in memoriam de Agostinho Maldonado
in memoriam de Nuno de Sampayo
«Sul-América» ruiva de minhas sensações morfinas,
Rapariga doida e prenhe em espasmos de dar à luz,
Doce a parir todos os nascidos pelo Universo todo,
Boca de jogadora precoce a subtilizar todas as questões
Que não precisam de ser subtilizadas,
Homem másculo e mascarado em mim mesmo fora de mim
A indicar-me o caminho perene,
Cortinados de veludo por sobre a minha sensação
Mais que colorida, ferida e abandonada
Num cais-dormitório à balada da meia-noite,
À balada triste da meia-noite;
Por tudo isso, Sul-América,
Sul-América raiva de minhas sensações morfinas,
Doce perene a indicar-me o caminho triste da salvação,
O caminho triste da salvação totalmente desconhecido daqueles
Que já têm a salvação por não a possuírem completamente,
Ribanceira por mim abaixo a pronunciar palavras de amor,
Tenra, tão noite, querida, mito de pitagorismo surrealista.
Por tudo isso, Sul-América.
Lisboa, 07/11/1978
PAULO JORGE BRITO E ABREU
( in «CÂNTICO JOVEM PARA A TUA REBELIÃO», 1984.
in «O LIVRE E A LAVRA», 1999. )