António
CÂNDIDO FRANCO
29 - Ó Saudade das trevas

Ó Saudade das trevas
que hoje são luz.
Ó Saudade do silêncio
que é hoje canto.

Ó Saudade de nada
que é hoje tudo.
Ó Saudade da criança
que eu hoje sou.

Canto
porque fiquei em silêncio.
Vejo
já que na escuridão me perdi.

Sou
porque sei.
Cresci
já que parei.

E tudo é assim
para que
sem remédio
as trevas
o silêncio e o nada
sejam dentro de mim.

 

27 de Janeiro de 1995
[Primavera de 2001]






António Cândido Franco
Estâncias Reunidas
1977-2002
Edições Quasi
2002, Lisboa