Olho as árvores verdes que na praça
Existem e tocam já o sexto andar:
Sem elas pareceria o Verão, aqui,
Um deserto de sol, em reverberações sinistras
Nas calçadas, sem uma sombra,
A brisa diminuída pela omnipresença
De alcatrão e de automóveis febris.
Todos os dias dialogam comigo e
Com todos os versos que aqui inscrevo,
Agradecendo o meu cuidado de as regar sempre,
Na ausência da autarquia, numa amplidão de almas.
Existe uma natural e cristalina amizade
Entre nós, até às lágrimas, em nossa igualdade humana.
Em silêncio observo-as longamente,
E sinto-me uma árvore, e sinto um sorriso
De leveza elevar-me, sem asas, para o espaço,
O do meu sonho, infinito e saudoso.
19 / VIII – 2004
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