O Pai das Musas,
O Pastor louro
Deu-me, Marília,
Para cantar-te
A lira de ouro.
As cordas firo;
O brando vento
Teus dotes leva
Nas brancas asas
Ao firmamento.
"O teu cabelo
"Vale um tesouro;
"Um só me adorna
"A sábia fronte
"Melhor que o louro.
"Nesses teus olhos
"Amor assiste;
"Deles faz guerra;
"Ninguém lhe foge,
"Ninguém resiste.
"Algumas vezes
"Eu o diviso
"Também oculto
"Nas lindas covas
"Que faz teu riso.
"Nesses teus peitos
"Têm os seus ninhos
"Destros Amores;
"neles se geram
"Os cupidinhos.
"Vences a Vênus,
"Quando com arte
"As armas toma,
"Porque mais prenda
"Ao fero Marte."
Eu produzia
Estas idéias,
Quando, Marília,
O som escuto
De vis cadeias.
Dou um suspiro,
Corre o meu pranto;
E, inda bebendo
Lágrimas tristes,
De novo canto:
"Sou da constância
"Um vivo exemplo:
"E vós, ó ferros,
"Honrareis inda
"De Amor o Templo".
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