Paulo Brito e Abreu.........
Escólio ao soneto «Ressurreição»
I
Escrevo, agora, num templo Católico. Se o leitor me permite, nada melhor do que este local para escrever, solerte e solene, sobre a Senhora minha Mãe. Que o Poeta é Sacerdote, e a doce Maria Amélia, antes de casar, ela queria ser Freira – a isso opôs-se, na freima, o meu avito e Avô Cardoso de Oliveira. Meu Avô, certamente, era livre-pensador – e a tradição acatava, a tradição respeitava a Mãe Maria Amélia. Na ignota fauna, oculta faina. Na Agricultura Celeste. No culto e na Cultura. Oferendando, a sua Fé, aos proscritos e precitos, ao Ágape e à Graça – e aos homens e mulheres de boa vontade. Em sua vida profissional, ou professoral, exalço a escola, o liceu e a Universidade, dessarte, ou universalidade. Quero eu dizer: licenciatura, preste e pronta, em Ciências Matemáticas. A escola, digo eu, a premente ecologia, a morada segunda do filho do homem. Que a sonata é meu soneto. As palavras são os sons. E Matemática é «Mathesis» da Mater e da mente. E a messe é qual a missa e a missiva qual missão. Se tudo é número, afinal, é porque Deus geometriza – e o Arquivo, ou Arquitecto, o Arquétipo, alfim, se revela nos Arcanos. Hemos dito, mentado, e havemos aventado. Pois quem não fosse bom Geómetra, ele não entrava, pronto e preste, na Academia de Platão. Que tal como aconteceu com Pitágoras, com Pascal, com Descartes e Bertrand Russell, Matemática é vestíbulo, é propedeuta, ao ensino e à signa da Filosofia – e no centro e adentro da Cultura Portuguesa, o nosso Leibniz, afinal, é o Amorim Viana.
Pra findarmos, entanto, esta nota, adormeçamos, alfim, na Esperança e alcance da Ressurreição. Em Teosofia do «clerc»: em sinal e a Esperança da Reencarnação. Que o Mistério é feraz e a Mística fértil – e é mister eu adorar, e é mister eu laborar por a nova Renascença………………………………..    
 
II
 
E dizem, dessarte, os iatras da Psique: aquilo que nos acontece durante a infância prima, isso há-de nos companhar durante a vida toda. Falamos, por isso, de um engrama, da fala da Alma, da Gramática, entanto, do inconsciente. Eis, por isso mesmo, minha lembrança, minha letra, remembrança a primeira. A missiva missionária, o suporte material do significante. Estando fora, meu Pai, pra laborar em Monsanto, eu ficava, na casa velha e vetusta da Avenida de Roma, com minha Mãe Maria Amélia. Que permanecia, em casa, pra me aconchegar, acompanhar, e dar explicações aos alunos liceais. Eu ouvia, solerte, a voz da minha Madre – e gaiato, e cheio de graça, eu gatinhava na vida. Que o mesmo é dizer: dirigia-me, gatinhando, para a sala, donde vinha, musical, a voz de minha Mãe. Empurrava, com o meu dedo, a porta entreaberta – e a Mãe, mais que amigável, extremosa e amorosa: «Agora não, meu queridíssimo; inda está, tua Mãe, no estudo e na estante.» E ficou-me a colação, e ficou-me a lição para o resto da vida: o silêncio, da Cultura, deve ser acatado, respeitado e rapsodo, pois que apela, o romano, por o rimance e o remo, a romagem-romaria. Começou, dessarte, a minha viagem: durante toda a minha vida, «amor magister est optimus», ou melhor: aqui urge a disciplina, aqui surde a «philia» ligada à «Sophia». Quero eu dizer: o ofício de Professor, para a minha Mãe, era o sacro e a Poesia, era a profissão de Fé – e é divina a edição, e é edível, edule a educação. Ou seja, se o almado é aluno na mesa do Altar, o ser almo é albedo, o educar é conduzir e portanto o seduzir. Conduzir, sempre e sempre, para fora das sombras de que fala o Platão – e do sensível, ou visível, passar para o invisível. E falando da infância, falamos da Fé. Para o Autor, promotor, da «Carta aos Hebreus», «a Fé é a garantia das coisas que se esperam e a certeza das que não se vêem»: assim firmava, confirmava e afirmava o Apóstolo dos Gentios. Certamente, ao nominar-me, quis o culto a minha Mãe, quis a Mãe, certamente, que eu evangelizasse. E se é cor o caroal, se é carisma o «Querigma», sem Poesia, ou Teoria, nada se faz.     
 
Que Luz, 15/ 08/ 2014
 
MISERANDO ATQUE ELIGENDO
 
PAULO JORGE BRITO E ABREU