Paulo Brito e Abreu
Restaurante Sul-América

in memoriam de Agostinho Maldonado

in memoriam de Nuno de Sampayo

 

 

«Sul-América» ruiva de minhas sensações morfinas,

Rapariga doida e prenhe em espasmos de dar à luz,

Doce a parir todos os nascidos pelo Universo todo,

Boca de jogadora precoce a subtilizar todas as questões

Que não precisam de ser subtilizadas,

Homem másculo e mascarado em mim mesmo fora de mim

A indicar-me o caminho perene,

Cortinados de veludo por sobre a minha sensação

Mais que colorida, ferida e abandonada

Num cais-dormitório à balada da meia-noite,

À balada triste da meia-noite;

Por tudo isso, Sul-América,

Sul-América raiva de minhas sensações morfinas,

Doce perene a indicar-me o caminho triste da salvação,

O caminho triste da salvação totalmente desconhecido daqueles

Que já têm a salvação por não a possuírem completamente,

Ribanceira por mim abaixo a pronunciar palavras de amor,

Tenra, tão noite, querida, mito de pitagorismo surrealista.

Por tudo isso, Sul-América.

 

Lisboa, 07/11/1978

 

PAULO JORGE BRITO E ABREU

 

( in «CÂNTICO JOVEM PARA A TUA REBELIÃO», 1984.

in «O LIVRE E A LAVRA», 1999. )