MANUEL MARIA BARBOSA DU BOCAGE
BOCAGE (Elmano Sadino)
Setúbal 1765-Lisboa 1805
Oh trevas, que enlutais a Natureza

Oh trevas, que enlutais a Natureza,
Longos ciprestes desta selva anosa,
Mochos de voz sinistra, e lamentosa,
Que dissolveis dos fados a incerteza:

Manes, surgidos da morada acesa
Onde de horror sem fim Plutão se goza,
Não aterreis esta alma dolorosa,
Que é mais triste que vós minha tristeza;

Perdi o galardão da fé mais pura,
Esperanças frustrei do amor mais terno,
A posse de celeste formosura:

Volvei pois, sombras vãs, ao fogo eterno:
E lamentando a minha desventura,
Movereis a piedade o mesmo inferno.