I
Escrevo, agora, num templo Católico. Se o
leitor me permite, nada melhor do que este local para escrever,
solerte e solene, sobre a Senhora minha Mãe. Que o Poeta é Sacerdote,
e a doce Maria Amélia, antes de casar, ela queria ser Freira – a isso
opôs-se, na freima, o meu avito e Avô Cardoso de Oliveira. Meu Avô,
certamente, era livre-pensador – e a tradição acatava, a tradição
respeitava a Mãe Maria Amélia. Na ignota fauna, oculta faina. Na
Agricultura Celeste. No culto e na Cultura. Oferendando, a sua Fé, aos
proscritos e precitos, ao Ágape e à Graça – e aos homens e mulheres de
boa vontade. Em sua vida profissional, ou professoral, exalço a
escola, o liceu e a Universidade, dessarte, ou universalidade. Quero
eu dizer: licenciatura, preste e pronta, em Ciências Matemáticas. A
escola, digo eu, a premente ecologia, a morada segunda do filho do
homem. Que a sonata é meu soneto. As palavras são os sons. E
Matemática é «Mathesis» da Mater e da mente. E a messe é qual a missa
e a missiva qual missão. Se tudo é número, afinal, é porque Deus
geometriza – e o Arquivo, ou Arquitecto, o Arquétipo, alfim, se revela
nos Arcanos. Hemos dito, mentado, e havemos aventado. Pois quem não
fosse bom Geómetra, ele não entrava, pronto e preste, na Academia de
Platão. Que tal como aconteceu com Pitágoras, com Pascal, com
Descartes e Bertrand Russell, Matemática é vestíbulo, é propedeuta, ao
ensino e à signa da Filosofia – e no centro e adentro da Cultura
Portuguesa, o nosso Leibniz, afinal, é o Amorim Viana.
Pra findarmos, entanto, esta nota, adormeçamos, alfim, na Esperança e
alcance da Ressurreição. Em Teosofia do «clerc»: em sinal e a
Esperança da Reencarnação. Que o Mistério é feraz e a Mística fértil –
e é mister eu adorar, e é mister eu laborar por a nova
Renascença………………………………..
II
E dizem, dessarte, os iatras da Psique: aquilo que nos acontece
durante a infância prima, isso há-de nos companhar durante a vida
toda. Falamos, por isso, de um engrama, da fala da Alma, da Gramática,
entanto, do inconsciente. Eis, por isso mesmo, minha lembrança, minha
letra, remembrança a primeira. A missiva missionária, o suporte
material do significante. Estando fora, meu Pai, pra laborar em
Monsanto, eu ficava, na casa velha e vetusta da Avenida de Roma, com
minha Mãe Maria Amélia. Que permanecia, em casa, pra me aconchegar,
acompanhar, e dar explicações aos alunos liceais. Eu ouvia, solerte, a
voz da minha Madre – e gaiato, e cheio de graça, eu gatinhava na vida.
Que o mesmo é dizer: dirigia-me, gatinhando, para a sala, donde vinha,
musical, a voz de minha Mãe. Empurrava, com o meu dedo, a porta
entreaberta – e a Mãe, mais que amigável, extremosa e amorosa: «Agora
não, meu queridíssimo; inda está, tua Mãe, no estudo e na estante.» E
ficou-me a colação, e ficou-me a lição para o resto da vida: o
silêncio, da Cultura, deve ser acatado, respeitado e rapsodo, pois que
apela, o romano, por o rimance e o remo, a romagem-romaria. Começou,
dessarte, a minha viagem: durante toda a minha vida, «amor magister
est optimus», ou melhor: aqui urge a disciplina, aqui surde a «philia»
ligada à «Sophia». Quero eu dizer: o ofício de Professor, para a minha
Mãe, era o sacro e a Poesia, era a profissão de Fé – e é divina a
edição, e é edível, edule a educação. Ou seja, se o almado é aluno na
mesa do Altar, o ser almo é albedo, o educar é conduzir e portanto o
seduzir. Conduzir, sempre e sempre, para fora das sombras de que fala
o Platão – e do sensível, ou visível, passar para o invisível. E
falando da infância, falamos da Fé. Para o Autor, promotor, da «Carta
aos Hebreus», «a Fé é a garantia das coisas que se esperam e a certeza
das que não se vêem»: assim firmava, confirmava e afirmava o Apóstolo
dos Gentios. Certamente, ao nominar-me, quis o culto a minha Mãe, quis
a Mãe, certamente, que eu evangelizasse. E se é cor o caroal, se é
carisma o «Querigma», sem Poesia, ou Teoria, nada se faz.
Que Luz, 15/ 08/ 2014
MISERANDO ATQUE ELIGENDO
PAULO JORGE BRITO E ABREU
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