Amor, que seus passos
ligeiro movia
por mil embaraços,
que um bosque tecia,
Nos ombros me acena
com brando raminho;
e logo me ordena
que siga o caminho.
Por entre a espessura
do bosque me avanço;
e atrás da ventura,
incauto, me lanço.
Já tinha calcado
os montes mais duros,
co peito rasgado
os rios escuros:
Eis que uma serpente,
a língua vibrando,
me crava o seu dente,
me deixa expirando.
Então, surpreendida
da dor que a traspassa,
minha alma ferida
aos beiços se passa.
As iras detesta
Amor. Isto vendo,
e as asas na testa
me bate, dizendo:
- Tu choras, tu gemes,
da serpe tocado,
e o braço não temes
de um númem irado?
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