ANTÓNIO DE MACEDO
Laboratório Mágico- Ensaios Alquimísticos
Hugin Editores, Lisboa, 2002 |
Óptima lavra edificada e publicada pelas Edições Hugin. Lobriga-se, ao compulsar esta obra, que o seu Autor, para além de ter passado, previdente, pela noite escura, é pessoa que leu, tornou a ler, orou e laborou: daí a razão e a natura do seu laboratório. O facto e o fastígio de este se apresentar como mágico não deve espantar, nem assustar, o leitor do Evangelho: não foram Magos, vindos do Oriente, os primeiros a acatar a divindade de Jesus?
Eis aqui a misteriosofia, eis aqui, de acordo com Max Heindel, a explanação ou preensão do esotérico Cristianismo. António de Macedo, que é solar e solidário, nos faz entender que os arquivos secretos da Tradição ocidental não são, nem por sombras, inferiores aos ensinamentos dos Yoguis, jainistas, budistas ou hinduístas... De acordo, efectivamente, com a rara e preclara Fraternidade Rosacruz, a compreensão esotérica duma trova ou Boa Nova será, para o bem nosso, a religião do porvir. Queremos dizer, aqui, que o mágico laboratório é práxis ou prática empíricas do sentimento, e ensinamento, consignados na Bíblia.
O leitor de António de Macedo, destarte e na arte, sem dislates será discípulo; conhecerá a Verdade, e a Verdade o libertará. Cremos que, lido e devorado o «Laboratório Mágico», Deus, para nós, assumirá a evidência abstracta das Matemáticas, a evidência concreta, outrossim, das ciências físico-químicas. De acordo com a lei de causa e efeito, também denominada de Karma, saberá e sentirá, o augusto ledor, que ele deve obrar e colaborar com Deus no projecto criacionista, ou, por vocábulos outros, que ao homem cabe a liberdade e criação do seu destino. Para tanto, este livro oferta-lhe, em metáfora ou feeria, três vias convizinhas, ou melhor, complementares: a via mística, a via alquímica, e a «trágica» ou mágica vereda: tais são, segundo Fernando Pessoa, as três campanhas ou caminhos para o conhecimento do Oculto...
O mais avisado e mais atilado, dessa maneira, será seguir, com sentido, as três lições ou exemplos que Cristo nos deu. Quem quiser, assim, ser perfeito, como é puro e é perfeito o nosso Pai Celestial, deverá, para trilhar o caminho ou a câmara apostólica, aliviar as dores dos que sofrem, alimentar os famintos e miseráveis e ensinar, bem-dizente, o aspirante ou ignorante: tal foi, meu amigo, o mister ou ministério de Jesus.
Tende cautela, porém, porque a hermética ciência, ou Alquimia, nunca deve ser venal, não se troca pelos títulos ou tesouros deste mundo. O Frater Rosacruz, acima de tudo, deve jogar e presentar o papel e o mistério do Sol: consciente, como o Iniciado, que veio ao mundo para servir, para ele é deleite o disseminar ou dadivar a luz do coração, não pedindo, ao seu irmão, nada em troca; o alimento e sentimento da obra cumprida serão, para o postulante, a paga do auto e a plaga mais alta. Tanto mais produz a terra quanto mais húmus, ou múnus, tiver, e para o floral da sagração, secreta é a ciência, ou consciência, dos humildes: obediente, portanto, à postura da Lei, Cristo lavou, proficiente, os pés aos Apóstolos; esse bíblico episódio pesa na mente e na mensagem de qualquer Iniciado.
Por Grande Obra alquímica, desse modo, entende-se o seguinte: o plúmbeo do hebraísmo e o ferro do paganismo deverão ser mudados, ou transmutados, no ouro do Cristo; o Natal e nascimento de Cristo deve ocorrer, cardeal, no nosso coração. Tal é a condição, formal e curial, para que o Iniciado, enfim, se liberte a si, libertando, por conseguinte, os outros entes ou conviventes. Por vocábulos outros, e conformes, ao desatino da paixão deve suceder-se o tino, ou destino, da amorosa compaixão. Tendo presente, alfim, que o Cristo se re-apresenta no mais pobre, mais humilhado, ou mais humilde, a alegria do Frater será minha valia, enquanto que a dor do meu irmão, minha valência ou dolência será: aceite, então, a fraternidade universal de todos os seres em Cristo, S. Paulo e S. Francisco de Assis, cumpriremos, dessarte, o ministério e o múnus da nossa encarnação, faremos render, em parabém, os talentos natais ou ministeriais, e caminharemos, correctos e rectos, para a Redenção cordial e gradual da nossa Humanidade.
O combate do cristão, e o acicate do Rosacruz, é pois intérmino e sem termo: enquanto houver um doente, um saturnino ou sofredor, enquanto houver um ente sem ternura e um irmão que passe fome, a lição, ou colação, que o Cristo nos deu será fértil e fecunda, e à interpretação da fera, da férula ou do mundo seguir-se-á, nobilitante, a sua transformação.
- Para onde ruma a romaria, e tu vais, ó ensaísta, em direcção a quê? - pergunta, previdente, o leitor.
- À festa da Páscoa. Ao Menino Jesus. Ao império mavioso da Paz universal.