«O mundo é a minha representação». E segura, e certamente,
Schopenhauer o sabia: o sonho é uma pequena loucura, e a loucura, um
grande sonho. Ou como quem aduz, e como quem diz: a loucura, afinal, é
uma longa bebedeira, e o Dióniso é o louco. Na ciência sagrada da
Simbologia, o louco se move, ou comove, bem fora, desse modo, do mundo
da «Pólis», da Polícia polida e por isso politiquice. Ou melhor: dos
Arcanos Maiores do Livro de Thoth, o estulto é a única lâmina que não
está, deveras, numerada, dessarte, e classificada. Mas do mundo do
amente para o veraz pelotiqueiro, vai, aqui, um passo pequeno, o passo
do palhaço para o mundo da Magia. E nós todos, agora, o sabemos muito
bem: o Poeta foi expulso, por Platão, da República sua, ele induz os
educandos a acreditarem nas mentiras, no mitos e nas sombras: se a
Matemática, por isso, é o «Logos» do mentar, a Poesia, leve e breve,
é a plaga do mentir. Ou mehor: se a Mitologia é, das gentes, o sonho
colectivo, o sonho é, para a pessoa, o Mito particular. Concordamos,
caroável, concordamos, do cor, com António Cândido Franco: o Professor
de Literatura, ele é solerte, ele é manhoso, contador de mentiras – e
das mentiras ele faz a profissão de fé. Minha Poesia, por isso, ela é
falante e aflante – e se inspira pois no mar dos ventos libertários.
Sabereis, vós todos da audiência, que a Poesia é qual o Pão do
«pensamento selvagem», ou melhor: que Sigmund Freud, o Promotor da
Psicanálise, reconhecia nas crianças, no carisma dos Poetas, os
antepassados, deveras, da funda e facunda Psicologia. De tal modo que,
ao receber, em Viena, o dramaturgo Lenormand, Sigmund Freud, ao
mostrar-lhe a Biblioteca, lhe confessou que a Psicanálise tinha por
fundo, e fundamento, a Obra dos Poetas. Se o Sófocles, por isso, é o
Autor e promotor «O Édipo Rei», o mesmo mitologema se reflecte, e se
repete, na «persona» do Hamlet – e eis, aqui mesmo, o charme e o
Shakespeare. Pois sigamos, na cita, o Guy de Maupassant: «Os grandes
artistas são aqueles que fazem a Humanidade aceitar as suas ilusões
particulares»; por isso falava, o Surrealista, da imagem estupor,
estupefacta e estupefaciente. A talhe de foice, em facúndia, dizia
ainda mais, o Autor da Psicanálise: a histeria, de feito, é obra de
Arte deformada, a histeria, pra Breton, a maior descoberta poética de
todo o século XIX. Na França afinal, do oitocentos, cruzaram-se, para
a crítica, os dous grandes homens: um era Neurologista, em Paris, e
estudava o hipnotismo, era o Jean Martin Charcot; o outro era Poeta,
Proudhoniano, e dava pelo nome de Antero de Quental. Este encontro,
digamo-lo agora, foi real mas é simbólico, ele a-presenta, ou
re-apresenta, toda a história, ou toda a saga, da Psiquiatria dinâmica
do século XX, e outrossim do XXI. Pois, tanto o Platão, como o
Estagirita, eles são concordes, são unânimes num ponto: sem um pouco
de loucura não existe, deveras, verdadeiro, ou verídico Poeta. Nos
socorremos, aqui, de Karl Jaspers: contra o «Logos», contra a Ordem do
Dia, insiste e resiste a Paixão pela Noite – e tal é a antinomia,
Amigo leitor, entre Apolo, dessarte, e a dipsomania...........
De um lado, pois, o jugo, e antinómico, o jogo. O jogo do jocoso, do
pelotiqueiro e do jogral – ele é a lâmina primeira do Tarot de
Marselha. O Doutor Freud, quanto a nós, ele não descobriu o
Inconsciente; o Inconsciente foi manipulado, em todos os séculos, sob
o signo da Magia – e foi preciso que viesse um Mesmer, no século
XVIII, pra que descesse, o mesmo inconsciente, do céu à terra, do
mundo dos deuses para a prática dos homens. Dizia a Mesmer o Mozart: o
poder sugestivo da Música se encontra, veramente, na experiência
magnética. E, mais ou menos por esta altura, Marquês Armand de
Puységur substituiu o magnete por o sonho acordado, e o sonambulismo.
Campeava em Paris, por esta altura, um famoso luso-goês: referimo-nos
ao Abade José Custódio de Faria, porventura, dessarte, o primeiro
Português na Psiquiatria Dinâmica. Chamava, o nosso Abade, o «sono
lúcido» à hipnose – e foi tanta a sua fama que fez, Alexandre Dumas,
do Faria solerte, uma «persona», fantasmática, de «O Conde de Monto
Cristo». Lhe consagra, afinal, um volume, o Doutor Egas Moniz.. Mas
remembremos, aqui, a assertiva de Kant ( «o louco é aquele que sonha
acordado» ); o desconchavo, afinal, do Malebranche ( que «a imaginação
é a louca da casa» ). Contra o primado da razão, revelou, o Doutor
Freud, ao filho do homem, que ele não é sequer senhor em sua própria
casa, que, mais do que pensarmos, nós somos os pensados por o nosso
inconsciente. E tal descobrimento, ou tal passo de gigante, só pode
ser ser similar à revolução copernicana, ao Evolucionismo, trabalhado,
de «A Origem das Espécies». E ficou, derreado, o «cogito», conjectura,
do veterano Cartesius. Mas dirá, neste lance, o filisteu, que estamos
a ser filósofo, e os filósofos são doidos. E nós redarguiremos, nós
outros, na crise: no século pregresso, os majores, maiores ataques,
colectivos, de histeria, tomaram forma nas Musas, foram concertos,
figadais, dos «Beatniks» e «Beatles»; isso é o fundo, o fundamento e o
fundamental. Se queres, tu, tomar contacto, com a Musa inconsciente,
assiste à semifusa na peça teatral – ou toma, pois, o avião, tu vai
para o Brasil, e tu assiste, carioca, ao caroável Carnaval – e tu
verás, aqui, o Momo, tu verás, aqui, pujante, a festa da Anarquia. Da
folia, finisterra, e por isso da Anarquia. Ou da Lira libertária, ou
da língua, libertina, de Luís de Camões… Psicanálise, afinal, uma
hermenêutica Arte. Ao decifrar, no jogo da mente, dos pacientes os
sonhos, será, o Psicanalista, um novo Champollion perante os
hieróglifos. Pois quer o sonho, quer a neurose, são simbólicos – e é
tudo uma questão das lítotes, litorais, das metonímias e metáforas.
Ratificando, rectificando e concluindo, o sonho é uma alucinação que
nós temos diariamente – e o nosso inconsciente, afinal, a criança
adormecida adentro do adulto. E no estro e na estrofe, e quanto ao
estrogénio? E quanto à obscenidade, que é fora de cena? O obsceno,
corpo a corpo, o obsceno, pra Lacan, o discurso do Outro. Que
alegoriza e simboliza, quer dizer, que fala, para Grade, doutra causa
e doutra coisa. Continuemos, aqui, na récita real: para Joseph
Babinski, discípulo de Charcot, o pitiatismo, no transe, é próprio da
Pítia – e tanto para o Actor, como para o auditório, a cena teatral,
ou a «mystery play», é satisfação, na realidade, de neuróticas, ou
tópicas, necessidades. Se o sonho, dessarte, é qual loucura, e
amência, me seja lícito, aqui, um lance, ou episódio, autobiográfico:
no ano, figadal, de minha Licenciatura – e era o ano, já distante, de
1986 – me segredou, no sagrado, ao ouvido, o Professor, e Promotor,
José Augusto Mourão: «Se queres tu ser Poeta, toma muito cuidado,
cuidado fiducial, com fantasias e sonhos – pois essa é escola, e o
escopo, de teu progredimento.» Fui para minha casa, abri o Dicionário
– e eis, biblicista, a minha experiência de bibliomancia: abrindo, ao
acaso, o estimado Glossário, quedou-se a minha vista no significante:
e soletrei, na soledade, a palavra «psicodrama». Quero eu dizer: em
primo e em primeiro, em lugar primordial, encontra, o trovador, a
certa, certa nota para a palavra adequada; em tópico segundo, ou
sagrado segredo, para o grande Lacan, o deslocamento, e a condensação,
são, na Ciência dos Sonhos, as metonímias e metáforas; e «topos»,
alfim, ou tópico tércio: falamos, em Psicanálise, da Clínica do
Estilo, como se fala, em Literatura, do Estilo dum Autor. Que «O
Estilo é o homem», dizia Buffon, o homem, literal, a quem nos
dirigimos. Que a profissão do analista é feita de palavras; na mental
etiologia, tudo é discurso, é sabor e o saber do significante.
Devolvamos, assertava o vienense, devolvamos, às palavras, seu avito
poder mágico. Concordamos, caroal, concordamos em cor. Quero eu dizer:
a partir da perspectiva, ou da vida a partir, «Eu sou eu, e a minha
circunstância»; assim o asseverava o Ortega y Gasset. E
perspectivista, mas nanja nietzchiano, eu torno-me, dessarte, aquele
que sou. Não sou, como asseveram pessimistas, aquilo, acabado, que
fizeram de mim. O que interessa é o que eu faço, figadal, daquilo, ou
do clima, que fizeram de mim – e eis, aqui mesmo, o conspecto, e
aspeito, do Criacionismo. Citamos, leve e breve, o Leonardo Coimbra:
«O homem não é uma inutilidade num mundo feito, mas o obreiro dum
mundo a fazer.» Para fazer a grande Obra, é preciso passar,
frequentemente, por a experiência do êxtase – e «ek-stático
ex-sistere» é isso mesmo, é o viver, entusiasmado, e fora de si - e
por isso falava, o Jacques Lacan, da ex-centricidade do Ser… Citamos,
de memória, o «Ferdinando Persona»: «O Génio é a loucura, normalizada,
pela diluição no abstrato, tal como um veneno que, mediante mistura,
se converte em medicamento.» - e não sentes, pois, aqui, o ápice, ou
acume, da Poesia Portuguesa???
Avoquemos, no lance, «Eu próprio, o Outro», de Mário de Sá-Carneiro –
e invoquemos, aqui, o «Outro de si mesmo», do António Ramos Rosa; para
Jean-Arthur Rimbaud, o «Eu», dessarte, «é o Outro». Sabemos,
certamente, nós sabemos, seguramente, que, em busca de solução para o
seu problema e dilema, a 10 de Junho de 1919 Fernando Pessoa escreveu
uma carta a dous Psiquiatras franceses: e eram Hector e Henri
Durville. Pelo exposto mais atrás, podemos, portanto, asseverar: o
trabalho do analista, apurado e acurado, é como o ofício do Crítico
Literário, ou melhor: quer um, quer outro, eles trazem, no texto, à
luz do dia, o material recalcado no inconsciente arcaico. Ouçamos, no
gabo, ouçamos, filómito, o Gustav Theodor Fechner: a psique humana é
um lato, um lauto icebergue; um oitavo desse icebergue está visível e
acordado, sete oitavos são ocultos e são, no fantasma, o Inconsciente.
Eles são, falando em tropos, uma África profunda. José Augusto Mourão,
como Crítico e Escritor, ele tinha razão naquilo que dizia: a
hermenêutica dos sonhos releva, em Literatura, uma auto-análise: e eis
a escola e o escopo da especulação. Era concorde, o Freud, com Zé
Augusto, afinal: são os sonhos, dessarte, a via nobre, ou via régia,
para a exploração, e explanação, do nosso Inconsciente. Que o Eu, por
isso, se volva em muitos; sintamos tudo, e deveras, de todas as
maneiras. Devidamente informado, nós queremos asseverar: em
«Ferdinando Persona», muito mais que esquizofrenia, ou divisão da
personalidade, ou demência precoce, nós temos, ampliada, a «persona»
dilatada. E a loucura superada na escrita e pela escritura. Se ele
mesmo se classificou qual histero-neurasténico, sabemos nós, a partir
de Josef Breuer: seguindo e segundo o Dicionário Houaiss da Língua
Portuguesa, a histeria é uma «neurose na qual as moções pulsionais
sofrem especial recalque e são inconscientemente traduzidas em
sintomas corporais». Por isso o Nume, por isso o nome: neurose de
conversão. Ora a grande descoberta da augusta Psicanálise, é que a
sintomatologia, se revela e desvela na Simbologia – e as
«reminiscências arcaicas» do Pai de Anna Freud, elas são, para Jung,
os arquétipos arcanos. Os arquétipos arcanos do oblativo, colectivo
inconsciente. Sigamos, passo a passo, o Doutor de Viena: toda a
neurose é fixação, ou regressão, à infantil sexualidade – e a criança
é deveras um «perverso polimorfo» - e a neurose, por isso mesmo, o
negativo da perversão. Quanto mais antiga, e arcaica, for essa
fixação, maior e major a patologia. E em Comparada Letradura, segundo
o Charles Baudelaire, o Génio poético é infância reabilitada, e por
isso, revisitada. «A criança», por exemplo, para Wordsworth, «é o
antepassado do homem»: se reflecte e repete, a filogénese, em
ontológica ontogénese. Tudo isso é muito bonito, diria o Voltaire, mas
cultivemos, deveras, o nosso jardim.
E quem não for como um menino, segundo o Cristismo, ele não entrará no
Reino dos Céus – pois é regresso, a Obra de Arte, à fase
mágico-simbólica; as palavras, para o Poeta, são símbolos ou imagens,
são icónicas, ou fónicas, representações. Que a fase mágico-simbólica,
que vai dos dous, dessarte, aos sete anos de idade, a fase da Magia,
pré-operacional para Jean Piaget, apresenta os caracteres muito gratos
às Artes, como sejam, «verbi gratia», a mente animista, a não
destrinça entre a aparência e a realidade e o pensamento egocêntrico,
mágico ou intuitivo, a Poesia, ela própria, a máscara teatral para
«Ferdinando Persona».
Nossa prima conferência, assim, se chamava: «Desenvolvimento
Tecnológico Versus Humanismo e Tecido Social». Nela aventávamos, no
lance, a verdade, portanto, seguinte e requinte: a hegemonia crescente
do racionalismo, e positivismo, no mundo ocidental, veio arrasar,
tornar roaz, o mundo da Magia, do magnete ou das imagens; no
«processus» da mecânica, ou da máquina-manípulo, só ficou, para o
Poeta, o papel de Saltimbanco – e esse, o Tarot, pois essa a Teoria. E
invocamos, aqui, António Telmo, nós avocamos, aqui, Tomé Natanael: o
que será, nos Poetas, a descida aos infernos, senão expressão, preste
e pronta, da parte inconsciente? Unindo, por isso mesmo, o Freud ao
Estagirita, no solerte Psicodrama nós temos, alfim: para iludir a
censura, se revela e se reveste, o material inconsciente, dos motes e
metáforas, dos tópicos e tropos – e no mundo do espectáculo nós temos,
alfim,, a «imago» especular: será que a Arte imita a vida ou a vida
imita a Arte???
Para citarmos Mário Máximo, sejamos o nautívago, continuemos,
dessarte, a viajar ou navegar. Como ensinava o Carlos Dias, o
professo, no Colégio Militar, «agora vamos às palavrinhas».
Etimologicamente, o hino, ou himeneu, é o rompimento do hímen. O
carme, para os Latinos, é poema e a canção – mas ele é, outrossim, o
esconjuro e o presságio, a mágica operação. Quero eu dizer: se
associa, o carme, ao chantre e ao charme. Se compensa pois a dor já
pensando ou pondo o penso; o exprimir é extirpar, e o espremer, o pus
e o fel da narcísica ferida. O Isso fala, segundo o Freud, e simpatia,
ou empatia, é remédio e consolo para a patologia – e Carl Rogers,
aqui, não anda longe. Curiosamente, o «hipócrita», que vem do grego
«hipokristés», significava, inicialmente, o «oráculo, adivinho,
oniromante e profeta». Passou depós, ou depois ( e seguimos Orlando
Neves ), a incluir a ideia de «mentiroso e velhaco», e ainda «actor,
comediante, aquele que no palco interpreta a “persona”». E quanto,
agora, ao grego milagre? Etimologicamente, o «Profeta» significa, na
signa, «o intérprete de um deus, um adivinho, aquele que interpreta as
palavras de um oráculo». Ora o que asserta o Platão, em «Fedro» culto,
e oculto, é que a «mania», dos Poetas, não é pois loucura no sentido
psiquiátrico, ela é, sobremaneira, uma forma de mancia – e que o Poeta
suflado por a mania sagrada, ou hieromania, ele ofusca, ele suplanta e
ultrapassa, o Poeta sem vesânia. E, de acordo com os gregos, adivinho,
para os Latinos, é o que abraça e enlaça o ofício divino. Ainda e
sempre, meu Amigo, para o Autor de o «Banquete», a mania dos Poetas é
«delírio divino», e à Musa se juntam, no jogo das palavras, à Musa se
juntam o delírio de Afrodite, das cerimónias de Mistérios onde é divo
o Dionísio, e de Apolo ou da Pítia no áugure pítico – e Pitágoras,
aqui, é Cabala fonética. Pois muitas vezes, o Génio ( o Génio, para os
Latinos, aquele que gera, o Génio, segundo a Língua, o Engenheiro das
Almas ), ele templa e contempla a generalidade, a generosidade, da
Ideia Platónica – e por isso ele se move, se movimenta tão mal, no
mundo prático, e vulgar, da razão suficiente. Andamos nós, nas
Ciências Humanas, a cumprir o destino, ou desatino, do Tales de Mileto
– e ao escrutarmos, na verve, a abóbada celeste, nós caímos nos
buracos abertos na terra – e por isso a Poesia é qual funâmbulismo, é
«O Fio da Navalha» pra Somerset Maugham.
Ainda uma cousa, mais uma cousa, a propósito, ó ledor, da genialidade:
ela acura, simboliza e sublima a genitalidade. Se a semente,
sementezinha, é qual Palavra de Deus, entre o sémen e a Palavra existe
pois apenas a feraz analogia, a semelhança da sêmea e portanto do
sema. E isso mesmo, na canção, o Freud crismou de sublimação. Se a
especulação, inicialmente, era o templar o sidéreo com a ajuda dum
espelho, daí o siderar, o con-siderar, e em transe ficar. Para
admirarmos, entanto, e mirarmos o «miracle», eis, mirabolante, uma
oração…do coração. O coração, que dá coragem, o coração é pois a voz
do Profeta, e Poeta, é aquilo pois que gera o entusiasmo. Ou melhor,
na mancia: para ser Escritor, Filósofo e Poeta, é preciso ter talento,
é preciso ter engenho, é mister o cultivar, e cultuar, o Génio
sublime. Pois esse Génio, para os Gregos, é «daimôn», é o
intermediário entre os deuses e os homens……
Que o Poeta, ou Profeta, para os Hebraicos, é «Nabî» - e «Nabî» é
palavra aparentada com «naipe». Os «epoptai», Videntes, ou Iniciados,
se nominavam «Nebim», que vem de Nebo, o deus da Sabedoria na augusta
Babilónia. Se a Bíblia Sagrada, por os livros de Moisés, condena os
adivinhos, os feiticeiros, e a necromancia, a visão do mundo astral, e
a profecia, são dons que o mundo Hebraico reputava do Céu. Os Poetas,
então, eram fonte eminente, eles eram Sábios, advogados, e
consellheiros dos Reis. Todos os teólogos, na Antiguidade, eram
Poetas, por isso ouçamos, na Ágora, ouçamos, agora, o Heidegger
ilustre: «O pensador diz o Ser. O Poeta nomeia o Sagrado». Ora o verbo
derivado desta palavra, «Nabî», significa, ou tipifica, o «delirar» e
a louquice. Nós diríamos, hoje em dia, o delirar ao som da Lira. Pra
sublinhar a alteridade, quero eu dizer, a origem, divina, da sua
mensagem, assim proferem os Profetas: «Assim fala Iahweh», «Palavra de
Iahweh», «Oráculo de Iahweh». Parafraseava, livremente, o fautor e
promotor de «A Gaia Ciência»: assim falava «O Anticristo», «Assim
falava Zaratustra».
É altura, meu legente, é altura de findar. Poucos anos depós de os
«Estudos Sobre a Histeria», esse livro liminar, publicita, Sigmund
Freud, «A Interpretação dos Sonhos», em linguajar psicanalista «O
Livro dos Sonhos». E em firme Firmamento, é tempo de afirmar: devido à
transferência, Charcot foi para Freud o mesmo que haveria de ser, o
Autor da Psicanálise, para Carl Gustav Jung, ou para o Carl Gustav
«Young». E até 1893, tinha, o Doutor de Viena, ao seu dispor, a
Catarse de Josef Breuer, a Hipnose de Charcot, e a Sugestão de
Bernheim. Todas as três, juntamente com o Psicodrama, os móbiles e
meios da Psiquiatria dinâmica. E que mais?, pergunta, sem medo, o
ledor. «Entre o fortuito e o acaso, um passo», nos diz, em síntese, o
Poeta João Belo. «Não é por acaso que nada é por acaso».
Queluz, 27/ 09/ 2013
SIC ITUR AD ASTRA
PAULO JORGE BRITO E ABREU
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