A arte de garimpar
Tem muito que se lhe diga
Pois um tesouro encontrar
É ambição tão antiga
Que nasce mesmo na gente:
Pega tua cuia agora
E vai pelo rio fora
A recolher tua areia…
Mas sempre menos de meia
Porque mais não se consente!
Depois agita um bocado
E quando o lodo vazado
Repara se um brilhar
Nas areias vês raiar
À luz do sol tão bonita…
Nada vês? É natural!
É uma lei desta vida:
Na grossa areia afinal
Bem pode estar escondida
A desejada pepita!
Remexe mui de cautela
Toda a areia que presente
Esteja em tua gamela
Pois só homem paciente
Pode encontrar um tesouro…
E passa tranquilamente
Os grãos de areia nos dedos:
Pode surgir de repente
A brilhar entre teus medos
A tua pepita de ouro!
Se nada alfim encontrares
Não desistas dos vagares
Que puseste em tua busca:
Só devagar se rebusca
Na vida a Felicidade!
Depois, se a Morte chegar
Antes mesmo do tesouro
Na tua cuía brilhar
Não te afogues no agouro
Da tua infelicidade…
Tu teimaste no garimpo
E persististe em teimar
Ao fazer o jogo limpo
De uma pepita encontrar
Nas areias do teu rio!
Levanta pois teu olhar
E na gamela do céu
Decerto irás encontrar
A pepita que achei eu:
O quente sol do estio…
Porque repara meu filho:
O verdadeiro tesouro
Reside bem mais no brilho
Que na matéria do ouro…
Continua a garimpar!
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