ANTÓNIO CARDOSO PINTO

Outubro

OUTUBRO tão cheio de memórias...

de gentes e coisas... de gestos, palavras e cantos

que ajudaram à compreensão do sentido da vida.

 

Olhar para trás, e ver

Ghandi, Guevara, Péron, Mendes-France...

ou Picasso, Malhoa, Rembrant, Cézanne...

ou Chopin, Lizt, Bruckner, Bizet, Gounot, Cláudio Carneiro,

Luis de Freitas Branco, Leonard Bernstein.

 

OUTUBRO

de Luísa Todi, Sarah Bernardt, Ângela Pinto, Bette Davis...

da ONU, da NASA, da VÉNUS 4 ...

da Basílica da Estrela, do Elevador da Glória, do Café Nicola...

das primeiras emissões regulares de Rádio...

ou de gente grande das Letras:

Aragon, Allan-Pöe, Anatole France, Manuel Bandeira, Cocteau,

Nietzsche, Oscar Wilde, Rodrigues Miguéis, Dostoiewsky, Rimbaud...

 

ou de António José da Silva, o "Judeu", que a Inquisição matou pelo fogo...

 

ou, ainda, de gente que cantou:

Piaff, Vinicius, Brel, Brassens, Adriano Correia de Oliveira...

 

OUTUBRO tão cheio de memórias...

de gestos, palavras e cantos

que ajudaram à compreensão do sentido da vida.

 

"Caminho entre os homens como entre fragmentos do futuro: daquele futuro que já vislumbro.

E é todo o meu poder e intenção, ligar e correlacionar tudo o que aparece como fragmento, enigma e acaso terrível.

E como suportaria ser um homem, se a este não fosse dado ser poeta, decifrador de enigmas,

redentor do acaso!

Redimir todo o passado e transformar todo o "foi" em "eu quis que fosse assim!" - Só a isto eu

chamaria redenção.

... Assim falava Zaratustra.

"ECCE HOMO" - F. NIETZSCHE

*

"Chove em Avintes, Adriano. Em cima das trovas e das rosas. 

Por dentro deste humano rio que tu não vês. O saibro suja-nos os sapatos, as calças, o olhar... Cinzenta e áspera, a tarde pesa no planger do bronze.

Conheces, eu sei, os horizontes cerrados; trazias em ti um fogo ambulante, pronto a irradiar luz e energia, que ajudava a tornar clara a roupagem antracite do tempo. Às vezes, porém, muito de raro em raro, pedias às lágrimas que corressem no silêncio. Porque há vasos onde só a dor cabe; circuitos pedregosos para as veias, tecidos de mágoa e coragem, precedendo os estuários da bonança. Sempre transitiva, serenadora, apetecível.

A chuva põe minúsculas abelhas frias nascendo ao rés da terra. E cantamos. Contigo. A voz brumosa, frágil, revoando na lonjura opaca. Madrugante, todavia. 

É o pássaro da liberdade a tremular nos lábios dos teus amigos velhos... Esse mesmo a que deste voos ousados e bonitos. "

"MASTROS NA AREIA" - JOSÉ MANUEL MENDES

*

OUTUBRO

tão cheio de signos e de símbolos.

("tudo é símbolo!")