei um recibo de 70 e perdi 4
euros. Ora abóbora! |
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Nota de Nicolau Saião |
A negligencia
(desfaçatez?) a que alude o A., agora passou-se comigo, ainda que com
outras “nuances”: convidado, há vários meses, a efectuar uma exposição
ícono-bibliográfica numa localidade alentejana onde levara – nos tempos
da antiga gerência camarária, que sempre se portou comigo
civilizadamente – a efeito diversas acções de algum destaque, pelo
responsável que me convidara foram-me garantidas coisas urbanamente
mínimas. Não recebendo nenhum cachet, assim como os dois convidados
oficiais que me haviam sido sugeridos pelo dito responsável,
assegurou-me que as despesas (aliás reduzidas) de dormida, comida e
transporte seriam de conta da edilidade. No entanto, dois dias antes da
montagem da mesma e com surpresa da minha parte, foi-me comunicado que,
contra o que era espectável, não pagariam as despesas de transporte
(aliás reduzidas e uma gota de água em qualquer autarquia normalmente
gerida). Atitude tão miserabilista, mesquinha e denotando negligente
falta de palavra que, como é evidente, arrastou que eu me recusasse de
imediato a expor (expor-me) naquelas condições.
A cultura real implica
lealdade, de contrário é apenas espectáculo e não muito digno. Nessas
coisatas eu não entro.
E como o autor do texto
supra é um conhecido e probo homem ligado ao desporto, eu terminaria
dizendo à guisa de linguagem desportiva: a autarquia da dita cidade
alentejana usa um lied publicitário que reza: a cidade Xis marca. E eu
diria, neste caso, que pelos vistos e pelas mãos (pelos pés) dos actuais
próceres, marca é golos na própria baliza…! Assim, não! – NS |
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JOSÉ DO CARMO
FRANCISCO (Santa Catarina, Caldas da Rainha,1951).
Prêmio
Revelação da Associação Portuguesa de Escritores. Colaborou no
Dicionário Cronológico de Autores Portugueses do Instituto Português do
Livro. Poeta. Possui uma antologia da sua poesia publicada no Brasil.
Jornalista, colaborou entre outros em "A Bola", "Jornal do Sporting",
"Remate", "Atlantico Expresso"...
Autor de "Universário",
"Jogos Olímpicos", "Iniciais", "Os guarda-redes morrem ao domingo",
etc., bem como de antologias como "O trabalho", "O desporto na poesia
portuguesa e "As palavras em jogo", entre outras.
É secretário
da Associação Portuguesa de Críticos Literários. Vive em Lisboa.
Contacto: jcfrancisco@mail.pt
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