FERNANDO BOTTO SEMEDO




"VINTÉM DAS ESCOLAS"

A MINHA IRMÃ ALEGRIA, A MINHA IRMÃ ROMÃ
EU E DEUS SOMOS UM BALÃO VERMELHO INFINITO
CARTA DO POETA CASIMIRO DE BRITO





A MINHA IRMÃ ALEGRIA, A MINHA IRMÃ ROMÃ
A minha irmã alegria, a minha irmã romã,
Irmã da minha alma perturbada e que a
Faz orvalhar de amor, do amor mais belo e
Secreto, faz nascer nos meus olhos campos infinitos
De margaridas, das suas sementes de margarida eterna,
Cheia do luar e do riso das crianças frágeis,
De todas as crianças suas filhas, como
Papoilas infinitas da primavera eterna
Que orna o seu ser resplandecente e tão leve.
A minha irmã alegria, a minha irmã romã,
Mãe do sol e de todas as lágrimas de amor,
Pelo seu rosto de sol intemporal, é
Uma seara de trigo e pão, que nasceu
Da sua avó Dina, a minha avó santa
Que corre nas suas veias, com o coração
Do mais puro branco.
EU E DEUS SOMOS UM BALÃO VERMELHO INFINITO

Vivo com Deus numa casinha pobre,
Caiada de azul e roxo, e ambos somos crianças
Desiludidas e cheias de lágrimas, por desgosto
Da incompreensão para a pureza da Alma
E da Criação, de que apenas as crianças
Possuem o segredo.

Sonhamos. É tudo o que fazemos. Sonhamos
E esse Sonho frutificará um dia e não
Se dirá que Deus é fonte do Mal, porque ele
É pequenino e vive na irrealidade,
Para a qual tudo em Espírito evoluirá um
Dia.

Eu e Deus somos um balão vermelhoinfinito,
Num jardim para crianças e nós damos
Milho aos pombos da eternidade -
Que é um beijo de Amor para sempre.

Temos sono. Deixem-nos dormir
Para colorir melhor o que ainda não nasceu.

De: VINTÉM DAS ESCOLAS
Lisboa, 2002

CARTA DO POETA CASIMIRO DE BRITO







Para o poeta Fernando Botto Semedo, agradecendo o seu livro Vintém das Escolas - livro onde encontrei belíssimos poemas.

Agrada-me ter encontrado textos onde, mais do que autenticidade - sempre presente em todos os seus livros - você alcança uma originalidade e um timbre que me encantaram. Vai a S. Francisco de Assis e, à sua tão própria maneira, abraça o mundo e as suas criaturas - abraça a própria alegria. Trata as palavras como se fossem o que são : animais frágeis e intactos mas fecundos como o pão. Deposita nos seus versos, sem receio, o seu próprio coração - sem receio de assumir plenamente a criança que é e em todos nós subsiste, naquilo a que eu chamo o primordial do homem.

A luz que o ilumina faz-me bem - e venho agradecê-la.

Seu companheiro


Casimiro

Lisboa, 26/10/2001